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quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Boletim diário da ONU Brasil: “Austeridade fiscal frequentemente provoca violações de direitos humanos, diz especialista” e 8 outros.

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Boletim diário da ONU Brasil: “Austeridade fiscal frequentemente provoca violações de direitos humanos, diz especialista” e 8 outros.

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Posted: 11 Sep 2019 01:22 PM PDT
Família pede ajuda nas ruas da cidade de Secunda, na província sul-africana de Mpumalanga. Foto: Jan Truter (CC, Flickr)
Família pede ajuda nas ruas da cidade de Secunda, na província sul-africana de Mpumalanga. Foto: Jan Truter (CC, Flickr)
Medidas de austeridade fiscal impostas aos países por organizações financeiras internacionais como Fundo Monetário Internacional (FMI) frequentemente provocam violações de direitos humanos, disse na terça-feira (10), em Genebra, o relator da ONU sobre dívida externa e direitos humanos.
“Embora a austeridade possa ser uma ferramenta útil contra o desperdício de recursos, é preciso lembrar que ela afeta grupos sociais distintos de maneiras diferentes, especialmente os mais vulneráveis e marginalizados”, disse o especialista sobre relatório que será apresentado à Assembleia Geral da ONU em outubro.
“Embora os Estados sejam os principais responsáveis (por respeitar ou não) os direitos humanos, organizações financeiras internacionais também podem ser responsabilizadas se forem cúmplices de políticas que possam afetar negativamente os direitos humanos”, declarou.
“Se instituições financeiras internacionais podem ser responsabilizadas pelos danos preveníveis causados por uma barragem construída com seu financiamento, por que não deveriam ser responsabilizadas por danos preveníveis causados por políticas econômicas regressivas?”, questionou.
Bohoslavsky disse que as medidas de austeridade promovidas por FMI e outras organizações financeiras internacionais não são para todos, pois não restringem o pagamento de dívidas públicas a credores locais e estrangeiros. Em vez disso, as políticas monetárias restritivas aumentam os juros de tais pagamentos. “É austeridade para os pobres, não para os credores”, insistiu.
Segundo o especialista, não é surpreendente que a combinação de desaceleração econômica e mudanças na política fiscal tenha impacto negativo em vários direitos humanos. “Infelizmente, medidas de austeridade muitas vezes resultam na redução de subsídios alimentares e cortes em serviços públicos essenciais. Elas têm um impacto negativo sobre salários e investimentos sociais como habitação, infraestrutura, saúde e educação”, explicou.
“De um ponto de vista econômico, não há evidência de que a consolidação fiscal contribua para a recuperação. Mas há evidências concretas do impacto negativo que programas de ajuste estrutural têm em crescimento econômico, desemprego, sustentabilidade da dívida e, em última instância, igualdade.”
O especialista independente defendeu, em seu relatório, existir base jurídica sólida para afirmar que o uso de políticas de austeridade durante períodos de recessão são incompatíveis com a obrigação de garantir os direitos humanos.
A lei internacional dos direitos humanos impede que países sejam forçados a pagar integralmente suas dívidas à custa do aumento de taxas de mortalidade infantil, desemprego ou desnutrição.
Bohoslavsky disse que organizações internacionais podem ser responsabilizadas por cumplicidade com reformas econômicas que violam os direitos humanos. Segundo ele, a responsabilidade jurídica por tal cumplicidade poderia levar estas instituições a serem obrigadas a cessar tais violações, emitirem garantias de não repetição e fornecer reparações.
Em março de 2019, o Conselho de Direitos Humanos votou os Princípios Orientadores das Avaliações do Impacto das Reformas Econômicas sobre os Direitos Humanos. A seção V dos Princípios aborda explicitamente o papel e as responsabilidades das instituições financeiras internacionais. “Este instrumento pode servir de guia para processos de reformas econômicas, tanto atuais quanto futuros.” disse Bohoslavsky.
 
