Boletim diário da ONU Brasil: “Progresso para acabar com tuberculose nas Américas deve ser acelerado, afirma OPAS” e 13 outros.
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sex, 5 de out 18:26 (Há 4 dias)
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Posted: 05 Oct 2018 01:57 PM PDT
Radiografia para diagnóstico de tuberculose. Foto: Flickr (CC)/Yale Rosen
As mortes e os novos casos de tuberculose (TB) caíram para 37,5% e 24%, respectivamente, entre 2000 e 2015 nas Américas. No entanto, o ritmo de declínio deve ser aceleradopara que a região consiga pôr fim a essa doença, segundo revela um novo relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
O documento “Tuberculose nas Américas 2018”, lançado às vésperas da primeira reunião de alto nível das Nações Unidas sobre a doença, proporciona uma avaliação atualizada da epidemia de tuberculose e os progressos realizados com respeito à sua atenção e prevenção na região.
Em 2017, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou 282 mil novos casos de TB nas Américas, 11% deles entre pessoas que vivem com HIV. Ao todo, 87% dos casos se concentram em dez países; Brasil, Peru e México informaram pouco mais da metade do número total. Estima-se que 24 mil pessoas morreram no ano passado por tuberculose na região, 6 mil delas coinfectadas com HIV.
“Acabar com a tuberculose só será possível se intensificarmos a redução de novos casos e mortes”, disse a diretora da OPAS, Carissa F. Etienne. “Precisamos ampliar o acesso ao diagnóstico e tratamento de qualidade para todos que precisam e abordar os determinantes sociais que afetam a saúde e favorecem a transmissão da doença”, observou.
Embora seja evitável e curável, a tuberculose é atualmente a doença infecciosa mais letal da região e sua persistência se deve, em grande parte, às graves desigualdades sociais e econômicas nas Américas. Desde 2015, as mortes diminuíram em média 2,5% ao ano e os novos casos caíram 1,6%; entretanto, precisam de uma velocidade de decréscimo de 12% e 8% por ano, respectivamente, para atingir as metas intermediárias para 2020 e continuar em declínio até 2030.
Acabar com a epidemia mundial de tuberculose é uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A estratégia “End TB” da OMS, adotada pela Assembleia Mundial da Saúde em 2014, tem o objetivo de reduzir em 80% as mortes por TB e a incidência da doença (número de novos casos a cada ano) em 80% até 2030, em comparação com os níveis de 2015.
Diagnóstico, tratamento e TB multirresistente
O relatório observa que mais de 50 mil pessoas na região – quase metade delas com menos de 15 anos de idade – não sabem que têm a doença e não foram tratadas. Essa lacuna de diagnóstico aumentou em 3 mil pessoas, em comparação com 2016. O teste de diagnóstico rápido, uma nova ferramenta que poderia ajudar a reduzir a diferença, foi usado em apenas 13% dos casos confirmados, um pouco acima dos 9% em 2016.
O tratamento para a tuberculose salvou milhares de vidas. No entanto, nos últimos cinco anos, 75% dos pacientes foram curados, o que está abaixo da meta estabelecida para 2030 (ao menos 90%). Para acelerar o progresso, o relatório recomenda que os países melhorem o monitoramento dos pacientes para garantir o acompanhamento do tratamento (8,6% o abandonam) e abordar as barreiras de acesso à saúde, entre outras questões.
A tuberculose multirresistente também é uma séria ameaça, com cerca de 11 mil pessoas atualmente infectadas por essa forma da doença na região. Entre aqueles que a desenvolvem, a taxa de cura é de apenas 56%.
Países do Caribe com menor incidência de TB
As Américas são a região com o menor percentual de novos casos de TB no mundo (3% do total) e a primeira região com uma oportunidade real de eliminar a doença como problema de saúde pública. Segundo o relatório, 15 países, 12 deles do Caribe, têm baixa incidência da doença (menos de 10 casos por cada 100 mil pessoas) e estão em vias de eliminação.
“Os países estão adotando medidas para combater a tuberculose, mas não podem baixar a guarda e devem redobrar os esforços, junto com a colaboração da sociedade em geral, incluindo as comunidades afetadas”, disse Marcos Espinal, diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis e Determinantes Ambientais da Saúde da OPAS.
Entre as outras recomendações do relatório para acelerar o progresso em direção à eliminação da TB, especialmente em países com maior carga de doenças, estão: promover o estudo de contatos com pessoas com TB, especialmente menores de 15 anos; aumentar a implementação de regimes de tratamento mais simples e introduzir drogas para crianças; alcançar as populações mais vulneráveis e abordar os determinantes sociais; bem como garantir que os planos sejam financiados com recursos próprios de um país, em vez de depender de fundos externos.
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Posted: 05 Oct 2018 01:43 PM PDT
Família venezuelana é transferida de praça, onde morava a céu aberto, para um abrigo. Foto: ACNUR/Reynesson Damasceno
Para levar saúde e saneamento a crianças venezuelanas em Roraima, o Fundo das Nações Unidas para a Infância ( UNICEF) firmou uma parceria com a ONG Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais Brasil (ADRA). Cooperação vai melhorar a vida de 1,2 mil meninos e meninas que vivem nos abrigos do estado, garantindo acesso a água potável.
O trabalho das instituições se dividirá em dois eixos de ação: um deles será focado nas questões pertinentes a saneamento, água e higiene, e o outro em saúde e nutrição. No primeiro, serão divulgadas informações para crianças, adolescentes, gestantes e famílias sobre instalações sanitárias adequadas e água de qualidade. As organizações também realizarão exames bacteriológicos mensais e análises físico-químicas para monitorar as fontes de água para o consumo dos estrangeiros.
“O nosso grande objetivo é garantir o acesso a água potável, de qualidade e em quantidade necessária para essa população”, explica o especialista em saúde e HIV/Aids do UNICEF, Antônio Carlos Cabral.
“Serão realizadas palestras pelas equipes da ADRA e promovidas as ações. Vamos estar próximos, conversando com os moradores. Eles vão ser fixos dentro dos abrigos para orientar sobre o uso controlado da água, saúde, manipulação de alimentos e higiene”, acrescenta o profissional da agência da ONU.
Os grupos de conscientização vão trabalhar em parceria com o Comitê de Gestão de Coordenação de Água, Higiene e Saneamento de Roraima, criado pelo UNICEF e seus parceiros no setor. Com as ações, a expectativa é resolver problemas apontados pelo organismo, como o grande desperdício de recursos hídricos e a contaminação da água em razão de maus hábitos de higiene.
A outra frente da parceria é focada na saúde e nutrição como um direito — que deve ser promovido levando em conta aspectos individuais e coletivos da população migrante. Dois enfermeiros, dois nutricionistas e quatro monitores vão atuar nos abrigos indígenas de Pintolândia, em Boa vista, e de Janokoida, em Pacaraima.
