Boletim diário da ONU Brasil: “Fundo de População da ONU apresenta em Brasília projeto para empregabilidade jovem” e 7 outros.
ONU Brasil Cancelar inscrição
|
|
sex, 16 de ago 18:54 (há 6 dias)
| |
|
|
| |
Posted: 16 Aug 2019 01:46 PM PDT
Jovens em espaço apoiado pelo UNFPA utilizam aplicativo que divulga informações sobre saúde sexual e reprodutiva. Foto: UNFPA Maldivas/Tatiana Almeida
O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) foi um dos convidados a participar do Seminário Nacional da Juventude, em alusão ao Dia Internacional da Juventude, na última terça-feira (13).
No encontro, o oficial de programa para juventude e HIV, Caio Oliveira, reforçou as necessidades de investir nos quase 50 milhões de jovens brasileiros entre 15 e 29 anos, e apresentou o projeto, firmado junto ao Governo do Distrito Federal (GDF), sobre educação profissionalizante, habilidades para a vida e empregabilidade dessa população no DF.
O evento foi organizado pela Secretaria Nacional de Juventude, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
O objetivo do projeto é desenvolver cursos de capacitação de curta duração e acessíveis a jovens, especialmente aqueles que não estão no mercado de trabalho e não estão estudando. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), existem atualmente no Brasil 11 milhões de jovens nessa situação.
O principal diferencial do programa desenvolvido pelo UNFPA com o GDF é conectar imediatamente jovens capacitados com possíveis vagas de emprego. O primeiro ciclo de capacitações começará em setembro.
“O projeto prevê o vínculo imediato com o mercado de trabalho e também trabalha outras habilidades para a vida. Desenhar um projeto de vida para os jovens é importante para que eles tenham outras perspectivas e sonhos”, ressaltou.
Além disso, outra estratégia do UNFPA consiste em reconhecer as empresas que contratarem os jovens que participam do programa como parceiros na implementação, com a devida certificação de que se trata de uma empresa parceira na aceleração do alcance cumpridora dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e da Agenda 2030.
O UNFPA foi convidado a participar do Seminário Nacional da Juventude, em alusão ao Dia Internacional da Juventude. Foto: UNFPA Brasil/Fabiane Guimarães
50 milhões de razões para investir
Oliveira lembrou ainda a estratégia recém-lançada pelo UNFPA “165 Milhões de Razões”, que faz um chamado para que países da América Latina e Caribe invistam nos jovens. Para isso, ele ressaltou, é preciso que sejam aproveitadas as janelas de bônus demográfico — quando um país tem mais pessoas jovens com capacidade de produzir do que idosos e crianças.
“Para isso, a educação é um multiplicador de desenvolvimento. E, para promover uma educação mais relevante, equitativa e inclusiva, é preciso que os jovens participem do processo de elaboração das políticas públicas”, afirmou. “Temos 50 milhões de jovens no Brasil, o que faz urgente o investimento. Os jovens são o presente e é uma população que merece atenção”, concluiu.
|
Posted: 16 Aug 2019 12:23 PM PDT
Ann Encontre visita o assentamento de refugiados Mulongwe, na República Democrática do Congo. Foto: ACNUR/ Georgina Goodwin
Ann Encontre é a atual representante regional da Agência da ONU para Refugiados ( ACNUR) em Kinshasa, na República Democrática do Congo. Ann fez uma corajosa mudança profissional — trocou o direito corporativo e passou a trabalhar com a proteção de refugiados. Há 23 anos, integra a equipe do ACNUR, tendo trabalhado em Serra Leoa, Chade, Sudão do Sul e Suíça.
Depois de crescer no Caribe, cercada de praias de areia branca, águas turquesa e montes verdes, Ann se mudou para Genebra, Suíça, com seu marido. Formada em Direito, com vasta experiência na área, um marido carinhoso e dois filhos, ela era uma mulher jovem com uma vida estável. Mas Ann escolheu deixar essa segurança e conforto para trabalhar em zonas de guerra ajudando pessoas forçadas a se deslocar.
O ACNUR trabalha em 134 países ajudando homens, mulheres e crianças forçadas a deixar suas casas devido a guerras e perseguições. A sede da agência está localizada em Genebra, mas a maioria de seus funcionários trabalham em campo, ajudando refugiados.
Leia, abaixo, a entrevista.