Posted: 11 Sep 2019 12:28 PM PDT
O objetivo do GT Gesso 2030 é melhorar as condições de trabalho e consolidar uma cadeia produtiva sustentável do gesso brasileiro. Foto: OIT
O objetivo do GT Gesso 2030 é melhorar as condições de trabalho e consolidar uma cadeia produtiva sustentável do gesso brasileiro. Foto: OIT
Representantes do município de Ouricuri (PE) assinaram na quinta-feira (5) em Recife acordo com o Ministério Público do Trabalho de Pernambuco (MPT-PE) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) para desenvolver estratégias de conformidade na cadeia produtiva do gesso, incluindo a promoção do trabalho decente.
Ouricuri foi o único município a comparecer à reunião de assinatura do termo de adesão ao “Grupo de Trabalho Gesso 2030”, de uma lista de cinco municípios convidados.
Na ocasião, o secretário de Agricultura de Ouricuri, Ideval Alves, ressaltou o potencial existente no município para a exploração da gipsita (mineral utilizado na produção de gesso), por meio da atividade de mineração.
O procurador do MPT-PE e coordenador das ações do órgão no polo gesseiro, Rogério Sitônio, agradeceu a participação do secretário e o aceite ao termo da OIT, que tem caráter tripartite.
Ele mostrou ao secretário as atividades que estão sendo desenvolvidas na região. Desde 2015, o MPT-PE acompanha a situação de trabalho na localidade, por meio de inspeções, audiências públicas, assinatura de compromissos de ajustamento de conduta e o ajuizamento de demandas coletivas contra empresas, com o intuito de garantir melhorias no ambiente de trabalho no setor.
“A convocação da OIT tem um caráter promocional, não repressivo, sendo o MPT um parceiro também nesse grupo de trabalho. Ficamos felizes pela adesão do município de Ouricuri, mas lamentamos a ausência dos demais, exatamente por entendermos que as soluções para os problemas mais complexos que observamos no polo precisam do engajamento de vários agentes, entre eles o Poder Executivo local”, disse o procurador.
“Parabenizamos o município de Ouricuri pela adesão ao ‘Grupo de Trabalho Gesso 2030’, pois se trata de um importante passo para a promoção do trabalho decente na cadeia produtiva do gesso do Araripe, sendo uma atividade econômica de extrema importância para o desenvolvimento da região”, disse a coordenadora da área de princípios fundamentais do trabalho da OIT, Maria Cláudia Falcão..
Também participaram da reunião a oficial de projetos da OIT, Fernanda Carvalho, e a consultora Shamaa Dhyan.
Criado em parceria com Rede Brasil do Pacto Global e MPT, a partir de uma proposta da OIT em maio de 2019, o Grupo de Trabalho Gesso 2030 (GT Gesso 2030) tem como estratégia a promoção do trabalho decente na cadeia do gesso.
O objetivo do GT Gesso 2030 é apoiar a consolidação de um Plano de Intervenção no polo do Araripe para a melhoria das condições de trabalho e a consolidação de uma cadeia produtiva sustentável do gesso brasileiro, um setor que gera renda e emprego para milhares de pessoas.
 
Posted: 11 Sep 2019 12:01 PM PDT
Agência da ONU para as migrações (OIM) promove junto com seus parceiros a inclusão socioeconômica dos venezuelanos interiorizados no Brasil. Foto: OIM.
Agência da ONU para as Mroraimigrações (OIM) promove junto com seus parceiros a inclusão socioeconômica dos venezuelanos interiorizados no Brasil. Foto: OIM.
Nos últimos anos, mais de quatro milhões de venezuelanos deixaram seu país para viver majoritariamente em outros territórios da América Latina e Caribe. Dentre os países que mais recebem esses imigrantes, o Brasil é a quinta nação de destino. Segundo dados oficiais da Polícia Federal de maio, existem mais de 178 mil pessoas venezuelanas residindo em solo brasileiro (optantes da residência temporária ou solicitantes de refúgio).
Frente a esse fluxo de venezuelanos entrando no Brasil via Roraima, o Governo Federal estabeleceu a Operação Acolhida, com o apoio da Organização Internacional para as Migrações (OIM) – a agência da ONU para as migrações, e outras agências das Nações Unidas, assim como de organizações da sociedade civil.
A Operação atua na assistência emergencial para o acolhimento de migrantes e solicitantes de refúgio provenientes da Venezuela, promovendo apoio na documentação, abrigamento, transporte, alimentação e saúde, e na estratégia de interiorização voluntária dos venezuelanos que os leva de Roraima para diversos estados do país. Até julho de 2019, mais de 12 mil migrantes e refugiados haviam passado pelo processo.

Barreiras no mercado de trabalho

Além do apoio logístico, humanitário e de proteção, a OIM promove junto com seus parceiros a inclusão socioeconômica dos venezuelanos interiorizados, um dos maiores desafios de todo o processo.
Dados da OIM coletados em abril por meio do Monitoramento de Fluxo Migratório (DTM, na sua sigla em inglês) revelam que 56% dos venezuelanos que entram no país terminaram o ensino secundário, e 14% possuem diplomas de nível técnico ou superior.
Mesmo tendo qualificação e estando com os documentos brasileiros em dia, os venezuelanos (e outros migrantes, refugiados e solicitantes de refúgio) têm encontrado barreiras para entrar no mercado de trabalho ou empreender, como a discriminação; falta de conhecimento dos empregadores; barreira linguística e adversidades na revalidação de diplomas.
Buscando atuar em rede e construindo parcerias para superar estes desafios, a OIM procura fortalecer a relação com o setor privado, fundamental em distintos eixos temáticos. O combate à exploração laboral, a integração e intercâmbio de experiências no mercado de trabalho e os benefícios da integração dessa mão-de-obra qualificada são alguns exemplos.
Uma das iniciativas da OIM para enfrentar esse desafio é a organização de oficinas a fim de sensibilizar e estimular o setor privado para a integração laboral de migrantes. Eventos em Boa Vista, Curitiba, Florianópolis, Rio de Janeiro e São Paulo já foram realizados e outros estão programados para os próximos meses.
As oficinas abordam estratégias para a inclusão de migrantes internacionais no mercado de trabalho brasileiro, e servem para esclarecer mitos e tirar dúvidas sobre o processo de contratação e documentação, além de destacar os benefícios e a importância da diversidade para o desenvolvimento de estratégias corporativas nas áreas de recursos humanos e responsabilidade social.