Num primeiro momento, serão priorizados os centros de residência que acolhem famílias das etnias Warao e E’ñepá, devido às suas situações de maior vulnerabilidade.
As atividades desse eixo também contemplarão as crianças não indígenas. O UNICEF planeja capacitar profissionais de saúde e nutrição e servidores municipais que trabalham em postos de saúde ao redor dos abrigos. Com isso, tanto os venezuelanos quanto os brasileiros serão beneficiados.
Outro foco da iniciativa será a detecção precoce de risco nutricional, além de atividades de monitoramento da situação alimentar e de prevenção de problemas de saúde mais graves.
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Posted: 05 Oct 2018 01:39 PM PDT
Como parte dos esforços para eliminar a transmissão do HIV de mãe para filho em todo o continente, a União Africana e a Organização das Primeiras-Damas Africanas contra HIV/AIDS (OAFLA), com o apoio do UNAIDS e parceiros, lançaram a campanha “Livres para Brilhar”. Foto: UNAIDS
Atualmente, 1,8 milhão de crianças de até 14 anos vivem com HIV em todo o mundo, e 1,7 milhão delas estão na África. Como parte dos esforços para eliminar a transmissão do HIV de mãe para filho em todo o continente, a União Africana e a Organização das Primeiras-Damas Africanas contra HIV/AIDS (OAFLA), com o apoio do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) e parceiros, lançaram a campanha “Livres para Brilhar”.
Agora a campanha está pronta para ser implementada em 42 países africanos, mas precisa urgentemente de financiamento. Para tornar o lançamento possível, a União Africana e a OAFLA realizaram um evento paralelo à 73ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas para ajudar na arrecadação dos recursos necessários.
O lançamento da campanha permitirá que membros da OAFLA se envolvam em atividades comunitárias para ajudar a reduzir o estigma e a discriminação em casa e na comunidade, conscientizar sobre a importância da adesão ao tratamento e retenção no cuidado de mulheres grávidas e mulheres que estão amamentando e promover o envolvimento masculino.
Como parte da campanha, as primeiras-damas também irão potencializar sua posição única para afetar os formuladores de políticas e agendas. O objetivo é atender melhor às necessidades das mulheres vivendo com HIV — defendendo políticas e leis que desestimulem o estigma e a discriminação com base no estado sorológico e remover taxas financeiras para mulheres grávidas e mulheres que estão amamentando, bem como outras barreiras que limitam o acesso aos serviços de saúde.
“Estamos em um estágio crítico na eliminação de novas infecções entre crianças, particularmente em áreas de emergência, especialmente na África Central e Ocidental. Agradeço ao nosso parceiro fundador, UNAIDS, por seu compromisso inabalável em acabar com a AIDS na África e em todo o mundo”, disse Adjoavi Sika Kabore, primeira-dama de Burkina Faso e presidente interina da Organização de Primeiras-damas Africanas Contra HIV/AIDS
“A AIDS ainda não acabou. Estamos na reta final, que não é fácil de percorrer. Precisamos ser fortes e assegurar que essa parceria com a Organização das Primeiras-Damas Africanas contra o HIV/AIDS vai acabar com a transmissão vertical do HIV de mãe para filho. Seus esforços serão essenciais”, disse Michel Sidibé, diretor-executivo do UNAIDS.
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Posted: 05 Oct 2018 12:30 PM PDT
Clique para exibir o slide.“Aquele que espera se desespera. Quem se desespera não alcança. Por isso, é bom esperar e não perder a esperança”, ressoa a velha canção popular.
Em situação de espera estão 467 mulheres, homens, meninas, meninos e adolescentes provenientes de Honduras, El Salvador, Guatemala e Nicarágua que aguardam há meses no estado mexicano de Veracruz a resposta do governo aos seus pedidos de refúgio.
O sul de Veracruz, principalmente os municípios de Acayucan e Oluta, tornou-se um ponto estratégico para refugiados e solicitantes de refúgio devido à proximidade com a estação migratória de Acayucan e ao escritório da Comissão de Assistência aos Refugiados (COMAR).
Como estratégia para reduzir a ansiedade provocada pelo longo tempo de espera, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), junto a governos locais e organizações da sociedade civil como “The Ret”, promovem atividades esportivas direcionadas sobretudo a meninas, meninos e adolescentes.
Por meio da prática esportiva, se promove a convivência e a integração com as comunidades de acolhimento, uma vez que as atividades são abertas a todos.
Neste sentido, o ACNUR, em conjunto com o Comitê Olímpico Internacional e o Município de Acayucan, contribuíram para melhorar as instalações elétricas do Complexo Esportivo de El Greco e inauguraram uma piscina semi-olímpica em junho de 2018.
Na piscina, são dadas aulas de natação a 400 meninas, meninos e adolescentes e aproximadamente 800 pessoas desfrutam das instalações esportivas por mês.
“The Ret” também promove treinos de futebol três vezes por semana em Oluta. Participam das atividades 100 pessoas, entre mexicanos, refugiados e solicitantes de refúgio.
O mesmo acontece duas vezes por semana em Acayucan, envolvendo cerca de 200 pessoas. Os solicitantes de refúgio, junto aos jovens mexicanos, formaram um time de futebol, que já participou de torneios locais.
Outra atividade praticada na região é o ciclismo. Em Oluta, uma corrida foi realizada no início de agosto com 35 jovens locais e solicitantes de refúgio.
A princípio, os recém-chegados não queriam participar, porque não tinham bicicletas. Mas logo a solidariedade local falou mais alto e eles tomaram veículos emprestados. De acordo com Martín Valentín, promotor de atividades do “The Ret“, os solicitantes de refúgio ficaram tão motivados que até chegaram em primeiro lugar na disputa.
Finalmente, para continuar promovendo atividades esportivas que promovem a esperança entre refugiados e solicitantes de refúgio, o ACNUR, junto com o Comitê Olímpico Internacional e o Município de Acayucan, melhorará as instalações de outro campo esportivo conhecido como La Malinche.
Serão instaladas arquibancadas e o campo será iluminado para que as pessoas possam se sentar e torcer pelos times durante os jogos de futebol. Espera-se que este projeto beneficie mais de 3 mil pessoas, incluindo mexicanos, refugiados e solicitantes de refúgio.
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Posted: 05 Oct 2018 11:45 AM PDT
Conferência do Cairo sobre População e Desenvolvimento, em 1994. Foto: ONU
Em debate durante o XXI Encontro de Estudos Populacionais, em Poços de Caldas (MG), o Fundo de População das Nações Unidas ( UNFPA) lembrou os quase 25 anos da Conferência do Cairo, encontro que estabeleceu em 1994 um marco internacional para questões de demografia, saúde sexual e reprodutiva. O organismo da ONU chamou atenção para o protagonismo do Brasil na época, que defendeu pautas progressistas na capital egípcia.