Ann Encontre (esquerda) e o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi (direita), visitam refugiados urbanos na capital congolesa, que está participando dos projetos do ACNUR. Foto: ACNUR/Georgina Goodwin
ACNUR: Por que você se tornou uma trabalhadora humanitária?
Ann Encontre: Desde criança eu sonhava ser advogada. Depois da graduação na faculdade de Direito, comecei a trabalhar com planejamento imobiliário, Direito empresarial, grandes fundações e hedge funds. Eu pensava que essa era a minha paixão — até que aceitei uma oportunidade de emprego de curto prazo com o ACNUR, quando me mudei com o meu marido para Genebra.
Fiquei impressionada com a situação dos refugiados e dos solicitantes de refúgio. As violações de direitos humanos eram absolutamente inacreditáveis. Eu acompanhava o que acontecia pelas notícias. Mas realmente me afetou ver essas violações contra centenas de milhares de pessoas que não tiveram outra escolha senão fugir para salvar suas vidas.
Em 1999, quando surgiu a primeira oportunidade de trabalhar em campo, em Serra Leoa, eu sabia que tinha que ir. Eu já tinha começado a sentir a enorme satisfação em poder ajudar as pessoas, proteger suas vidas e melhorar suas condições humanas, e eu não queria ficar parada. Eu queria perseguir isso e ver aonde me levaria.
ACNUR: Você trabalhou em muitas zonas de guerra e locais remotos. Como lidou com isso?
Ann Encontre: Realmente, trabalhei muitas vezes em áreas de risco e tinha consciência de que eu era responsável pela minha própria segurança — mas também pela segurança da minha equipe, que buscava em mim liderança e coordenação. Ao mesmo tempo, eu também era muito consciente de não levar o trabalho comigo como mais uma mala quando voltava para casa. Porque eu tinha que enfrentar situações difíceis, como ataques e mortes de refugiados, perda de colegas e outros acontecimentos traumatizantes. Eu tinha que encontrar formas de lidar com tudo isso.
Em lugares como Chade e Sudão do Sul, eu plantava flores e batatas doces. A rotina diária de cuidar das flores e garantir que elas vivessem era uma espécie de válvula de escape. Também tentei praticar esportes, frequentei regularmente a missa, fazia meu cabelo aos sábados e tinha um grupo de colegas com quem conversávamos e criávamos um espaço de troca.
ACNUR: Sua carreira com o ACNUR fez com que você passasse um tempo significativo longe de sua família. Isso tem sido um desafio?
Ann Encontre: Eu tinha dois filhos pequenos, de 7 e 9 anos, quando comecei a trabalhar em locais remotos. Estava profundamente dividida — se eu conseguiria ficar longe deles e se tudo daria certo. Também enfrentei críticas de um membro da família, que achava que eu não estava cumprindo meu dever de mãe e esposa, e que eu estava abdicando da minha responsabilidade de mãe. Mas eu estava absolutamente determinada a fazer funcionar. Para cada pausa que eu tinha, havia apenas uma direção: a minha casa.
Minha filha pediu para ir ao internato, então eu organizei todos os períodos de férias com ela. Consegui aproveitar intensamente e com qualidade o tempo que passei com meus filhos. Quando se tornaram adolescentes, foi mais difícil. Eles estavam mais interessados em estar com seus amigos e eu não podia interferir neste desejo deles.
Como profissional de ajuda humanitária feminina, vi como as mulheres são julgadas de maneira diferente quando trabalham em zonas de guerra ou em lugares onde não podem levar seus filhos. Invariavelmente, você encontra funcionários da própria organização que te perguntam: “Você está sozinha? Onde está sua família? O seu marido deixou você vir aqui sozinha? ”. Eu enfrentei essas perguntas o tempo todo sobre minhas responsabilidades como mãe.
Eu realmente tive que me esforçar para lidar com tudo isso. Minha família aceitou minhas escolhas e se adaptou à minha rotina profissional. Porque meu posto de trabalho não permitia que minha família estivesse comigo. Eu não quero estar no meu leito de morte e me arrepender por não ter seguido este caminho.
ACNUR: Você conheceu alguma pessoa deslocada que marcou você?
Ann Encontre: Eu lembro que cheguei a Serra Leoa em uma sexta-feira de manhã. A chuva tinha caído e o sol acabava de nascer. O cenário me lembrou muito o Caribe. Era tão bonito, mas, ao mesmo tempo, você podia ver os resultados da guerra com os refugiados da Libéria. Eu tive que atender pessoas que tinham sido gravemente feridas, pessoas que haviam sido mutiladas.