Estratégias para a inclusão de refugiados e migrantes

Também são discutidas estratégias para tornar os processos seletivos mais acessíveis aos migrantes e refugiados. Essas medidas podem incluir, entre outras, o uso de descrições mais inclusivas de ofertas de emprego, que assinalem a busca não só por profissionais brasileiros como também por migrantes.
Outra ação recomendada é a divulgação de vagas junto a organizações especializadas. Desde 2019, a OIM passou a também promover informações específicas sobre a possibilidade de as empresas contratarem venezuelanos com apoio da Operação Acolhida.
“O desafio atual é identificar as diferentes maneiras como os venezuelanos podem somar aos recursos humanos das empresas, seja porque têm um diferencial de experiência de vida, cultural e domínio de outra língua, seja pela formação profissional específica que trazem consigo”, destaca o coordenador de projetos da OIM, Marcelo Torelly.
Este projeto é apoiado pelo Escritório para População, Refugiados e Migração (PRM, em inglês), do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América, assim como o Governo dos Países Baixos.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM), criada em 1951 e membro do Sistema ONU desde 2016, é o principal organismo intergovernamental para as migrações.
Comprometida com o princípio de que a migração segura, ordenada e digna beneficia os migrantes e as sociedades, a OIM atua com parceiros em diversas áreas da gestão migratória.
 
Posted: 11 Sep 2019 11:22 AM PDT
Brasília foi sede do 18º Encontro Nacional de Estudantes do Campo de Públicas (ENECAP) entre 5 e 8 de setembro. Foto: Superintendência de Representação do Piauí (SURPI)
Brasília foi sede do 18º Encontro Nacional de Estudantes do Campo de Públicas (ENECAP) entre 5 e 8 de setembro. Foto: Superintendência de Representação do Piauí (SURPI)
O 18º Encontro Nacional de Estudantes do Campo de Públicas (ENECAP) reuniu na Universidade de Brasília (UnB) na semana passada (de 5 a 8) centenas de estudantes, pesquisadores e profissionais de políticas públicas do Brasil e de alguns países da América Latina.
Foi a primeira vez que a capital federal sediou o ENECAP, maior evento da área e que engloba os cursos de Administração Pública, Gestão de Políticas Públicas e Ciências do Estado.
Desde 2002, o encontro destaca-se por reunir estudantes, professores, pesquisadores e profissionais comprometidos com a construção de um setor público cada vez mais profissionalizado, eficiente, efetivo e democrático.
A proposta do ENECAP — que reúne desde 2002 estudantes e profissionais interessados em construir um setor público mais profissionalizado, eficiente, efetivo e democrático — é criar novos espaços de troca de conhecimentos, nos quais os atores discutam ideias e propostas para um setor público mais eficiente.
O evento está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente ao ODS 16 – Paz, Justiça e Instituições Eficazes, que trata, entre outros aspectos, do fortalecimento do Estado de Direito e da governança nacionais.
“O PNUD acha importante acompanhar o debate e contribuir nas discussões sobre administração pública, especialmente de jovens estudantes que, um dia, poderão assumir papéis-chave na condução das políticas públicas do país”, disse o coordenador de comunicação do PNUD, Luciano Milhomem, presente no debate “Mídia e Política”.
“É necessário que jovens pensem a administração pública numa perspectiva nacional, levando em conta as especificidades regionais”, afirmou a oficial do PNUD Moema Freire, que participou da mesa debates “Segurança Pública e Políticas Penais”.
Para o coordenador geral do ENECAP, Matheus Assis, o PNUD é ator fundamental no apoio à implementação de políticas públicas e, por isso, sua participação no ENECAP contribuiu para fortalecer a proposta do evento e trazer mais credibilidade ao debate.
“O trabalho e as ações do PNUD demonstram um propósito parecido com o nosso, que é servir a população da melhor forma possível, melhorar a vida das pessoas e reduzir as desigualdades sociais”, afirmou.
Neste ano, o tema do evento foi “Arenas Públicas: Conexões e Espaços em Disputa”, que abordou a compreensão de um espaço onde vários pontos de vista são expressos na tentativa de solução para determinado problema, com a ideia de trazer os congressistas para o debate e mostrar à capital federal a alta qualidade dos estudantes e profissionais da área.
A programação foi construída com base em quatro eixos principais – Cidade, Política, Campo de Públicas, Conexões e Espaços em Disputa – e em espaços de apresentações artísticas.
 