“A diplomacia brasileira e a sociedade civil foram fundamentais em 1994. É sumamente importante que esse compromisso, essa força, se redobre agora para fazer avançar essa agenda tão complexa, com ações intersetoriais e de médio e longo prazo”, afirmou o representante do UNFPA no Brasil, Jaime Nadal. O diálogo foi realizado em setembro (26).
A especialista em saúde sexual e reprodutiva, Margareth Arilha, esteve presente na Conferência do Cairo e lembrou a articulação das feministas brasileiras em 94. A analista destacou as diferenças entre aquele momento e a conjuntura atual do Brasil.
“A Conferência do Cairo ocorreu em um contexto de redemocratização e de grande força dos movimentos da sociedade civil. Agora vivemos um momento mais difícil para a promoção de direitos, que precisa nos motivar a seguir lutando para o avanço dessa agenda”, disse a ativista.
O legado da assembleia na capital egípcia foi um plano de ação com recomendações mundialmente reconhecidas sobre saúde sexual e reprodutiva, planejamento familiar e igualdade entre homens e mulheres. O marco também traz disposições sobre os direitos das crianças e jovens, dos idosos e dos povos indígenas, além de definir conceitos sobre diversidade das estruturas familiares.
Com vigência inicial de 20 anos, até 2014, a estratégia foi estendida indefinidamente pela Assembleia Geral da ONU, para continuar orientando os governos em suas políticas de saúde, população e desenvolvimento. Acesse o plano de ação clicando aqui (em inglês)
O embaixador Lindgren Alves, que compôs a delegação brasileira para a conferência, ressaltou os avanços do evento em relação a outros encontros mundiais realizados anteriormente. “Cairo reuniu consensos dos países em conferências anteriores, como a Rio 92, sobre o consenso quanto ao conceito de desenvolvimento sustentável e trouxe junto a importância dos direitos individuais como fundamentais para o desenvolvimento”, avaliou o diplomata.
Inclusão de refugiados pelo trabalho e pela arte
Como parte da programação do XXI Encontro de Estudos Populacionais, o UNFPA também participou de uma roda de conversa com pessoas migrantes e refugiadas, aproximando o debate entre acadêmicos e sociedade civil. Dois projetos que amparam estrangeiros no Brasil foram apresentados, levando para o público do evento casos bem-sucedidos de inclusão na sociedade e no mercado de trabalho.
A iniciativa Deslocamento Criativo foi concebida para mapear, aproximar e dar visibilidade à produção e à participação de refugiados que vivem na cidade de São Paulo e atuam na área da economia criativa. São sírios, angolanos, haitianos, pessoas da República Democrática do Congo, Guiné-Bissau, entre outras nacionalidades, que foram inseridos no mercado formal por meio da música, gastronomia, vestuário e artesanato.
Já a ONG África do Coração foi fundada em 2013 e formalizada em 2016. É uma organização sem fins lucrativos, que presta trabalho de assistência social e promove a integração dos refugiados e migrantes entre si e com a comunidade brasileira. Com atuação também em São Paulo, a instituição defende a valorização da imagem e da cultura dos estrangeiros.
“Na literatura, encontrei a oportunidade para partilhar minhas experiências, falar ao mundo sobre questões africanas, em especial angolana, escondidas debaixo do tapete e denunciar o nepotismo político”, contou o escritor e migrante João Canda, de Angola.
O XXI Encontro de Estudos Populacionais aconteceu entre os dias 22 e 28 de setembro. Com o tema “População, Sociedade e Políticas: desafios presentes e futuros”, o evento deu visibilidade à produção científica elaborada pela comunidade de demógrafos brasileiros, assim como por especialistas de outras áreas que tratam de temas populacionais, sobretudo no Brasil e na América Latina. A iniciativa foi promovida pela Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP).
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Posted: 05 Oct 2018 11:22 AM PDT
Clique para exibir o slide.O diretor do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), Maurizio Giuliano, participou no fim de setembro (27) de evento organizado pela Academia Brasileira de Filosofia (ABF), no Rio de Janeiro, para lembrar os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH).
Na ocasião, o diretor do UNIC Rio falou sobre defensores dos direitos humanos brasileiros que perderam a vida ao realizar seu trabalho, como a vereadora Marielle Franco. Ele também lembrou os inúmeros casos de policiais mortos por defender o direito de todos de viver em um país sem crime.
“Todos defendemos o direito à liberdade de expressão, o direito de participação política, o direito de não ser morto por isso. Sem esses direitos, um país já não seria democrático. A democracia é um direito. Sem o direito de liberdade de expressão, ninguém estaria gozando dos seus direitos humanos plenamente”, declarou Giuliano na ocasião.
“Chocam também as mortes de policiais, tão frequentes no Rio, e de civis inocentes, pegos de surpresa, exercendo seu direito de ir e vir, em meio aos conflitos armados, que já fazem parte do nosso cotidiano”, completou.
Giuliano também mencionou os militares brasileiros que serviram na missão de paz no Haiti. “Em tantos outros lugares do mundo, enquanto falo, milhares de pessoas morrem de fome, frio, guerra, doenças ou outros tipos de violência, seja política ou criminal. Ouso dizer que vivemos numa das épocas onde os direitos humanos mais são ameaçados desde a criação da Convenção, e isso é grave”, declarou.
Ele lembrou que, de forma generalizada, a desigualdade de gênero é um dos maiores desafios de direitos humanos que enfrentamos atualmente. “Seja em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, no Ocidente ou no Oriente, em maior ou menor grau as mulheres ainda são vítimas de muitos preconceitos”, disse.
“São vítimas também de violência doméstica, de assédios e abusos, de proibições (legais ou morais), são vítimas de diferenciação salarial, entre outros.”
Para o diretor do UNIC Rio, a Declaração Universal dos Direitos Humanos alavancou o poder de participação plena das mulheres na sociedade e na política; estimulou a luta contra o racismo, contra a xenofobia e contra a intolerância — incluindo o movimento anti-apartheid na África do Sul. “Ajudou outros grupos, frequentemente marginalizados, a clamarem por seus direitos, como os povos indígenas e pessoas com deficiência física ou mental”.
“Os ganhos nos lembram da essência dos direitos humanos como uma ferramenta para ajudar as sociedades a crescer. Para avançar o desenvolvimento. Evitar conflitos e garantir um mundo justo, igualitário e próspero.”
O respeito e a promoção dos direitos humanos são fundamentais para expandir os horizontes da esperança — ultrapassando as fronteiras do possível, tirando o melhor de nós mesmos e liberando o melhor das nossas sociedades, declarou.