Mas havia uma senhora cujo nome era Jackie. Ela tinha o talento para costurar, mas também era uma mobilizadora de grupos femininos. Ela havia começado uma pequena cooperativa, onde mulheres criavam galinhas ou coelhos, outras faziam uniformes e carpintaria, enquanto outras coletavam mel de abelhas. Jackie estava ajudando as mulheres a se ajudarem e, depois de cerca de oito meses, elas passaram a manter suas famílias e seus filhos na escola. Fiquei muito ligada a ela por causa de sua motivação, sua força e sua energia, apesar de todas as adversidades.
ACNUR: Qual é a coisa mais gratificante no seu trabalho?
Ann Encontre: É ajudar as pessoas a ter uma vida melhor. Acredito que não há dinheiro que pague isto. Não há nada mais satisfatório em termos de emprego. Eu não mudaria isso por nada no mundo e eu não faria de nenhuma outra forma.
ACNUR: O que te mantém acordada à noite?
Ann Encontre: Desde setembro de 2016, trabalho na República Democrática do Congo (RDC) e a única coisa que me incomoda é a insegurança. A insegurança que pode surgir a qualquer momento e afetar populações tanto nos países vizinhos quanto na própria RDC. Eu me preocupo constantemente antes de dormir com o que vai acontecer durante a noite, particularmente em áreas de fronteira que podem fazer com que mais pessoas fujam de suas casas. Mais mães fugindo com seus filhos na calada da noite sem serem capazes de saber para onde estão indo e o que farão em seguida.
|
Posted: 16 Aug 2019 12:07 PM PDT
Amazônia. Foto: Flickr (CC) / Dams999
Onde você encontraria o maior centro de recreação do mundo e o supermercado mais natural de todos? Florestas não teriam sido sua primeira resposta, certo? Essa é a das florestas. Eles guardam segredos.
Por muito tempo, pensávamos nas árvores como seres puramente funcionais ou ornamentais, objetos no cenário. Elas decoram as ruas da cidade, nos fornecem sombras para descanso e alívio do calor do sol, nos fornecem papel e combustível, frutas e nozes. Esses benefícios são bastante óbvios.
No entanto, alguns de seus outros benefícios são quase invisíveis a olho nu. As florestas estão silenciosamente trabalhando em segundo plano, secretamente limpando nossa água, filtrando nosso ar e nos protegendo das mudanças climáticas.
Elas são anjos da guarda de mais de 1 bilhão de pessoas, fornecendo alimentos, medicamentos e combustível para aqueles que não podem ter acesso a esses recursos. Elas abrigam mais de três quartos da biodiversidade terrestre e muitas das pessoas mais pobres do mundo.
As florestas desempenham um papel fundamental em nossas vidas. Papel que nem sequer reconhecemos. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) listou sete de seus segredos mais bem guardados.
1. Supermercados – Mais do que a ocasional maçã ou laranja que arrancamos de uma árvore, as florestas são verdadeiros mercados de alimentos. Quase 50% das frutas que comemos vêm das árvores, sem mencionar as nozes e as especiarias que também obtemos dessas cestas básicas naturais.
2. Seguro de vida – Algumas comunidades dependem quase exclusivamente de florestas como fonte de alimentos. Cerca de 40% das pessoas extremamente pobres vivendo em áreas rurais — cerca de 250 milhões de pessoas — estão em áreas de floresta e savana. Para essas comunidades, florestas são um seguro contra a fome.
4. Energia – Cerca de um terço da população mundial usa madeira como fonte de energia para necessidades como cozinhar, ferver água e aquecimento. A madeira proveniente de florestas fornece cerca de 40% da energia renovável global — o mesmo que energia solar, hidrelétrica e eólica somadas. As árvores voltam a crescer, mas precisamos dar mais ênfase ao uso sustentável desses recursos para proteger nossas florestas da degradação.
5. Super heroínas – Florestas e árvores podem parecer inconspícuas, como Clark Kent, mas elas são como o super-homem de várias maneiras. Elas são nossas heroínas na luta contra a mudança climática. Elas tornam nossas cidades mais sustentáveis, resfriando naturalmente o ar e removendo poluentes. Elas protegem a nossa saúde, nos dando locais de refúgio e relaxamento. Elas combatem a degradação da terra e a perda da biodiversidade, fornecendo vida vegetal e animal em seus habitats.
