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segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Bolsonaro, Netanyahu e Trump

Bolsonaro, Netanyahu e Trump

Aproximação de Bolsonaro com Israel reflete a busca por um alinhamento total à política externa dos Estados Unidos

Bolsonaro, Netanyahu e Trump
Alinhamento, no entanto, pode não ser benéfico para a economia brasileira (Foto: Montagem/Agência Câmara/Flickr)
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu desembarcou no Brasil nesta sexta-feira, 28, para uma série de encontros no país.
Na agenda de Netanyahu está previsto um almoço com o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), no Rio de Janeiro, e encontros com líderes da comunidade judaica. O primeiro-ministro israelense também estará presente na cerimônia de posse de Bolsonaro e terá encontros com o presidente de Honduras, Orlando Hernández, e o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo.
Netanyahu tem sido uma figura cortejada por Bolsonaro, que tenta aproximar o Brasil de Israel. Exemplo desse empenho foi a recente missão dada ao futuro ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, de ir a Israel buscar soluções para a seca no Nordeste, através de técnicas de dessalinização da água do mar.
A técnica anunciada, no entanto, como apontou uma reportagem do Globo, já existe no Brasil e foi lançada pelo governo federal em 2004, com tecnologia nacional chancelada pela Embrapa. Em parceria com instituições federais, estaduais e municipais, o Projeto Água Doce capta águas subterrâneas salobras e salinas, que são dessalinizadas e distribuídas a comunidades por meio de chafarizes. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente – que coordena o projeto – a tecnologia “é a mesma utilizada nas grandes usinas de dessalinização instaladas pelo mundo”. O projeto atende, atualmente, 230 mil pessoas e não tem parceria com Israel.
Tal fato indica que a parceria anunciada pelo futuro governo com Israel trata-se de apenas mais uma forma de aproximar o Brasil do país, seguindo os passos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump – considerado por Bolsonaro um exemplo a ser seguido.
Desde sua campanha presidencial, Bolsonaro defende uma política de alinhamento do Brasil aos Estados Unidos. Não à toa, muitas de suas medidas são similares às tomadas por Trump. Logo que foi eleito, Bolsonaro concedeu uma entrevista ao jornal israelense Hayomna qual anunciou a transferência da Embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, a exemplo do que fez Trump. O anúncio não foi bem recebido pela Liga Árabe, que enviou uma carta a Bolsonaro, alertando para os impactos da medida nas relações do Brasil com países árabes.
Bolsonaro também anunciou planos para retirar o Brasil do Acordo de Paris, por considerar que o acordo fere a soberania nacional ao estabelecer o corredor ecológico do Triplo A, que sai dos Andes e se estende até a Amazônia. No entanto, nenhuma das páginas do acordo cita o corredor.
Recentemente, a equipe de transição do presidente eleito divulgou um documento com orientações para os primeiros 100 dias de governo. Entre elas, está a revisão ou revogação de atos dos últimos 60 dias da gestão de Michel Temer. Assim que assumiu, Trump também dedicou seus primeiros dias de gestão a reverter políticas de seu antecessor, revogando via decreto uma série de medidas.
Em uma das propostas mais perigosas para o Brasil, Bolsonaro também pretende seguir os passos de Trump e desafiar a China. Um artigo do professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Matias Spektor, publicado na última quinta-feira, 27, no Financial Times, alerta para o risco de um embate entre Brasil e China.
Segundo o texto, Bolsonaro enxerga a oportunidade de explorar a competição entre EUA e China na América Latina e planeja usar o fato de que Pequim está expandindo sua influência na região para arrastar a América Latina para um campo de batalha diplomática global. “Em troca de inclinar o Brasil em direção aos EUA, ele [Bolsonaro] quer concessões da Casa Branca”, diz o texto.
No entanto, o artigo aponta que provocar a China pode ter sérios impactos na economia do Brasil. “A China não apenas representa o principal mercado de exportação do Brasil, mas também gera ao país um superávit comercial de US$ 20 bilhões nesta troca [comercial]. Ao antagonizar Pequim, Bolsonaro corre o risco de alienar círculos pró-China, como a influente bancada agrícola, que é crucial para manter sua coalizão de governo. Azedar as relações políticas do Brasil com a China convidaria retaliações comerciais, o que prejudicaria as taxas de emprego – e os índices de aprovação presidencial”, diz o artigo.
Recentemente, a bancada ruralista já deu indícios de preocupação em relação a uma proposta de Bolsonaro. Em entrevista ao Deutsche Welle Brasil, a futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM-MS) expressou preocupação diante das eventuais retaliações de países árabes à decisão de Bolsonaro de transferir a Embaixada brasileira em Israel.
Tereza Cristina afirmou que tal assunto preocupa porque “o Brasil é um grande exportador de carnes bovinas e de aves” para o mundo árabe. A futura ministra também falou sobre a preocupação em torno da possível indisposição com a China. Ela afirmou que a bancada ruralista pretende dialogar com o governo que está chegando, mas destacou que “uma retaliação, no caso desses mercados [China], tem efeitos diretos nas exportações”.


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