Giuliano lembrou que não só os direitos humanos são violados física e moralmente, mas agora também politicamente. “Inclusive, em vários casos os direitos humanos foram utilizados como pretexto para intervenções armadas em outros países — as quais levaram muito mais morte e sofrimento do que as violações anteriores”, disse.
“Tanto a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio quanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos, ambos adotados pela Assembleia Geral em dezembro de 1948, enfatizam o direito à vida, mas sobretudo a uma vida digna.”
O diretor do UNIC Rio enfatizou que os direitos humanos “não tem cor política, nem pertencem a um povo mais do que a outro, sendo universais”. Segundo ele, defender os direitos humanos é trabalho de todas e todos.
Para ele, tanto no Brasil como no mundo há uma clara distorção na percepção da população sobre o que são os direitos humanos, seus objetivos e suas funções.
“Eles não são de esquerda, não são de direita, não são do norte, do sul, do ocidente ou oriente. Os direitos humanos são nossa casa e possuem valor próprio. São as linhas que guiam regras básicas para garantir a decência da vida humana. São direitos que todos nós, vocês como eu, beneficiamos”, disse.
“A percepção mais comum que existe hoje é que os direitos humanos seriam aplicáveis somente às minorias. Eu os corrijo. Eles são de vital importância para qualquer grupo em situação de fragilidade”, salientou.
O diretor do UNIC Rio afirmou que mais de uma vez foi questionado se os direitos humanos seriam somente para aqueles em conflito com a lei. Ele responde que “não” e que, dependendo do momento histórico, “todos podemos ter os nossos direitos ameaçados, podemos ser alvo de violações”.
“Assim como os judeus (foram alvo de violações) no terrível Holocausto. Como foram as mulheres em boa parte da história, sem poder votar ou ter livre arbítrio sem consentimento marital — o que ainda ocorre em algumas partes do globo. Assim como o foram (alvo de violações) os nobres durante a Revolução Francesa. Assim como o foram as populações europeias ao migrarem, por exemplo, no início do século passado para as Américas. Assim como são tantas crianças pelo mundo com o trabalho escravo infantil”, declarou.
Giuliano lembrou que inclusive o direito à propriedade privada está presente na Declaração. “Assim como temos um artigo sobre a propriedade privada, temos outros sobre lazer, liberdade religiosa, direito à cultura e à educação, direito à segurança e à justiça, e os direitos à liberdade de expressão e reunião pacífica.
“O meio ambiente ainda não era mencionado de forma especifica na Declaração, mas de forma implícita, porque sem um bom meio ambiente não podemos viver de forma digna e feliz, não podemos dar uma boa vida às nossas filhas e filhos — por isso, agora os direitos ambientais são mais e mais importantes —, porque estão ameaçados”, disse.
Segundo Giuliano, o Acordo de Paris para o clima representa uma determinação da humanidade para exercer seu direito a viver num planeta que seja habitável para os humanos. “Como disse o presidente (francês, Emmanuel) Macron, não temos um planeta B”, declarou.
“Assim como a negação dos direitos humanos é parte do problema, a promoção ativa dos direitos humanos é parte da solução. Ao promover os direitos humanos, promovemos também as histórias reais e as lições aprendidas, de direitos que foram garantidos, de portas que foram abertas e de vitórias que foram conquistadas”, declarou.
“Ruanda, Bósnia e Herzegovina, mais recentemente (a crise dos) rohingya em Mianmar, entre outras tragédias. É justamente pelo fato de eventos como estes ainda se repetirem, que precisamos fortalecer os discursos presentes em ambas as Cartas, e não enfraquecê-los.”
Na opinião do diretor do UNIC Rio, a solidariedade não é algo raro. Ele contou o caso de um refugiado do Mali que, recentemente, em Paris, salvou a vida de uma criança que quase caía da varanda de um prédio. “Isso mostra que todos podemos e deveríamos ser defensores dos direitos humanos. A solidariedade é bem mais forte que os preconceitos, que a violência, que a intolerância”, concluiu.
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Posted: 05 Oct 2018 10:51 AM PDT
Distribuição de contraceptivos e materiais de informação sobre HIV e Aids. Foto: UNFPA/UNFPA Brasil/Solange Souza
Tem início no próximo domingo (7), em São Paulo, o encontro do Movimento Latino-americano e do Caribe de Mulheres Positivas (MLCM+), que reunirá ativistas pelos direitos da população com HIV. Evento definirá um plano de trabalho para o quadriênio 2018-2022, além de discutir violência de gênero, direito à saúde sexual e reprodutiva, estigma, discriminação e desafios associados aos movimentos migratórios. Iniciativa tem a participação do Fundo de População das Nações Unidas ( UNFPA) e do Programa Conjunto da ONU sobre HIV/Aids (UNAIDS).
Esta é a primeira conferência do movimento após mais de uma década sem reuniões. Atividades vão até quarta-feira (10). O evento também vai abordar os métodos de prevenção combinada atualmente disponíveis para as mulheres com HIV.
Fundada em 1999, a articulação regional tem representação ativa em 13 nações — Colômbia, Guatemala, Paraguai, México, Venezuela, Argentina, Bolívia, Peru, Chile, Honduras, Brasil, Cuba e Panamá. As ativistas Jacqueline Côrtes, Jenice Pizão e Silvia Aloia são as representantes do Brasil.
O UNFPA apresentará os marcos globais da Agenda do Cairo, que completa 25 anos em 2019. O organismo também explicará as legislações nacionais que regem as políticas públicas de saúde sexual e reprodutiva.
Segundo o especialista do Fundo de População, Caio Oliveira, debater as políticas de direitos sexuais em um contexto latino-americano é importante para compartilhar as experiências vividas pelas mulheres nos países e identificar desafios.
“Com isso, pode ser possível desenvolver um plano regional para apoiar a resposta à epidemia de HIV/Aids referente a essa população. Nesse sentido, é fundamental o papel do MLCM+ no processo de articulação regional, aproximando os países num modelo de cooperação mútua e horizontal”, ressalta Oliveira.
O Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, também participará das atividades, assim como o Programa Estadual de IST/Aids de São Paulo. A sigla IST se refere às infecções sexualmente transmissíveis. O evento acontece no Hotel Braston.
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Posted: 05 Oct 2018 10:40 AM PDT
O Banco Mundial revisou para baixo as expectativas de crescimento econômico para a América Latina e Caribe em 2018 e 2019. Foto: Agência Brasil
O Banco Mundial revisou para baixo as expectativas de crescimento econômico para a América Latina e Caribe em 2018 e 2019. Relatório lançado nesta sexta-feira (5), em Washington D.C., calcula um crescimento de 0,6% para este ano e 1,6% para o próximo.