6. Sumidouros de carbono – Como uma força para o bem, nossos super-heróis florestais agem como sumidouros de carbono, absorvendo o equivalente a cerca de 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono a cada ano. Como qualquer super-herói, eles têm uma falha. O desmatamento é sua “criptonita”. Quando as árvores são cortadas, elas liberam esse dióxido de carbono de volta ao ar. O desmatamento é, de fato, a segunda principal causa da mudança climática após a queima de combustíveis fósseis. É responsável por quase 20% de todas as emissões de gases de efeito estufa — mais do que todo o setor de transportes do mundo.
7. Recreação – As árvores são apaziguadoras de estresse. O turismo baseado na natureza está crescendo três vezes mais rápido do que a indústria do turismo como um todo e agora responde por aproximadamente 20% do mercado global. Estudos até ligam espaços verdes e cobertura de árvores nas cidades a níveis reduzidos de obesidade e criminalidade. Como um exemplo, a taxa de obesidade de crianças que vivem em áreas com bom acesso a espaços verdes é menor do que naquelas que têm acesso limitado ou nenhum acesso.
As florestas têm secretamente desempenhado um papel cada vez maior no nosso dia a dia. Não podemos esperar ter um mundo #FomeZero sem contar com a ajuda dos governos, das agências e dos órgãos que as protegem e ajudam a respeitá-las.
Compartilhe essas mensagens com amigos e pense sobre o papel que elas desempenham em sua vida. Florestas e árvores devem receber reconhecimento também. É hora de revelar seus segredos.
|
Posted: 16 Aug 2019 11:19 AM PDT
Centro de Porto Alegre visto do rio Guaíba. Foto: Wikimedia Commons/Ricardo André Frantz (CC)
Uma nova proposta de captação de recursos junto ao empresariado foi lançada nesta quinta-feira (15). A iniciativa, denominada Fundo Cidadania pela Educação, contará com a parceria da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil e da Prefeitura de Porto Alegre (RS). O objetivo é captar recursos para impulsionar o setor de educação na capital gaúcha.
Durante o evento de lançamento, que contou com o apoio e colaboração de empresários locais, foi reforçada a necessidade e a relevância de se investir em projetos na área de educação, sobretudo naqueles que atendam à educação na primeira infância. Nesse sentido, a credibilidade da UNESCO no Brasil é considerada fundamental para o sucesso da iniciativa.
Para a diretora e representante da UNESCO no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, é essencial que se pense em um modelo inclusivo de educação, “queremos garantir que todas as crianças e jovens possam aprender. Precisamos fazer com que todos caibam nessa ideia de qualificação da educação”, ressalta.
O fundo tem como meta arrecadar 10 milhões de reais. O valor captado será investido em obras e reformas de escolas comunitárias, além de promover a capacitação de gestores e a melhoria de equipamentos. O objetivo é reduzir a distância existente entre as escolas da periferia e as de bairros com maior poder aquisitivo.
Empresários interessados em contribuir com o projeto podem entrar em contato pelo e-mail: geducacao@unesco.org.br.
|
Posted: 16 Aug 2019 11:02 AM PDT
O Estado tem a obrigação de proteger os direitos humanos, principalmente das pessoas que estão sob sua custódia, segundo representante da ONU Direitos Humanos na América do Sul. Foto: EBC
Por Birgit Gerstenberg*
A recente chacina de presos em Altamira (PA) evidenciou uma realidade chocante de condições subumanas, caos, crime organizado, tortura e morte. É uma situação impactante, mas dificilmente surpreendente: Manaus, Pedrinhas, Boa Vista, Alcaçuz, Carandiru, a lista de tragédias em centros prisionais brasileiros é comprida. E na ausência de uma mudança radical, é provável que Altamira não seja a última delas.
O fato de que vários dos casos mais brutais de violência carcerária derivem de confrontos entre internos — relacionados a causas estruturais mais amplas e abrangentes — não dispensa o Estado de sua responsabilidade de proteger a vida e integridade das pessoas presas e, certamente, a de seus agentes penitenciários.