Posted: 11 Sep 2019 10:27 AM PDT
Vista aérea da cidade de Manaus (AM). Foto: Wikimedia Commons/Portal da Copa (CC)
Vista aérea da cidade de Manaus (AM). Foto: Wikimedia Commons/Portal da Copa (CC)
Representante do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-HABITAT) participou no início de junho em Manaus (AM) de encontro que reuniu prefeitos e especialistas para discutir novas visões de desenvolvimento e proteção da região amazônica no Brasil.
O evento foi coorganizado por ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade, Fundação Konrad Adenauer e Frente Nacional de Prefeitos (FNP). O primeiro Fórum de Cidades Amazônicas teve como objetivo promover a troca de experiências entre cidades amazônicas e fortalecer conexões com instituições e iniciativas relevantes.
O fórum discutiu temas como coordenação territorial e de liderança para enfrentar desafios atuais e de longo prazo específicos dos assentamentos humanos da Amazônia. Os participantes manifestaram necessidade de ampliar e consolidar a interação entre municípios da Amazônia e pediram apoio de parceiros internacionais.
O oficial sênior do ONU-HABITAT na América Latina, Alain Grimard, ressaltou que governos locais, regionais e nacionais devem trabalhar juntos para uma visão comum da Amazônia urbana.
“Frequentemente, esta região é vista somente como um ecossistema natural. É preciso reconhecer que a Amazônia abriga centenas de municípios. Existem mais de 30 cidades com mais de 100 mil habitantes na Amazônia”, disse Grimard. “Todos os líderes e tomadores de decisão devem reconhecer esse fato e entender que as cidades são parte da solução dos desafios da Amazônia.”
O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, disse que “a Amazônia é um ambiente natural e humano de enorme riqueza, que deve ser protegido e visto como um modelo para a relação harmônica entre diferentes povos com base no respeito à diversidade”.
O evento foi encerrado com a adoção de um manifesto, assinado por todas as cidades presentes, sobre os caminhos para o desenvolvimento sustentável na região amazônica, a fim de orientar o tema durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2019 (COP25), que ocorre em dezembro, no Chile.
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Posted: 11 Sep 2019 10:18 AM PDT
Adolescentes em uma aula no ‘Diamond Adolescent Club’, cabana de bambu que funciona como escola em Cox's Bazar, Bangladesh. Foto: ACNUR | Iffath Yeasmine.
Adolescentes em uma aula no ‘Diamond Adolescent Club’, cabana de bambu que funciona como escola em Cox’s Bazar, Bangladesh. Foto: ACNUR | Iffath Yeasmine.
Em Cox’s Bazar, assentamento para refugiados mais populoso do mundo localizado em Bangladesh, crianças e jovens da etnia Rohingya desafiam obstáculos para estudar.
Shehana, uma adolescente de 16 anos cuja família fugiu da violência em Mianmar e chegou ao assentamento de Kutupalong há dois anos, se considera com sorte. Ela estuda em um dos poucos centros comunitários que oferecem oportunidades de aprendizado para crianças acima de 15 anos, administrado por um parceiro local da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

O sonho de estudar

Elas não têm mesas ou cadeiras. Mas em uma sala feita de bambu e decorada com pôsteres e pinturas, 30 jovens mulheres rohingya com 15 anos ou mais estão sentadas no chão, inclinadas para a frente e escrevendo intensamente em seus cadernos, enquanto uma fórmula matemática é colocada na lousa.
Estas são algumas das sortudas. Poucas meninas conseguem continuar seus estudos quando chegam à adolescência. Em todo caso, há apenas um pequeno número de centros de aprendizagem temporário nos amplos assentamentos de refugiados no sudeste de Bangladesh que oferecem oportunidades de aprendizado para crianças acima de 15 anos.
Segundo o ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, cerca de 55% dos refugiados Rohingya nos assentamentos têm menos de 18 anos. Todos são impedidos de seguir o currículo nacional de Bangladesh.
Shehana, uma jovem brilhante, mas tímida, de 16 anos, sabe que está melhor do que muitos, mas ainda deseja ser admitida na educação formal. Ela é uma das meninas que estuda na cabana de bambu, conhecida como ‘Diamond Adolescent Club’, criada pelo Centro de Desenvolvimento Comunitário (CODEC), parceiro do ACNUR há quase dois anos em Cox’s Bazar.
“Lá em Mianmar, eu estava na sexta série. Eu queria ser professora e poder ir para a faculdade. Eu amo ensinar e estou feliz por estar aqui”, declarou Shehana.
“Aprendemos coisas novas quase todos os dias. Acho que tenho sorte, mas tento dizer aos outros por que a educação é importante e convencê-los a deixar as meninas estudarem”, comentou a jovem. Segundo ela, a educação “pode ajudar com melhores oportunidades no futuro. Alguns de nossos parentes me ouviram e agora mandam suas filhas para a escola”, acrescentou.

Educação como prioridade

Shehana vem de uma família onde a educação sempre foi muito valorizada. Seu irmão, Mohammed Sharif, 17 anos, estuda à tarde com outros meninos no mesmo local, enquanto uma de suas irmãs mais velhas, Jannat Ara, 21 anos, ensina crianças de quatro a cinco anos em um centro de aprendizagem domiciliar, levando consigo sua própria filha de cinco anos.
Logo fica claro de onde vem essa paixão pela educação. O pai de Shehana, Nur Alam, 43 anos, é ex-professor de uma escola de cerca de 450 alunos em Maungdaw, no estado de Rakhine, em Mianmar.
Quando a família fugiu da violência em Mianmar há dois anos e chegou ao assentamento de refugiados de Kutupalong, Nur Alam se ofereceu para ensinar jovens em uma mesquita montada no assentamento. Ele mostra uma foto de seus ex-alunos – um grupo de meninos e meninas – em sua antiga escola.
“Sinto vontade de chorar quando vejo isso”, comentou Nur. “Sinto muita falta dos meus alunos. Muitos deles que concluíram o sexto ano estão aqui no acampamento”, conta.
Estes jovens que um dia já foram alunos de Nur em Mianmar trabalham hoje nos assentamentos para refugiados em Bangladesh como voluntários, atuando em diferentes organizações. “Quando me vêem, me cumprimentam. Eles me dizem que, porque ouviram e aprenderam, puderam obter essas oportunidades e agora estão melhores”, declarou.
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Refugiados Rohingya sofrem dificuldades para acessar a educação