Para o Brasil, espera-se crescimento de 1,2% em 2018 e 2,2% em 2019. Apesar de positivos, os números mostram uma desaceleração que impacta a economia da América do Sul como um todo. O subcontinente deve ter contração de 0,1% em 2018 e crescimento de 1,2% em 2019.
Venezuela
Além do desempenho brasileiro, também preocupa a instabilidade de mercado iniciada em abril na Argentina; a situação da Venezuela; e a piora do cenário econômico internacional como um todo.
Mas há também fatores externos relativamente favoráveis à região da América Latina e Caribe, segundo o estudo. Entre eles, estão o crescimento robusto nos Estados Unidos e na China e a recuperação no preço das matérias-primas.
O relatório, lançado pelo economista-chefe do Banco Mundial para a região, ainda destaca o impacto dos desastres naturais sobre as economias locais, especialmente as do Caribe.
Furacões como o Irma, que passou por vários países caribenhos há pouco mais de um ano, são capazes de causar grandes perdas. Por isso, é importante preparar todas as economias para os próximos eventos extremos. A boa notícia é que a região está mais bem preparada do que no passado, segundo o organismo internacional.
Entre as ferramentas que ajudam a gerenciar o risco de desastres, estão os seguros climáticos. Eles podem fornecer fundos com disponibilidade imediata para recuperar o país afetado por terremotos ou furacões. Um exemplo é o Bônus Catastrófico da Aliança do Pacífico, criado contra catástrofes como terremotos, algo inconcebível até há pouco tempo.
Contudo, contra esses e outros riscos, o relatório enfatiza: a solução é fortalecer instituições e mercados para ajudar os países a se recuperarem mais rapidamente.
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Posted: 05 Oct 2018 09:32 AM PDT
Curta da ‘Unstereotype Alliance’ desconstrói estereótipos de levam atrizes e atores a interpretar apenas alguns tipos de papéis. Foto: Frame do curta ‘The problem is not seeing the problem’, da ONU Mulheres e ‘Unstereotype Alliance’
Por Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora-executiva da ONU Mulheres e subsecretária-geral das Nações Unidas*
A publicidade tem um propósito principal: vender um produto, influenciar escolhas, atrair ou construir a lealdade a uma marca. Precisamos nos acostumar mais com a ideia de que ela também pode — e deve — fazer o bem. E não existe um motivo razoável por que ela não deveria. Afinal, sabemos que os consumidores querem isso e que comerciais que usam personagens progressistas, multidimensionais, vendem mais produtos.
Com a The Female Quotient e Ipsos, fizemos uma pesquisa com 14,7 mil homens e mulheres de 16 a 64 anos de idade, em 28 países em todo o mundo — e 84% concordaram com a afirmação “Eu gosto muito quando comerciais incluem uma mensagem positiva sobre fazer o mundo melhor”. No entanto, apenas 38% dessas mesmas pessoas afirmaram que tinham visto um comercial ao longo do último ano que as fizeram se sentir inspiradas. Existe aí uma oportunidade perdida e vitalmente importante, especialmente quando se trata de fazer uma mudança positiva no modo como papéis de gênero tradicionais são retratados.
Na ONU Mulheres, questionamos por que as mensagens que vemos todos os dias, ecoadas em telas, páginas e cartazes, não mostram as mulheres como iguais aos homens, as meninas como tão capazes quanto os meninos e as pessoas em toda a sua magnífica diversidade. Sabemos que onde existe desigualdade, existe discriminação; onde existem desequilíbrios de poder, existe violência; onde existe exclusão, existe pobreza de todo tipo. E nos perguntamos se existia um legado inconsciente de agressões que se acumulam a partir de uma caracterização ignorada.
No ano passado, no Festival dos Leões de Cannes, na França, eu reuni alguns dos maiores líderes da indústria para formar a Unstereotype Alliance (Aliança para Des-estereotipar, em tradução livre para o português) e confrontar esse desafio. Os membros se comprometeram a criar conteúdo publicitário sem estereótipos, mostrando as pessoas como agentes empoderados; a deixar de objetificar as pessoas; a retratar personalidades progressistas e multidimensionais; e a fomentar uma cultura sem estereótipos por meio de práticas empresariais e no local de trabalho que promovam a igualdade de gênero.
Desde então, nosso movimento cresceu rapidamente, com 14 novos membros entrando para o time nos últimos meses. Enquanto um grupo, desenvolvemos ferramentas compartilhadas para medir tanto o conteúdo quanto as práticas das empresas, e estamos reunindo um conjunto crescente de pesquisas sobre como desconstruir estereótipos. Continuamos a crescer enquanto um fórum onde os membros colocam de lado a competição em prol da colaboração, a fim de alcançar as metas mais elevadas definidas pelas Nações Unidas — em particular, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável nº 5: alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
Nunca houve um momento melhor para mudar os estereótipos negativos que tiram desproporcionalmente oportunidades das mulheres e constroem versões confinadoras da masculinidade. Essa parceria global com publicitários nos dá o alcance para mudar a conversa, reescrever mensagens e pedir o fim da discriminação.
A Unstereotype Alliance estreou um curta em Cannes nesse ano chamado The Problem is Not Seeing the Problem (O problema é não ver o problema, em tradução livre para o português), criado por MullenLowe da IPG. Nosso ponto de partida é tornar o problema visível, aprender como os estereótipos se estabelecem e como eles variam de cultura para cultura. É complexo: nossa pesquisa Beyond Gender (Para além do gênero, em tradução livre para o português) ilustra como a discriminação baseada em gênero é composta por outras formas de discriminação, como raça, idade ou estado civil.
Por exemplo, na África do Sul, 72% das mulheres negras casadas disseram acreditar que a sociedade espera que elas sejam femininas e obedientes, em comparação à média de 58% de todas as mulheres. Como uma aliança, nós nos comprometemos a enfrentar essas formas múltiplas de discriminação e a promover uma masculinidade positiva.
Também temos as descobertas iniciais do nosso Estudo de Atitudes de Igualdade de Gênero. Essa pesquisa, a primeira do tipo, sobre normas sociais baseadas em gênero, começou em dez países, incluindo Colômbia, Índia, Japão, Filipinas, Quênia, Nigéria, Emirados Árabes Unidos, Turquia, Suécia e os Estados Unidos, com planos de levá-la a outros 40. Técnicas de pesquisa do consumidor também estão nos ajudando a entender como homens e mulheres veem questões como o acesso à educação, emprego, cuidados de saúde, participação política e liderança, assim como as dinâmicas da violência baseada em gênero.
Até o momento, os resultados mostram altas percepções de desigualdade entre mulheres e homens em todas as dimensões e países, desenvolvidos e em desenvolvimento, e uma grande lacuna na liderança e participação das mulheres. Isso está nos ajudando a expor crenças generalizadas e simplificadas demais e ver o problema com mais nuances.