O Brasil conhece muito bem suas obrigações com a dignidade humana, não apenas conforme o direito internacional mas à luz de sua Constituição: o próprio Supremo Tribunal Federal reconheceu o estado de coisas inconstitucional do sistema penitenciário brasileiro (ADPF 347).
O país também recebeu inúmeras recomendações de especialistas internacionais de direitos humanos (como o relator da ONU sobre a tortura e o sub-comitê da ONU para a prevenção da tortura) sobre ações concretas para erradicar de seu sistema prisional a superlotação, a perda de controle sobre a disciplina do pessoal, o crime organizado ou a corrupção.
Mas apesar de todos os diagnósticos, o Brasil tem reagido com lentidão ou mesmo adotado medidas na contramão destas obrigações e recomendações — baseadas no direito doméstico e internacional, bem como na evidência empírica. Por exemplo, ao alterar o funcionamento do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate a Tortura, peça-chave para melhorar qualquer sistema carcerário.
Por sua vez, existe um senso comum que tende a banalizar as violações de direitos humanos contra as pessoas presas, como uma espécie de castigo pelos crimes que podem ter cometido, ou como punição adicional à privação de liberdade estabelecida pela Justiça.
Esta ideia tão frequente torna mais fácil para o Estado esquivar-se de sua responsabilidade de melhorar as condições nas prisões, não investir em alternativas à privação de liberdade ou em políticas criminais de longo prazo, ou não apostar na reabilitação e reinserção social. Ou privilegiar uma abordagem punitiva em vez de fortalecer a prevenção, com ênfase nas parcelas mais vulneráveis da população.
Mas, afinal, é como o efeito dominó, pois todas essas ações ou omissões do Estado produzem um alto custo para a sociedade. A mesma sociedade que julga aceitáveis as violações sistemáticas dos direitos humanos nas prisões, acaba sofrendo as consequências da falta de segurança, da criminalização da pobreza e da perda do potencial produtivo daqueles grupos mais discriminados e estigmatizados, como jovens e afrodescendentes.
Popular ou não, o Estado tem a obrigação de proteger os direitos humanos, principalmente das pessoas que estão sob sua custódia. Caso contrário, a sociedade toda acaba pagando o preço de um sistema prisional e criminal falido, que contribui para enfraquecer a segurança pública, a paz social, a governabilidade, o desenvolvimento e a plena vigência dos direitos humanos.
*Birgit Gerstenberg é representante da ONU Direitos Humanos, América do Sul.Artigo publicado originalmente pela edição brasileira do jornal El País, em 13 de agosto de 2019.
|
Posted: 16 Aug 2019 10:40 AM PDT
Mulheres e meninas continuam extremamente sub-representadas nas ciências exatas. Foto: ONU Mulheres Vietnã
Procurar soluções para doenças que afetam a produção de laranja no Brasil, investigar por que as estrelas param de ser produzidas em algumas galáxias e estimular a comercialização de plantas alimentícias são alguns objetivos dos trabalhos vencedores da 14ª edição do Programa “Para Mulheres na Ciência” dedicado a jovens cientistas brasileiras.
Desenvolvido pela L’Oréal Brasil em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), o programa tem o objetivo de transformar o cenário científico nacional, contribuindo para o equilíbrio de gêneros na área.
Todo ano, sete jovens pesquisadoras das áreas de Ciências da Vida, Ciências Físicas, Ciências Químicas e Matemática são contempladas com uma bolsa-auxílio de 50 mil reais, cada, para darem prosseguimento aos seus estudos.
É o caso da fisioterapeuta Aline Miranda, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que pesquisa as consequências em longo prazo do traumatismo cranioencefálico. “Minha intenção com meu trabalho é fazer com que políticas de saúde sejam revistas, aumentando o período de acompanhamento dos pacientes com trauma”, explica a pesquisadora.
Também da categoria Ciências da Vida, a biomédica Adriana Folador, da Universidade Federal do Pará (UFPA), foi reconhecida pelo programa por sua pesquisa sobre a genética da resistência a antibióticos em pacientes e no meio ambiente da Amazônia.
Já a neurocientista Josiane Budni, da Universidade do Extremo Sul Catarinense, foi escolhida pelo seu estudo sobre as relações entre a doença de Alzheimer e os distúrbios do sono. Também da região Sul, a outra contemplada é a astrofísica Marina Trevisan, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que investiga a evolução das galáxias e, em particular, como e por que elas param de produzir estrelas.