Os centros de aprendizado temporário nos assentamentos de refugiados, que atendem jovens de 6 a 14 anos, operam três turnos por dia e oferecem aos alunos apenas algumas horas de aulas de birmanês, inglês, matemática e habilidades para a vida. Mas eles estão muito longe de serem escolas adequadas.
Existem planos aprovados pelo governo de Bangladesh para introduzir programas de aprendizagem informal em todos os locais de assentamento para refugiados a partir de agosto de 2019, com o objetivo de oferecer aos refugiados um padrão de aprendizagem comparável ao que outras crianças alcançariam por meio de um currículo formal.
Apesar disso, ainda não existe um sistema de qualificações reconhecidas para refugiados. Também não há educação adequada para os alunos com mais de 14 anos, mesmo tendo sua escolaridade encurtada por precisarem fugir da violência.
A escassez de professores qualificados é outro problema, apesar dos esforços conjuntos do ACNUR, agências irmãs e parceiros para aumentar a formação de professores.
Como resultado deste cenário desastroso, no qual centenas de milhares de crianças rohingya em Bangladesh têm sido impedidas de seguir o currículo nacional do país, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4, “Garantir educação de qualidade inclusiva e equitativa e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos”, tem sido deixado para trás.
“O sistema educacional dos assentamentos não está realmente focado em uma educação adequada, mas mais em manter as crianças ocupadas e seguras”, lamentou o pai de Shehana, Nur Alam.

Relatório anual de educação do ACNUR

Esta história é apresentada no relatório educacional de 2019 do ACNUR ‘Stepping Up: Educação para Refugiados em Crise’. O documento comprova que, à medida que as crianças refugiadas ficam mais velhas, as barreiras que as impedem de acessar a educação se tornam mais difíceis de superar: apenas 63% das crianças refugiadas frequentam a escola primária, um número baixo em comparação com os 91% das outras crianças do mundo.
No relatório consta ainda que, globalmente, 84% dos adolescentes recebem educação secundária, enquanto que apenas 24% dos refugiados têm essa oportunidade. Dos 7,1 milhões de crianças refugiadas em idade escolar, 3,7 milhões – mais da metade – não vão à escola.
“Stepping Up: Educação para Refugiados em Crise” é o quarto relatório de educação produzido anualmente pelo ACNUR. A edição deste ano, lançada em 4 de setembro, inclui um prefácio de Filippo Grandi, Alto Comissário da ONU para Refugiados, bem como observações finais de Gordon Brown, Enviado Especial da ONU para a Educação Global, e pode ser acessado aqui (em inglês).
 
Posted: 11 Sep 2019 10:06 AM PDT
Uma cobertura jornalística responsável pode contribuir para a prevenção do suicídio, reduzindo o risco de um comportamento imitador, segundo a OMS. Foto: Esther Vargas/Flickr (CC)
Uma cobertura jornalística responsável pode contribuir para a prevenção do suicídio, reduzindo o risco de um comportamento imitador, segundo a OMS. Foto: Esther Vargas/Flickr (CC)
Jornalistas da América Latina estão redefinindo a forma de comunicar suicídios. Por muitos anos, casos de pessoas que tiram a própria vida foram abordados pela mídia como “um espetáculo” ou simplesmente deixaram de ser noticiados por medo de gerar o efeito “contágio”.
No entanto, uma cobertura jornalística responsável pode contribuir para a prevenção do suicídio, reduzindo o risco de um comportamento imitador, ajudando a modificar falsas percepções e incentivando as pessoas a procurarem ajuda, disse Claudina Cayetano, consultora regional de saúde mental da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou o documento “Prevenção do suicídio: um manual para profissionais da mídia”, em 2000, muitos jornalistas e profissionais da mídia mudaram sua maneira de relatar o assunto.
“Notamos mudanças na maneira como os jornalistas comunicam sobre suicídio, que já não é tratado com espetacularização ou como um ato heroico de amor, como Romeu e Julieta, mas como um fato da vida com causas complexas que podem ser evitadas”, explicou Claudina.
Nas Américas, há mais de 81 mil mortes por suicídio a cada ano. Os principais métodos incluem asfixia (44%), armas de fogo (31%), envenenamento por álcool e drogas (9%) e envenenamento por pesticidas e outros produtos químicos (7%).
A OPAS tem realizado treinamentos virtuais e presenciais sobre o assunto. Em 2017, mais de 130 jornalistas, comunicadores e profissionais de saúde mental de 30 países da região das Américas participaram de um workshop online. Os Ministérios da Saúde dos países da região, juntamente com os escritórios da OPAS, também organizaram encontros para promover a cobertura responsável em seus países – entre eles, Argentina e Uruguai.