Conforme continuamos a aprofundar nossa pesquisa, os parceiros da Unstereotype Alliance já estão aplicando-a para mostrar pessoas em toda a sua complexidade e para criar uma publicidade que não seja apenas livre de estereótipos, mas também seja progressista em seus retratos.
Na pesquisa conduzida pela Ipsos, 76% dos participantes concordaram que “a publicidade tem muito poder para moldar o modo como as pessoas percebem uns aos outros”. Eles estão certos. E nossos membros estão certos. Eles estão na vanguarda. Isso é uma boa linha de partida. É o que as pessoas querem. E é essencial, se quisermos criar um mundo com igualdade de gênero para essa e as gerações vindouras. Una-se a nós e construa um legado de fazer o bem consciente.
*Publicado originalmente no site Adweek, em 1º de outubro de 2018.
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Posted: 05 Oct 2018 09:16 AM PDT
Nadia Murad, ativista dos direitos dos yazidis e primeira Embaixadora para a Dignidade dos Sobreviventes de Tráfico de Pessoas do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), e Denis Mukwege, ginecologista que ajuda as vítimas de violência sexual na República Democrática do Congo (RDC), receberam o Prêmio Nobel da Paz de 2018 nesta sexta-feira (5).
A decisão de dar o prestigiado prêmio em conjunto tem o potencial de ajudar a acabar com o uso da violência sexual como arma de guerra, disse a ONU — uma causa muito importante para o trabalho da Organização.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, falando na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, disse que “na defesa das vítimas de violência sexual em conflito, eles (também) defenderam nossos valores compartilhados”.
Ele elogiou Mukwege por sua “destemida defesa de mulheres estupradas e abusadas” durante conflitos, ajudando a recuperar “corpos despedaçados” como um cirurgião experiente, mas também restaurando “a dignidade e a esperança”.
Murad, disse ele, deu voz ao “abuso indescritível” no norte do Iraque, quando os terroristas do Estado Islâmico atacaram brutalmente a minoria étnica yazidi em 2014. “Ela buscou apoio para as vítimas de tráfico de pessoas e escravidão sexual, e responsabilização dos perpetradores”.
O chefe da ONU disse que o prêmio é parte de um “crescente movimento para reconhecer a violência e a injustiça” enfrentada por mulheres e meninas, em todo o mundo.
“Dez anos atrás, o Conselho de Segurança condenou unanimemente a violência sexual como uma arma de guerra. Hoje, o Comitê do Nobel reconheceu os esforços de Nadia Murad e Denis Mukwege como ferramentas vitais para a paz”, disse Guterres.
“Ao homenagear esses defensores da dignidade humana, este prêmio também reconhece inúmeras vítimas em todo o mundo que muitas vezes foram estigmatizadas, escondidas e esquecidas. Este é o prêmio deles também. Vamos homenagear esses novos ganhadores do Prêmio Nobel por defenderem as vítimas de violência sexual em todos os lugares.”
Acolhendo o anúncio feito pela academia em Oslo, na Noruega, a porta-voz da ONU em Genebra Alessandra Vellucci explicou que erradicar a violência sexual em conflitos continua sendo uma prioridade.
“Vou lembrar que essa é uma causa muito próxima das Nações Unidas e, como você sabe, temos uma representante especial sobre violência sexual em conflito, Pramila Patten, que também está trabalhando nisso”, disse Vellucci. “Tenho certeza de que este Prêmio Nobel da Paz ajudará a promover a causa do fim da violência sexual como uma arma de conflito. Parabéns aos vencedores”.
O prêmio conjunto também foi bem recebido pelo UNODC, que nomeou Murad em 2016 como Embaixadora da Dignidade de Sobreviventes do Tráfico de Pessoas.
O diretor-executivo do UNODC, Yury Fedotov, elogiou a coragem e resistência de Murad, dizendo que ela “nos lembra que devemos sempre ouvir as pessoas que foram mais afetadas e prejudicadas pelos crimes que buscamos combater”.
Os depoimentos de sobreviventes como Murad “devem informar e fortalecer nossos esforços para alcançar a justiça”, acrescentou Fedotov.
Suas ações ajudaram a estabelecer o que Guterres descreveu como “uma investigação da ONU de vital importância”, “dos crimes angustiantes que ela e tantos outros sofreram”.
O homem que cura mulheres
Chamado pela imprensa de “o homem que cura mulheres”, Mukwege ganhou reconhecimento internacional por seu trabalho, incluindo o Prêmio da ONU no campo dos direitos humanos, em 2008, e o prêmio Sakharov, em 2014.
Mukwege, que tratou milhares de vítimas de estupro em seu hospital na República Democrática do Congo, foi selecionado para o Prêmio Nobel diversas vezes.
A decisão da Academia do Nobel de homenagear Mukwege é o reconhecimento de anos de trabalho como um dos mais proeminentes defensores dos direitos humanos na RDC.
Como cirurgião, ele é conhecido por ajudar sobreviventes de estupro no leste da RDC e foi foco do filme “The man who mends women” (O homem que cura mulheres, em tradução livre).
Ele enfrentou diretamente as consequências do conflito na região, quando pacientes e funcionários do hospital administrado por ele foram mortos por soldados.
Depois de fundar um hospital que oferecia assistência médica gratuita a vítimas de terríveis abusos sexuais e violência, Mukwege se dedicou à defesa dos direitos humanos, após perceber que muitas sobreviventes de estupro eram filhas de mulheres que tinham sido estupradas anos antes.
A alta-comissária das Nações Unidas para os direitos humanos, Michelle Bachelet, disse logo após o anúncio que era “ difícil imaginar dois vencedores mais dignos“.
“É um reconhecimento ricamente merecido desses dois ativistas extraordinariamente corajosos, persistentes e eficazes contra o flagelo da violência sexual e do uso do estupro como arma de guerra”, acrescentou.
“Nadia e Denis, tenho certeza de que falo por todos os defensores dos direitos humanos quando digo que saudamos, admiramos vocês para além das palavras. Vocês lutaram para que a dor das mulheres que sofreram abuso sexual fosse reconhecida e confrontada, e para que a dignidade delas fosse restabelecida. Precisamos que mais pessoas defendam como vocês os direitos das mulheres, a justiça, os direitos das minorias, os direitos de todos.”
Dentro da ONU, a questão da erradicação da violência sexual em conflitos tem sido uma das principais prioridades.
Este trabalho é realizado em colaboração com os Estados-membros pela representante especial para a violência sexual, Pramila Patten, das Ilhas Maurício, que também ocupa o cargo de sub-secretária-geral da ONU. Seu escritório foi estabelecido em 2009 pela resolução 1888 do Conselho de Segurança da ONU; sua primeira representante foi Margot Wallström, da Suécia.