Ganhadora na categoria Matemática, Jaqueline Mesquita, da Universidade de Brasília (UnB), luta para vencer os estereótipos que cercam sua profissão e deseja incentivar jovens a buscar a carreira na área. “As meninas nunca são estimuladas a ir para as áreas exatas. Quando uma menina diz que quer estudar matemática, todo mundo acha estranho. Eu ouvi: ‘você não parece matemática, você nem usa óculos’. Na minha turma da graduação, éramos 36 alunos, mas apenas sete mulheres”, conta ela, que estuda problemas que envolvem equações diferenciais funcionais em medida e equações dinâmicas funcionais em escalas temporais.
A cada ano, o júri formado por renomados cientistas da Academia Brasileira de Ciências escolhe trabalhos com potencial de encontrar soluções para importantes questões ambientais, econômicas e de saúde, como é o caso do trabalho da química Taícia Fill, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), que procura soluções para doenças que afetam a produção de laranjas no Brasil e que acabam gerando um prejuízo de cerca de 1,5 bilhão de reais. Por fim, ainda no campo alimentício, uma pesquisa que também ganhou destaque nesta edição do programa foi a da etnobotânica Patrícia de Medeiros, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que se dedica ao uso de plantas alimentícias não convencionais (PANC) na alimentação humana.
Há 14 anos, o “Para Mulheres na Ciência” premia cientistas de diversos lugares do Brasil. Nesse período, o programa já reconheceu e incentivou cerca de 90 pesquisadoras, premiando a relevância dos seus trabalhos, com a distribuição de aproximadamente 4 milhões de reais em bolsas-auxílio.
Vencedoras do L’Oréal-UNESCO-ABC “Para Mulheres na Ciência” 2019
Ciências da Vida:
Adriana Folador Aline Miranda Josiane Budni Patrícia de Medeiros
Química:
Taícia Fill
Matemática:
Jaqueline Mesquita
Física:
Marina Trevisan
Saiba mais sobre o programa
Facebook: www.facebook.com.br/paramulheresnaciencia
Twitter: @mulhernaciencia
Site oficial: www.paramulheresnaciencia.com.br
|
Posted: 16 Aug 2019 09:22 AM PDT
Clique para exibir o slide.No Brasil, o rendimento mensal de mulheres no setor formal da economia é, em média, de 2,7 mil reais, ao passo que o dos homens é de 3,2 mil reais, apontam dados de 2017. Além disso, mulheres brancas recebem, em média, 76% do rendimento dos homens brancos, valores que são ainda menores para homens negros (68% dos homens brancos) e mulheres negras (55% dos homens brancos).
Se considerados apenas os cargos de direção no setor privado, a disparidade de rendimentos entre homens e mulheres é ainda maior: o salário de homens é, em média, 10 mil reais superior ao das mulheres em cargos de direção. Esses são alguns dos dados revelados pelo Observatório da Diversidade e da Igualdade de Oportunidades no Trabalho, lançado na quinta-feira (15) em Brasília (DF) por Ministério Público do Trabalho (MPT) e Organização Internacional do Trabalho (OIT).
A plataforma digital compila uma série de dados e informações com potencial de qualificar processos de tomada de decisão em políticas públicas. Os dados vêm de repositórios públicos e oficiais, integrantes do Sistema Estatístico Nacional, assim como de registros administrativos, que reúnem informações demográficas, econômicas, produtivas e de proteção social.
“A plataforma permite identificar desafios e oportunidades, em termos de políticas públicas, a partir de diferentes categorias de análise como gênero, raça, pessoas com deficiência, LGBTI e grupos populacionais e tradicionais específicos como ribeirinhos, extrativistas, pescadores artesanais, indígenas, quilombolas, comunidades de terreiro, e ciganos, entre outros”, disse o procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Curado Fleury.
Segundo o diretor do escritório da OIT no Brasil, Martin Hahn, “a OIT tem um longo histórico de compromisso e conquistas na luta pela igualdade no trabalho e na sociedade, causa fundamental e essencial para a promoção da justiça social no mundo”.
O observatório também mostra a cobertura do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o número de vínculos de emprego formal de trabalho de pessoas com deficiência, sugerindo, de forma concomitante, uma análise do grau de inserção sócio produtiva e de acesso a esquemas de proteção social. Considerando que são 2,5 milhões de beneficiários vis-à-vis 410 mil pessoas com vínculo formal de trabalho, os dados demonstram uma grande oportunidade de inclusão sócio produtiva dessas pessoas.