Argentina: ferramentas para combater o suicídio nas notícias

Leonardo Rolón, jornalista do site Reconquista, da província de Santa Fe, participou da capacitação “O tratamento do suicídio na notícia: recursos para jornalistas”, oferecido pelo governo da província e pela OPAS/OMS em agosto do ano passado.
Durante a capacitação, realizada à véspera do Dia Mundial da Prevenção do Suicídio (10 de setembro), Rolón e outros participantes analisaram a situação do suicídio em níveis regional e nacional, a importância desse tema no âmbito da saúde pública, o papel fundamental da comunicação e recomendações para relatos de suicídio, com comunicadores como parceiros-chave na prevenção.
“Após o workshop, três suicídios ocorreram na área em apenas uma semana. Decidimos mudar nossa cobertura. Incluímos alertas sobre prevenção de suicídio para ilustrar as matérias e mudamos o foco para torná-lo um problema de saúde pública em vez de notícias de polícia”, explicou o jornalista. É importante observar que essa mudança de foco não afetou o interesse dos leitores. “Tivemos o mesmo número de visitas e consumo de informação”, enfatizou Rolón.
“O treinamento proporcionou uma oportunidade de refletir sobre como abordar esse assunto. E, como jornalistas, começamos a nos considerar atores-chave em certas questões de saúde pública. Em nossa profissão, estamos acostumados a ser ‘pau para toda obra’. Temos que improvisar e, se não tivermos as informações corretas, podemos cometer erros. Precisamos estar cientes do alcance que temos quando escrevemos ou falamos na mídia.”
“Mudando a perspectiva para que esse tipo de notícia tenha foco na saúde pública, podemos ajudar os leitores a pensar sobre o assunto. E se pudermos ajudar alguém, isso é duplamente gratificante “, disse Rolón, acrescentando que a capacitação apresentou ferramentas essenciais que não são ensinadas nas universidades.
Liliana Olguín, diretora de saúde mental de Santa Fe, disse que o problema do suicídio não pode ser resolvido apenas pelo setor de saúde. Em vez disso, requer coordenação multissetorial na qual a mídia também desempenha um papel importante na prevenção e conscientização do público.

Uruguai: jornalistas parceiros na promoção da saúde

Há alguns anos, o Ministério da Saúde do Uruguai notou a necessidade de oferecer aos jornalistas informações técnicas para que eles pudessem atuar como parceiros na promoção e divulgação da saúde.
“Entendemos que o trabalho dos jornalistas em todas os meios de comunicação é essencial para gerar mudanças de hábitos e comportamentos da população e, muitas vezes, vemos que isso não é feito adequadamente por falta de informação”, disse Natalia Nogués, diretora de Comunicação do Ministério da Saúde. “O fornecimento de dados e de treinamento faz parte de nossa responsabilidade”, ressaltou.
O suicídio é uma questão que deve ser abordada de forma adequada pela mídia, afirmou Nogués, que teve uma longa carreira como jornalista no Uruguai. “Por muitos anos, acreditava-se que a mídia não deveria mencionar o assunto, devido a um possível efeito contágio. No entanto, ficou provado que falar mais sobre suicídio – e de uma maneira mais responsável – ajuda a evitá-lo.”
No Uruguai, há um entendimento de que a mídia deve fazer parte da solução na prevenção do suicídio. Como resultado, com o apoio da OPAS/OMS, o Ministério da Saúde organizou um café da manhã de trabalho com jornalistas de todo o espectro da mídia no início deste ano. “Vimos que esse esforço produziu resultados claros. No dia seguinte, o assunto estava sendo tratado e discutido de maneira totalmente responsável em reportagens e programas”, explicou Nogués.

10 recomendações para noticiar suicídios na mídia:

Evitar descrever o suicídio como inexplicável e esclarecer os sinais de alerta;
Evitar glorificar ou romantizar o ato do suicídio e tentar apresentar uma história equilibrada sobre a pessoa;
Evitar incluir o método, local ou detalhes da pessoa que faleceu e limitar as informações aos fatos que o público precisa saber;
Evitar retratar o suicídio como uma resposta aceitável às adversidades da vida;
Evitar títulos sensacionalistas;
Evitar gráficos e fotografias prejudiciais;
Evitar o uso de linguagem estigmatizante;
Não compartilhar o conteúdo de cartas suicidas;
Evitar citar a polícia ou as primeiras pessoas que presenciaram o ato;
Apresentar recursos sempre que possível, como o telefone de linhas de ajuda.
 