A resolução do Conselho de Segurança da ONU foi apenas uma de uma série que reconheceu o impacto nocivo que a violência sexual tem sobre as comunidades, ao mesmo tempo em que mina a paz e a segurança quando o conflito termina.
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Posted: 05 Oct 2018 08:13 AM PDT
Os venezuelanos Rosaida Carreño, de 30 anos, e Elvir Castillho, de 38, chegaram ao Brasil em março, acompanhados de seus três filhos, em busca de melhores condições de vida. Foto: UNOPS
Os venezuelanos Rosaida Carreño, de 30 anos, e Elvir Castillho, de 38, chegaram ao Brasil em março, acompanhados de seus três filhos, em busca de melhores condições de vida. Inicialmente estabelecidos em Boa Vista (RR), aderiram ao processo de interiorização iniciado há seis meses pelo governo brasileiro com apoio da ONU Brasil e se dirigiram a Cuiabá (MT), onde hoje já têm emprego e planejam o futuro da família.
O casal teve que vender bens na Venezuela para conseguir comprar as passagens de ônibus para Boa Vista. Na cidade brasileira, onde uma irmã de Rosaida já estava instalada, ficaram em um abrigo repleto de barracas com colchonetes.
“Não nos acostumamos a viver daquele jeito. Não conseguimos trabalho. Então, quando chegaram os voos (de interiorização) da ONU, pensamos: ‘vamos, porque lá pode haver mais oportunidades de emprego'”, disse ela, em entrevista à ONU Brasil. Após 15 dias em Boa Vista, a família toda, incluindo a irmã de Rosaida, decidiu seguir rumo à capital mato-grossense.
Chegaram a Cuiabá no início de abril, em um dos primeiros voos do processo de interiorização, cujo objetivo é ajudar os solicitantes de refúgio e de residência venezuelanos a encontrar melhores condições de vida em outros estados brasileiros. Todos aceitam, voluntariamente, participar do programa e são vacinados, submetidos a exame de saúde e regularizados — inclusive com CPF e carteira de trabalho.
A iniciativa conta com apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), da Organização Internacional para as Migrações (OIM), do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
“Nos disseram que haveria oportunidades (em Cuiabá) para tirarmos nossos documentos. Mostraram fotos, vídeos da cidade, e aceitamos ir”, declarou Rosaida. Em Cuiabá, os venezuelanos foram recebidos pela Pastoral do Migrante, que os abrigou por um mês.
“A primeira pessoa que conseguiu emprego foi minha irmã, em uma casa de família. Quando meu marido conseguiu, nos deram um tempo para que encontrássemos um lugar, e nos ajudaram com o primeiro aluguel e outras coisas para que pudéssemos equipar a casa”, explicou Rosaida, que continuou procurando trabalho, uma vez que o salário do marido não era suficiente para cobrir todas as despesas.
Elvir começou como ajudante de produção em uma empresa que comercializa e produz aço, e logo foi promovido a operador de empilhadeira. Agora, ele está tentando tirar a carteira de motorista, uma vez que gosta de dirigir caminhões — na Venezuela, trabalhava havia 12 anos na indústria petroleira. “Essa é a profissão dele e é com isso que ele quer trabalhar”, disse Rosaida. Pouco depois, ela também conseguiu um emprego como auxiliar de cozinha.
“Encontrar emprego foi um pouco difícil, porque não tínhamos carteira de trabalho e tivemos que esperar para tirá-la. Os funcionários da pastoral nos orientaram a não buscar trabalho fora, porque poderíamos nos colocar em situação como a de trabalho escravo, por exemplo. Da pastoral, tínhamos que sair com trabalho formal e carteira registrada”, contou.
“Ainda estamos nesse processo de nos adaptarmos ao trabalho, porque há muitas coisas que não entendo. Eu entendo o que me dizem, mas misturo o espanhol com o português e muitas vezes as pessoas não me entendem.”
Os três filhos do casal — que têm 4, 9 e 13 anos — estão se adaptando mais rápido ao novo país. Antes de se matricularem na escola, ficaram duas semanas tendo aula de reforço e de português na Pastoral do Migrante.
“Eles aprendem mais facilmente, mas notam a diferença. Porém, se adaptaram bastante. Gostam de ir à escola”, disse Elvir. “Os brasileiros são muito bons. Nos deram ajuda, trabalho. Muitas coisas que temos aqui foram doações”.
Situação na Venezuela
Mesmo com sinais de que a vida da família está sendo retomada no Brasil, Rosaida afirma que gostaria de retornar à Venezuela caso o cenário político, social e econômico melhore por lá.
“Sinto falta da Venezuela, porque deixamos tudo, amizades, família. E aqui estamos sozinhos. Apesar de eu ter vindo com a minha irmã, que sempre vem nos visitar, é difícil”, disse.
“Estamos juntando dinheiro para que eles (os familiares da Venezuela) venham, porque lá nos dizem que não têm dinheiro nem para comida. Além disso, não conseguem alimentos, mesmo quando têm dinheiro”, declarou ela, lembrando que, em seu país, o casal tinha uma casa e um carro, e Rosaida não trabalhava porque a renda de Elvir era suficiente para sustentar a família.
Sobre Cuiabá, Elvir afirma que a cidade é parecida com as venezuelanas Puerto la Cruz, Merida e Caracas. “Pode ser que nos estabeleçamos aqui e fiquemos trabalhando e, algum dia, voltemos. Aqui no Brasil há uma boa educação, e o que me interessa principalmente é que meus filhos estudem”, disse.
A entrevista foi feita na residência do casal, localizada em Carumbé, mesmo bairro da Pastoral do Migrante, onde muitos outros venezuelanos compartilham as mesmas aspirações.
Até agora, a estratégia de interiorização de migrantes e solicitantes de refúgio da Venezuela já alcançou 2.328 pessoas que decidiram ir para outros estados da federação. A última iniciativa ocorreu no fim de setembro, quando 122 pessoas foram transferidas para o Rio Grande do Sul (40 venezuelanos para a cidade de Cachoeirinha e 52 para a cidade de Chapada) e para São Paulo (30 venezuelanos).
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Posted: 05 Oct 2018 07:57 AM PDT
Imagem: FAO
Há 18 anos, no estado do Espírito Santo, a camponesa Nelci Sanches da Rocha, de 59 anos, vivia em busca de um lugar para morar. Sem-terra e sem amparo, a agricultora se uniu a outras famílias que também buscavam uma vida melhor para seus filhos e parentes.