Para a coordenadora nacional da Coordenadoria Nacional de Promoção de Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho, Valdirene de Assis, o observatório “servirá para empoderar diferentes grupos com novos fluxos de informação, de modo que a rede de atores responsáveis pela promoção da diversidade e da igualdade de oportunidades no trabalho desenvolvam e participem de políticas, programas e ações guiadas por evidências e orientadas para resultados, beneficiando todos os grupos cujos direitos precisam ser protegidos e promovidos“.
“O efeito combinado com esquemas de proteção social poderia promover os direitos humanos e laborais dessas pessoas ao mesmo tempo em que impulsiona a economia e a produção”, acrescentou ela.
O observatório disponibiliza ainda dados e informações sobre populações LGBTI. Nesses casos, há um foco específico nas políticas públicas e em mecanismos de controle e participação social e, principalmente, em esquemas de proteção social desenvolvidos ao lado das participações na gestão pública e no controle social.
Grupos populacionais tradicionais e específicos
Com base nos dados do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), o observatório permite analisar a concentração e a distribuição territorial de 3,08 milhões de famílias com uma série de cortes demográficos relacionadas a Grupos Populacionais Tradicionais e Específicos (GPTEs).
Tais grupos são povos e populações étnicas (povos indígenas, quilombolas, comunidades de terreiro e ciganos), pessoas residentes do meio rural (assentados da reforma agrária e pessoas vinculadas com a agricultura familiar), populações vinculadas com o meio ambiente (ribeirinhos, extrativistas e pescadores artesanais) e famílias de pessoas afetadas por conjunturas específicas (famílias de presos, de catadores de materiais recicláveis, de pessoas em situação de rua, de afetados por grandes empreendimentos, entre outros).
O olhar sobre famílias cadastradas pelo programa Bolsa Família permite ao poder público local conhecer melhor as características sociodemográficas de seus habitantes e a lógica de inclusão social e integração ou falta de integração dessas pessoas em seus territórios, estimulando a busca de soluções sob medida para a garantia de direitos humanos e laborais de acordo com as características das localidades em que elas vivem.
É importante destacar que todas as informações do observatório podem ainda ser desagregadas por unidades federativas e para cada um dos 5.570 municípios brasileiros, e que o observatório conta com o apoio do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), da Rede Brasil do Pacto Global das Nações Unidas e da ONU Mulheres, ampliando seu escopo de influência e capacidade de fomentar processos decisórios informados no âmbito do sistema de Justiça e no setor privado.
Em breve, o observatório trará informações específicas sobre migrantes, gerações de jovens e pessoas de idade avançada, diversidade religiosa e acesso à saúde, com foco na promoção da diversidade e da igualdade de oportunidades no trabalho.
Iniciativa SmartLab de Trabalho Decente
O observatório foi concebido e desenvolvido no âmbito da iniciativa SmartLab de Trabalho Decente, uma cooperação entre MPT e a OIT, que opera por meio de um laboratório multidisciplinar de gestão do conhecimento com foco na promoção do trabalho decente no Brasil.
“Governos de todo o mundo produzem grandes quantidades de dados relevantes para políticas públicas, mas raramente esses dados se transformam em informações úteis à tomada de decisões”, disse o procurador do trabalho e coordenador da iniciativa SmartLab de Trabalho Decente, Luis Fabiano de Assis.
Os outros observatórios digitais lançados recentemente são: Segurança e Saúde no Trabalho; Trabalho Escravo e Tráfico de pessoas; Trabalho Decente nos Municípios brasileiros; Trabalho Infantil.
A iniciativa SmarlLab “surgiu para construir conhecimento relevante para políticas públicas de promoção do trabalho decente com o uso de um recurso público de baixíssimo custo: dados públicos abertos”.
Segundo Assis, a ideia da iniciativa SmartLab se funda no conceito de prática inteligente. “Por definição, uma prática inteligente (smart practice) aproveita uma oportunidade latente de gerar valor público gratuitamente ou com baixíssimo custo, de forma replicável e com recursos que em geral as organizações já possuem, no caso, dados e conhecimento a respeito de como utilizá-los”.
Para construir os observatórios, “a iniciativa SmartLab considerou fundamental o foco em dados municipais para a discussão de políticas públicas territorializadas, baseadas em evidências e com foco em resultados”, concluiu.