Posted: 11 Sep 2019 08:50 AM PDT
Clique para exibir o slide.A água é um recurso fundamental para a vida no planeta. Porém, o acesso à água potável ainda não é uma realidade para mais de um quarto da população mundial. Mais de 60% das zonas úmidas naturais foram perdidas para a atividade humana no último século.
Em várias regiões do mundo, há cada vez mais insegurança hídrica por conta das mudanças climáticas. Além da escassez, estima-se que 1,8 bilhão de pessoas em todo o mundo bebam água imprópria para o consumo humano, o que tem impacto direto na saúde.
Em 2010, a Assembleia Geral das Nações Unidas reconheceu o direito à água e ao saneamento como um direito humano. Em 2015, os Estados-membros da ONU adotaram um novo plano de ação para o desenvolvimento sustentável, a Agenda 2030, que estabeleceu entre seus objetivos o de assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos e todas (ODS 6).
Diante disso, Anna Luisa Santos, uma jovem brasileira apaixonada por ciência, decidiu agir. Aos 15 anos, inscreveu-se no Prêmio Jovem Cientista com a proposta de solucionar o problema de escassez de água potável na região onde morava, o Semiárido nordestino. Ela não venceu, mas continuou aperfeiçoando sua ideia.
Em 2018, ela participou do Camp de Ecoinovação, promovido por ONU Meio Ambiente, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e plataforma Green Nation, durante o Fórum Mundial da Água, no ano passado, e venceu na categoria “ideias”. No mesmo ano, com apoio do Instituto TIM, lançou os primeiros modelos do Aqualuz, uma tecnologia que purifica a água por meio de radiação ultravioleta.
O dispositivo é acoplado às cisternas (reservatórios de coleta de chuva comumente utilizados no Semiárido brasileiro) e elimina 99,9% das bactérias, sem usar nenhum produto químico tóxico. Além de uma vida útil de 20 anos, a manutenção é simples e o custo é de três centavos a cada 10 litros de água tratada. O Aqualuz já está presente em 53 residências, em cinco dos nove estados do Semiárido brasileiro.
Anna Luisa Santos é uma das finalistas do prêmio Jovens Campeões da Terra e conversou com a ONU Meio Ambiente sobre sua empresa Safe Drink for All/Aqualuz e sobre o tema da segurança hídrica para as próximas gerações.
O Prêmio Jovens Campeões da Terra, apoiado pela empresa alemã Covestro, é a principal iniciativa da ONU Meio Ambiente para jovens com soluções inovadoras para enfrentar os principais desafios ambientais do nosso tempo.
ONU Meio Ambiente: Quando surgiu a ideia do Aqualuz e como você conseguiu torná-la realidade?
Anna Luisa Santos: Sempre lembro de um dia na escola quando vi o cartaz para o prêmio de jovem cientista. O tema era a água e, por coincidência, aquele ano (2013) tinha sido estabelecido pela UNESCO como o Ano Internacional de Cooperação para a Água.
Como eu estava muito interessada em ciência, decidi elaborar um projeto, olhando para tecnologias sustentáveis de tratamento de água. Eu não ganhei o prêmio, mas o projeto foi tão especial que segui trabalhando nele.
Alguns anos depois, quando comecei a cursar Biotecnologia na Universidade Federal da Bahia, um dos professores me incentivou a melhorar e desenvolver a ideia. Acho que sair dos círculos científicos e começar a olhar de maneira empreendedora também criou possibilidades que permitiram tocar o projeto.
Em 2015, fundei a startup Água Potável e Segura para Todos (Safe Drink for All, em inglês). Cercada por muitos parceiros, membros de equipe e sonhando em transformar o mundo por meio da água, o projeto alavancou.
ONU Meio Ambiente: Em que ponto você decidiu redirecionar a ideia para a região do Semiárido? Como isso aconteceu?
Anna Luisa Santos: Cresci no estado da Bahia, que abriga uma grande parcela do Semiárido brasileiro, e sempre ouvi falar muito das dificuldades da vida nas regiões mais pobres — da insegurança alimentar à escassez de água.
Com o fortalecimento do projeto, ficou evidente que a tecnologia era mais adequada para aquela região. Ficamos realmente muito felizes quando vimos que a ideia poderia desempenhar um grande papel em regiões com maior vulnerabilidade hídrica.
Ao desenvolver uma tecnologia inovadora, além de pensar na eficiência técnica, devemos sempre pensar nos usuários finais, de forma a criar algo que possa integrar-se aos valores e costumes locais.
ONU Meio Ambiente: Como as premiações, os processos de aceleração e os mecanismos de apoio ajudam o Aqualuz?
Anna Luisa Santos: Eles nos ajudam muito! Por exemplo, ganhamos o Camp de Ecoinovação organizado por ONU Meio Ambiente e SEBRAE no Fórum Mundial da Água em 2018. Isso nos deu muita credibilidade e abriu portas para buscarmos financiamento e assistência. As parcerias nos permitiram implementar os primeiros projetos, receber orientações e mentorias, além de contar com uma rede com potenciais parceiros.
ONU Meio Ambiente: Como você imagina o futuro e os desafios para o projeto?
Anna Luisa Santos: Nosso objetivo no curto prazo é alcançar todos os estados do Semiárido brasileiro. Ainda faltam quatro de nove. No longo prazo, queremos que o Aqualuz esteja presente em todas as regiões semiáridas do mundo, seja na América Latina, na África ou na Ásia, atendendo todas as pessoas que demandam essa tecnologia.
Ao mesmo tempo, na Safe Drink for All, pretendemos desenvolver outras tecnologias para saneamento, gestão de resíduos e fazer análises sobre outras questões relacionadas à água.
ONU Meio Ambiente: Que conselho você daria aos jovens inspirados que querem enfrentar os desafios ambientais e sociais do nosso tempo?
Anna Luisa Santos: Do que eu aprendi, resiliência é a palavra-chave. Nesses anos de desenvolvimento da ideia, tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas brilhantes, negócios sociais empreendedores, e a diferença entre aqueles que fazem isso e aqueles que estão estagnados é a persistência.
Às vezes não é suficiente ter uma ideia interessante, você também precisará mostrar que ela é realmente viável, seja testando ou aperfeiçoando. Dificuldades sempre aparecerão, mas se você realmente acredita na ideia e tem o sonho de mudar o mundo, permaneça resiliente e esse sonho se materializará.