Nelci e cerca de 320 famílias estavam abrigadas em uma fazenda chamada Castelo e, devido a disputas de terra, foram despejadas do lugar que chamavam de lar. O grupo foi em busca de um pedaço de chão para viver com seus filhos. Enquanto procuravam um novo lugar, essas famílias ficavam acampadas em barracas de lona. Entre as famílias, existiam mulheres que carregavam consigo a dor de não dar a mínima estabilidade para seus meninos e meninas.
Dona Nelci, com os três filhos e sem propriedade, andava à procura de terra, carregando as crianças no colo, com a esperança de achar um espaço para chamar de seu. Hoje, ao lembrar os momentos vividos em meio à peregrinação por um lar, ela se emociona com as condições em que vivia no acampamento.
“Sofríamos, pois tínhamos muito medo, éramos ameaçadas. Tivemos que ver nossas roupas, barracas e outros pertences sendo destruídos.”
Durante essa longa busca, muitas famílias se separaram, mas 33 se mantiveram unidas e encontraram uma terra localizada no município de Guaçuí (ES). “Quando chegamos no nosso pedacinho de terra, a nossa maior dificuldade foi a produção.”
Nas adversidades, nasceu a ideia de sete mulheres se unirem em prol do sonho de uma vida melhor. Juntas, as agricultoras formaram o grupo “As Camponesas do Assentamento Florestan Fernandes”.
As camponesas conseguiram participar de um curso oferecido por uma universidade local. A formação teve duração de dois anos e estimulou as mulheres a avançarem com o trabalho no campo. Em 2015, elas trabalhavam com a fabricação de pães e biscoitos. A comunidade se desenvolveu e, por meio de programas de governo, começou a comercializar os produtos para Guaçuí e São José do Calçado, também no Espírito Santo.
A cooperativa se capacitou em diversos meios de produção, empreendedorismo e associativismo. Mas durante dois anos, a produção foi atravancada por impasses burocráticos e técnicos. As mulheres precisavam regularizar a produção de novos alimentos e bebidas — polpa de frutas, suco de laranja e doces. Para resolverem essa situação, era necessário construir uma estrutura física e adquirir equipamentos para legalizar o processamento de frutas no assentamento.
Com a venda dos pães, elas puderam adquirir algumas máquinas. Entre os utensílios adquiridos, estava a “despolpadeira” – uma ferramenta que ajuda a separar a polpa das sementes — e o freezer para processar e armazenar as frutas. Mesmo assim, faltaram recursos e o processamento das frutas foi temporariamente suspenso.
Agora, com um programa do governo federal, as agricultoras conseguiram fundos para a agroindústria de polpa de frutas. O novo espaço será inaugurado em janeiro de 2019. As camponesas do assentamento Florestan Fernandes também produzem e comercializam geleias e licores nos mercados de Guaçuí e nas feiras de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Com uma abordagem agroecológica, o grupo de mulheres defende o desenvolvimento rural sustentável. As agricultoras buscam manter a produtividade agrícola com o mínimo possível de impactos ambientais.
“Quando eu trilhava um caminho e via que não era o caminho certo, eu mudava de rumo, me fortalecia. Eu lutava e acreditava que seria possível. O segredo sempre será nunca desistir”, completa Nelci ao olha para trás e ver o legado que construiu com suas companheiras de ativismo e de trabalho no campo.
15 dias pela autonomia das mulheres rurais
Os papéis desempenhados pelas mulheres rurais são tão numerosos quanto suas lutas e vitórias. O que não faltam são histórias de vida inspiradoras. No entanto, elas ainda não têm o reconhecimento merecido. Sofrem com o preconceito e a desigualdade de gênero.
Ainda há um longo caminho para a igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres no campo. A fim de mostrar que a equidade de gênero e o respeito são valores necessários cotidianamente, a ONU decretou 2018 como o Ano da Mulher Rural.
A partir de 1º de outubro, serão publicadas no portal da FAO uma série de reportagens que fazem parte da Campanha Regional pela Plena Autonomia das Mulheres Rurais e Indígenas da América Latina e do Caribe – 2018. Serão 15 dias de ativismo em prol das trabalhadoras rurais que, de acordo com o censo demográfico mais recente, são responsáveis pela renda de 42,2% das famílias do campo no Brasil.
Para acessar todas as matérias da campanha, clique aqui.
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Posted: 05 Oct 2018 06:58 AM PDT
Maha Mamo recebeu a nacionalidade brasileira em cerimônia na ONU em Genebra. Foto: ACNUR/Susan Hopper
É o fim da busca por pertencimento: a ativista Maha Mamo ganhou a cidadania brasileira.
“Eu não sei se estou sonhando ou se isso está realmente acontecendo”, disse Maha, momentos antes de receber a cidadania brasileira em uma cerimônia emocionante em Genebra.
“Eu nunca imaginei que esse dia chegaria… Esse é o sonho de uma vida inteira se tornando realidade”, acrescentou.
Foi uma longa jornada para Maha, 30 anos, que estava – até hoje – entre as milhões de pessoas apátridas ao redor do mundo que têm seu direito a nacionalidade negado e enfrentam uma vida inteira de exclusões.
Nascida no Líbano em 1988 de pais sírios, Maha nunca ganhou uma cidadania devido a uma série de restrições legais no registro civil e na nacionalidade dos dois países com os quais ela tem laços.
Durante a cerimônia no escritório das Nações Unidas em Genebra, ela usou uma bandeira brasileira como cachecol e uma camiseta com as palavras: “Todo mundo tem o direito de pertencer”.
Ela descreveu como a apatridia impactou cada aspecto de sua vida, começando com seus dias de escola, quando o acesso à educação era concedido apenas como um favor. Ser capaz de obter tratamento médico, passar por postos de controle policiais, procurar por oportunidades de trabalho ou até comprar um chip para celular estavam entre suas batalhas diárias.
“Tudo que as pessoas consideram normal, eu tive que lutar para obter”, ela disse. “Educação, trabalho, saúde e viagens. Minha vida ainda estava em perigo, eu poderia ir para a cadeia a qualquer momento.”
Sua busca por uma cidadania estava repleta de obstáculos na Síria e no Líbano.
Ela deveria ter sido reconhecida como uma cidadã síria uma vez que seu pai – que é cristão – é sírio. Mas pelo fato de sua mãe ser muçulmana, não foi possível registrar o casamento dos pais e o seu nascimento, impedindo-a de obter a cidadania síria.
Maha também não foi considerada libanesa, pois a lei do país não permite adquirir nacionalidade somente por ter nascido no território em questão, e naturalizações são extremamente raras.
Sua busca por pertencer – compartilhada com seus dois irmãos – finalmente ganhou força cinco anos atrás quando consulados brasileiros no Oriente Médio começaram a emitir vistos especiais para sírios, em procedimentos simplificados, a fim de permitir que sobreviventes da guerra civil do país viajassem pa
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