Clique aqui para acessar o SmartLab.
|
Posted: 16 Aug 2019 08:42 AM PDT
Mosquitos Aedes aegypti transmitem dengue, chikungunya e zika. Foto: AIEA
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) fez um alerta à complexa situação da dengue na América Latina e no Caribe, região que está enfrentando um novo período epidêmico da doença após dois anos de baixa incidência.
De acordo com a última atualização epidemiológica da OPAS, durante os primeiros sete meses de 2019, mais de 2 milhões de pessoas contraíram a doença; 723 delas morreram. O número de casos excede a quantidade registrada em 2017 e 2018, embora, até o momento, permaneça abaixo do que foi notificado entre 2015 e 2016.
“A região enfrenta um novo período epidêmico de dengue, com um aumento notável de casos”, afirmou Marcos Espinal, diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis e Determinantes Ambientais da Saúde da OPAS. O clima, a gestão ambiental e a capacidade de adaptação do mosquito são fatores que podem ter aumentado a complexidade da situação.
Outra característica da atual epidemia é que pessoas menores de 15 anos parecem estar entre as mais afetadas. Na Guatemala, elas representam 52% do total de casos de dengue grave, enquanto em Honduras, constituem 66% de todas as mortes confirmadas. Segundo Espinal, a causa pode ser vinculada ao fato de que se trata de uma população que, por sua idade, tem estado menos exposta ao vírus e, portanto, carece de imunidade.
A dengue é causada por um vírus que possui quatro sorotipos diferentes, mas que são estreitamente relacionados: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4, todos circulantes nas Américas. Quando uma pessoa se recupera da infecção, adquire imunidade vitalícia contra esse sorotipo em particular. No entanto, infecções subsequentes causadas por outros sorotipos aumentam o risco de desenvolver formas mais graves de dengue. O sorotipo 2 é um dos mais letais e que mais afeta crianças e adolescentes neste momento.
Os dez países mais atingidos pela dengue, segundo a quantidade de novos casos por cada 100.000 habitantes, são Nicarágua, Brasil, Honduras, Belize, Colômbia, El Salvador, Paraguai, Guatemala, México e Venezuela. Honduras e Nicarágua já declararam alertas epidemiológicos em nível nacional neste ano para agilizar as ações de resposta.
Eliminação de criadouros de mosquitos dentro e ao redor das casas
Dada a situação, a OPAS já chamou toda a comunidade e todos os setores da sociedade a trabalharem intensamente na eliminação de criadouros de mosquitos, particularmente os que estão dentro e ao redor de cada casa.
“A dengue é um problema de saneamento doméstico e comunitário”, disse José Luis San Martin, assessor regional da OPAS sobre dengue. “A maneira mais eficaz de combatê-la é eliminar os criadouros para evitar a reprodução do mosquito, pois sem mosquito não há transmissão da doença”, acrescentou.
San Martin pediu às comunidades que se livrem de todos os objetos em desuso que possam acumular água, como tambores, pneus velhos, latas, garrafas e vasos. Recipientes domésticos que possam armazenar água devem ser hermeticamente fechados. “A eliminação dos criadouros interrompe o ciclo de reprodução dos mosquitos, reduzindo assim sua população”, destacou.
Prioridade: salvar vidas
A OPAS também pediu que os profissionais de saúde sejam treinados para diagnosticar e manejar adequadamente os pacientes com dengue e outras arboviroses, como zika e chikungunya.
“O manejo adequado de pacientes é uma prioridade que pode salvar vidas”, disse San Martin. O assessor regional da OPAS pediu à população que evite se automedicar e, em caso de suspeita da doença, que busque o serviço de saúde em tempo oportuno.
Os sintomas mais comuns são febre alta (40°C), dor de cabeça intensa, dor atrás dos globos oculares e dores articulares e musculares. Entre os sinais de alerta de dengue que requerem atenção médica urgente, estão dor abdominal intensa, vômitos persistentes, respiração acelerada, hemorragias das mucosas, fadiga, irritabilidade e presença de sangue no vômito.
Não há tratamento específico para a dengue ou dengue grave, mas o diagnóstico oportuno, o acesso à assistência médica e o manejo adequado do paciente podem reduzir as complicações e a progressão da doença. A morte por dengue é quase sempre evitável.
|
|
|
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário