Bolsonaro promete governar 'sem distinção de origem, raça, sexo, cor ou religião'

Presidente eleito e Hamilton Mourão receberam diploma eleitoral no TSE
Jair Bolsonaro recebe diploma de presidente eleito da presidente do TSE, Rosa Weber Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Jair Bolsonaro recebe diploma de presidente eleito da presidente do TSE, Rosa Weber Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
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BRASÍLIA — Na cerimônia dediplomação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o presidente eleitoJair Bolsonaro (PSL) disse em discurso que, a partir de 1o de janeiro, será o governante de todos os brasileiros, e não só de seus eleitores. Ele ressaltou que, em sua gestão, não haverá distinção de sexo, raça ou religião. Bolsonaro também pediu o apoio de seus opositores na construção de um futuro melhor.
— Agradeço muito especialmente aos mais de 57 milhões de brasileiros que me honraram com seu voto. Aos que não me apoiaram, peço sua confiança para construirmos juntos um futuro melhor para o nosso país. A partir de 1o de janeiro, serei o presidente dos 210 milhões de brasileiros. Governarei em benefício de todos, sem distinção de origem racial, raça, sexo, cor, idade ou religião — disse Bolsonaro.
Bolsonaro e o vice-presidente eleito Hamilton Mourão receberam o diploma eleitoral, documento que atesta que o vencedor da eleição cumpriu todas as exigências necessárias para tomar posse, como, por exemplo, o julgamento das contas de campanha.
Ele também afirmou que o recado das urnas foi claro no sentido de mudança. Sem citar nomes, ele criticou antigas práticas de corrupção.
— Os desejos de mudança foram expressos de forma clara nas eleições. A população quer paz e prosperidade. Nossa gente é trabalhadora, constituída por homens e mulheres, por mães e pais que criam seus filhos com suor e dedicação. Gente que não mede esforço para obter o sustento de seus familiares. Gente que precisa de um governo que garanta condições adequadas para desenvolver seu potencial com liberdade e criatividade. A construção de uma nação mais justa e desenvolvida requer uma ruptura com práticas que, historicamente, retardaram o nosso progresso. Não mais a corrupção, não mais a violência, não mais as mentiras, não mais manipulação ideológica, não mais submissão do nosso destino a interesses alheios — declarou
Apesar de ter criticado o sistema eleitoral ao longo da campanha, o presidente eleito elogiou, no discurso, o trabalho da Justiça Eleitoral. Ele disse que esse trabalho deve ser um exemplo da união necessária no Brasil neste momento.
— Somos uma das maiores democracias do mundo. Cento e vinte milhões de brasileiros compareceram às urnas de forma pacifica e ordeira. Respondemos ao dever cívico do voto com serenidade e responsabilidade. Nós brasileiros devemos nos orgulhar dessa conquista. Em momento de profundas incertezas em varias partes do globo, somos um exemplo de que a transformação pelo voto popular é possível — declarou o presidente eleito.
Bolsonaro também ressaltou que a tecnologia propicia hoje que governantes se comuniquem com a população sem intermediários. Ao invés de dar entrevistas, o presidente eleito tem como prática fazer anúncios em redes sociais - como, por exemplo, dos integrantes escolhidos para sua equipe. Ele também afirmou que, em seu governo, a prioridade será a geração de emprego e o combate à violência.
A presidente do TSE, ministra Rosa Weber, também discursou na cerimônia. Primeiro, ela lembrou que nesta segunda-feira se comemora o Dia Mundial dos Direitos Humanos.
— Em um país de tantas desigualdades como o nosso, refletir sobre a Declaração de Direitos Humanos não é mero exercício teórico, mas uma necessidade a que todos se impõe, governantes e governados — declarou.

Defesa da democracia

Ela também criticou o pensamento único e enfatizou que a democracia deve ser palco da convivência de opostos.
— A democracia é exercício constante de diálogo e de tolerância, de respeito à diferença — declarou, completando que não se pode “abafar grupos minoritários, muito menos tolher direitos constitucionalmente conquistados”.
Também no discurso, a ministra lembrou que neste ano se comemora os 30 anos da Constituição Federal e cobrou o cumprimento da Carta na íntegra por parte do futuro presidente da República.
— Por isso, senhor presidente eleito, de inegável relevo o compromisso de que o respeito incondicional à supremacia da Constituição Federal será o norte do governo de vossa excelência — disse a ministra.
Nas redes sociais, deputadas eleitas aliadas de Bolsonaro criticaram o discurso da presidente do TSE por causa do tema e da duração.
Quando entrou no plenário do TSE, Bolsonaro foi efusivamente aplaudido pela plateia. Em retribuição, fez um sinal de continência militar para a plateia. Em seguida, a banda dos Fuzileiros Navais de Brasília executaram o Hino Nacional, que o futuro presidente acompanhou com a mão no peito.
O ministro Admar Gonzaga Neto chamou a atenção por ficar de costas ao público durante o hino . Admar voltou-se para a bandeira nacional, hasteada no plenário do tribunal. O gesto solitário logo fez o ministro ficar entre os assuntos mais comentados nas redes sociais.

Quebra de protocolo

Quando recebeu o diploma eleitoral, Bolsonaro puxou Rosa Weber para posar para as fotos com ele, em um gesto que rompeu o protocolo da cerimônia. Além de ministros do TSE, estavam presentes outros integrantes do Judiciário, parlamentares e a procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Também marcaram presença muitos militares fardados - uma cena pouco usual para o plenário da Corte.
Bolsonaro teve suas contas de campanha aprovadas com ressalvas na terça-feira da semana passada. O relator, ministro Luís Roberto Barroso, seguiu parecer da área técnica do tribunal, que apontou inconsistências na prestação de contas, mas não a ponto de comprometer a regularidade das contas e da disputa eleitoral. Bolsonaro informou ter arrecado mais de R$ 4,39 milhões, e o TSE determinou a devolução aos cofres públicos de doações irregulares no valor de R$ 8,2 mil.
No julgamento, Barroso, que foi seguido pelos demais integrantes do TSE, destacou que os valores irregulares representam apenas 0,19% do total, sendo, portanto, de pouquíssima relevância, e não havendo qualquer evidência de má-fé. O ministro ressaltou inclusive que a campanha de Bolsonaro, mais barata que a de outros candidatos, demonstrou ser possível participar das eleições “mediante mobilização da cidadania e não do capital".