 
Posted: 10 Sep 2019 02:39 PM PDT
Noventa por cento do território da América Latina e do Caribe podem ser considerados rurais. Foto: Lianne Milton
Noventa por cento do território da América Latina e do Caribe podem ser considerados rurais. Foto: Lianne Milton
Como será a América Latina e o Caribe com dois graus a mais de temperatura? Quais são os novos padrões alimentares na região? Qual é a situação atual das mulheres e dos povos indígenas? Quais são as tendências de migração, recursos naturais e desenvolvimento territorial? Como a agricultura da região deve mudar para atender à demanda global por alimentos?
Essas muitas outras perguntas são abordadas pelos autores da Série 2030 Alimentos, Agricultura e Desenvolvimento Rural na América Latina e no Caribe, apresentada nesta terça-feira (10) pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pelo Instituto do Instituto de Estudos do Peru (IEP).
Trata-se de uma coleção de 33 documentos elaborados por mais de 90 especialistas, que analisaram minuciosamente os principais desafios da região e propuseram formas inovadoras de enfrentá-los.
“Pela primeira vez na História, a maior parte das inovações que afetam o mundo rural está sendo feita por atores que não estão no mundo rural e que não têm uma relação direta com ele. Estamos em um novo cenário completamente diferente de transformações tecnológicas radicais”, explicou Julio Berdegué, representante regional da FAO, durante a apresentação da série 2030.
Segundo Berdegué, um dos documentos da série destaca que 4 mil startups relacionadas ao setor agrícola são inauguradas todos os dias na China. “Como será o futuro da agricultura em um mundo dessa natureza? É hora de repensar todas as questões relacionadas ao mundo rural e à alimentação”, afirmou.

Desenvolvimento rural é chave para futuro da região

Um dos principais aspectos do mundo rural, destacado por vários autores, é a enorme riqueza das áreas rurais: de acordo com o documento “Estado e Perspectivas dos Recursos Naturais e Ecossistemas”, a região possui capital natural (terra, florestas) e recursos não renováveis ​​(petróleo, gás e minerais) que contribuem com 17% do crescimento de sua riqueza. É a segunda região global com a maior contribuição do capital natural para sua riqueza.
Noventa por cento do território da América Latina e do Caribe podem ser considerados rurais, explica o documento “Desenvolvimento Rural Sustentável”, fato impressionante que destaca imediatamente sua importância. “O setor agrícola é o principal setor exportador de bens da região”, explicou Martín Piñeiro, diretor da Comissão de Assuntos Agrícolas do Conselho Argentino de Relações Internacionais.
Trabalhar com esses territórios é fundamental porque, das 169 metas estabelecidas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), 78% têm o mundo rural como cenário, pelo menos parcialmente, e uma em cada cinco metas é exclusiva ou fundamentalmente rural, conforme explicado no documento de resumo da série “Transformação Rural: Pensando o Futuro da América Latina e do Caribe”.
“O rural na América Latina e no Caribe é de importância planetária. Alimentamos uma parte importante do planeta. O mundo rural não é apenas agricultura, mineração e florestas, mas é essencial enfrentar as mudanças climáticas e a conservação da biodiversidade”, explicou Carolina Trivelli, principal pesquisadora do IEP.

Recursos naturais e mudanças climáticas

A região possui a maior reserva de solos aráveis ​​do mundo (576 milhões de hectares, equivalente a 30% do total mundial); 30% das reservas de água renovável do planeta; 25% das florestas; 46% das florestas tropicais; e 30% da biodiversidade mundial, explicou o documento “Inovação, Agregação de Valor e Diferenciação”, que analisou as estratégias para o setor agroalimentar.
Mas todos esses recursos devem ser utilizados e tratados à luz das mudanças climáticas. Segundo a pesquisa “Situação Rural na América Latina e no Caribe”, com 2 graus de aquecimento, projeta-se que todos os países da região excedam dois graus Celsius do aumento médio da temperatura por volta de 2050.

Mudanças nos sistemas alimentares e desafios sociais

O documento que analisou os novos padrões alimentares destacou que a maior quantidade e variedade de alimentos na região permitiu reduzir com sucesso o número de populações subnutridas, passando de 62,6 milhões para 39,3 milhões entre 2000 e 2017, um declínio que excede quase quatro vezes a média mundial, segundo seus autores.
O inverso dessa mudança ocorreu na obesidade: a taxa de excesso de peso em adultos aumentou mais de 20 pontos percentuais, de 33,3% para 57,7%, entre 1975 e 2015. No mesmo período, a taxa da obesidade em adultos triplicou, passando de 7,8% para 23,6%.
O aumento da pobreza — que cresceu dois pontos percentuais após 20 anos de redução sustentada, de 46,7% para 48,6% —, aliado às mudanças climáticas, à insegurança e à violência estão impulsionando a migração na região, segundo a pesquisa “A Agenda 2030 e a Transformação dos Territórios Rurais: Um Desafio para as Instituições Latino-Americanas”.
“Os migrantes de América Latina e Caribe são estimados em 28,5 milhões de pessoas, representando 4,8% de sua população total. Desde 1970, o peso dos migrantes intra-regionais aumentou de 24% para 63% do total de migrantes na região em 2010”, explicou Fernando Soto-Baquero no documento “Migração e Desenvolvimento Rural”.
 
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