A subsecretária-geral da ONU para Assuntos Políticos, Rosemary DiCarlo, durante briefing ao Conselho de Segurança. Foto: ONU/Eskinder Debebe
O acordo nuclear iraniano firmado em 2015 precisa “continuar funcionando para todos”, apesar de ações tanto dos Estados Unidos quanto do Irã para desestabilizá-lo, afirmou na quarta-feira (26) a chefe de assuntos políticos das Nações Unidas
a membros do Conselho de Segurança.
Isso acontece em um momento em que os países continuam uma guerra diplomática por conta de ataques recentes em torno de importantes rotas marítimas de petróleo no Golfo, disse a subsecretária-geral Rosemary DiCarlo, descrevendo os eventos como “um lembrete de que estamos em uma conjuntura crítica”.
O Plano de Ação Conjunto e Abrangente (JCPOA, na sigla em inglês) – alcançado por Irã, China, França, Alemanha, Rússia, Reino Unido, Estados Unidos e União Europeia – estabelece mecanismos rigorosos para monitorar restrições impostas sobre o programa nuclear iraniano. Ao mesmo tempo, o plano abre caminho para suspender sanções norte-americanas contra o Irã.
DiCarlo descreveu o acordo como resultado de “12 anos de intensos esforços diplomáticos e negociações técnicas”, classificados pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, como um grande sucesso do “multilateralismo, da não proliferação nuclear, do diálogo e da diplomacia”.
Após a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) afirmar em seu comunicado mais recente que o Irã está cumprindo as exigências, DiCarlo disse que o chefe da ONU expressou preocupação com a decisão dos Estados Unidos em maio. À época, os EUA decidiram não estender isenções para que o Irã consiga continuar comercializando petróleo e outras suspensões diretamente relacionadas ao JCPOA.
Os Estados Unidos se retiraram do acordo há um ano, mas alguns compradores de petróleo receberam permissão de continuar recebendo volumes limitados.
As ações dos EUA “podem impedir a capacidade do Irã e de outros Estados-membros de implementar algumas das provisões” do acordo, disse a chefe de assuntos políticos da ONU. Segundo DiCarlo, Guterres também lamentou o anúncio do Irã em maio de que não iria se comprometer aos limites aceitos de enriquecimento de urânio, a não ser que outros signatários do JCPOA concordassem em contornar as sanções norte-americanas, dentro de 60 dias.
O Irã elevou as tensões ao anunciar na semana passada que irá ultrapassar os limites aceitos de urânio enriquecido até 27 de junho. “Tais ações não estão nos interesses dos participantes do Plano e não irão ajudar a preservá-lo”, disse DiCarlo.
“O secretário-geral encoraja o Irã a continuar implementando todos os seus compromissos relacionados à questão nuclear, apesar dos desafios consideráveis enfrentados”.
DiCarlo afirmou que Guterres elogiou iniciativas de outros países – incluindo de todos os membros permanentes do Conselho de Segurança para salvar o acordo, “que devem ter efeito completo como questão de prioridade”.
“É essencial que o Plano continue funcionando para todos seus participantes, incluindo ao entregar benefícios econômicos tangíveis para o povo iraniano”, acrescentou.
Irã, EUA e UE ponderam
O embaixador do Irã nas Nações Unidas, Majid Takht Ravanchi, disse ao Conselho que “a retirada dos EUA do JCPOA e a reimposição de sanções” havia tornado o acordo “quase totalmente ineficaz”.
“O Irã sozinho não pode, não deve e não irá mais suportar sozinho todos os encargos para preservar o JCPOA”, declarou.
Potências europeias estão trabalhando duro para salvar o acordo, com o prazo iraniano de 60 dias se aproximando. O embaixador da União Europeia nas Nações Unidas, João Vale de Almeida, alertou que não há “alternativa confiável e pacífica”.
O embaixador interino dos EUA na ONU, Jonathan Cohen, afirmou que o desafio iraniano “ao Conselho de Segurança e seu comportamento inconsequente ameaçando paz e segurança globalmente não devem ser minimizados em nome da preservação de um acordo que não corta totalmente o caminho do Irã a uma arma nuclear”.
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