Boletim diário da ONU Brasil: “Ataque contra comboio da ONU mata dois capacetes-azuis no Mali” e 11 outros.
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seg, 28 de jan 18:10 (Há 6 dias)
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Posted: 28 Jan 2019 11:34 AM PST
Ambulância da ONU danificada durante ataque de 20 de janeiro à MINUSMA, que matou dez capacetes-azuis do Chade e feriu pelo menos 26. Foto: ONU/Marco Dormino
Dois capacetes-azuis da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (MINUSMA) foram mortos na sexta-feira (25) após um ataque com aparato explosivo improvisado contra um comboio perto de Douentza, na região de Mopti.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou veementemente o ataque, que matou dois capacetes-azuis do Sri Lanka e feriu outros seis.
Guterres expressou suas “profundas condolências ao governo do Sri Lanka e aos familiares das vítimas” e desejou rápida recuperação aos feridos.
Um capacete-azul da Burkina Faso também ficou ferido em outro ataque com explosivo improvisado contra um comboio perto da mesma área, na quinta-feira (24).
“Estes atos covardes não irão intimidar a determinação da MINUSMA de apoiar o povo e o governo do Mali em sua busca por paz e estabilidade”, segundo comunicado emitido por seu porta-voz.
No domingo anterior (20), um ataque terrorista contra o acampamento da missão em Aguelhok, na região de Kidal, matou dez capacetes-azuis do Chade.
Lembrando que ataques contra membros das forças de paz da ONU podem representar crimes de guerra sob a lei internacional, Guterres pediu para autoridades do Mali “não pouparem esforços” em identificar os autores do ataque de sexta-feira, para que sejam levados à Justiça o mais rápido possível.
Uma proliferação de grupos armados lutando contra forças do governo e seus aliados em áreas do centro e do norte do Mali, após um golpe fracassado há seis anos, tornaram a MINUSMA a missão mais perigosa para servir como capacete-azul da ONU. O governo do Mali tem buscado desde 2012 restaurar e reconstruir estabilidade, após uma série de revezes.
O agravamento da violência relatado pela ONU em partes da região de Mopti provocou amplos deslocamentos da população civil, já vulnerável por conta da falta de proteção e de serviços básicos fornecidos pelo Estado.
Uma equipe de especialistas em direitos humanos trabalhando com a MINUSMA viajou no começo de janeiro à região para investigar recentes ataques armados no assentamento de Koulogon Peul, nos quais 37 civis foram mortos e diversas casas e armazéns foram deliberadamente incendiados.
Conselho de Segurança presta homenagem aos mortos
Os membros do Conselho de Segurança manifestaram suas mais profundas condolências em comunicado divulgado na noite de sexta-feira, e enviaram pêsames aos familiares das vítimas, assim como ao Sri Lanka e à MINUSMA. Membros do Conselho também desejaram recuperação rápida e completa aos feridos e “prestaram homenagem aos membros das forças de paz que arriscam suas vidas”.
O órgão de 15 membros “pediu para o governo do Mali investigar rapidamente este ataque e levar autores à Justiça”.
O Conselho destacou que “envolvimento para planejar, dirigir, patrocinar ou conduzir ataques contra membros das forças de paz da MINUSMA constitui base para sanções designadas conforme resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas”.
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Posted: 28 Jan 2019 11:21 AM PST
Reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação na Venezuela. Foto: ONU/Manuel Elias
A maior autoridade política das Nações Unidas afirmou no sábado (26) ao Conselho de Segurança que diálogo e cooperação são essenciais para acabar com a crise na Venezuela. Durante um debate acirrado, membros do Conselho discordaram sobre a resposta apropriada às manifestações em massa e às reivindicações pela presidência do país.
“Devemos tentar ajudar (a Venezuela) a encontrar uma solução política que permita que cidadãos do país gozem de paz, prosperidade e de todos os seus direitos humanos”, pediu Rosemary DiCarlo, subsecretária-geral para Assuntos Políticos, ao Conselho de Segurança em encontro urgente do órgão de 15 membros na manhã de sábado.
O encontro foi solicitado no fim da semana passada pelo secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, após dias de agitações políticas na Venezuela, marcados por protestos populares que eclodiram na quarta-feira (23), após o líder da oposição, Juan Guaidó, se declarar presidente interino e pedir novas eleições. O presidente Nicolás Maduro foi empossado em seu segundo mandato duas semanas antes.
Em comunicado emitido por seu porta-voz na quarta-feira, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu para as partes “diminuírem tensões” na Venezuela e que atores relevantes se comprometessem com diálogos políticos inclusivos e confiáveis. Preocupado com relatos de vítimas durante manifestações e agitações dentro e em torno da capital, Caracas, o chefe da ONU também pediu investigação transparente e independente dos incidentes.
No sábado, DiCarlo descreveu a situação na Venezuela como “terrível”, tanto na dimensão econômica quanto na política.
“A população está sendo afetada de maneira sistêmica, quase todos os 30 milhões de venezuelanos estão sendo afetados por hiperinflação e por um colapso de salários reais; escassez de alimentos, remédios e bens básicos; deterioração de serviços de saúde e educação; deterioração de infraestruturas básicas, como de água, eletricidade, transporte e serviços urbanos”, disse ao Conselho.
Anos de disputas políticas se transformam em protestos nas ruas
DiCarlo esquematizou o cenário político no país desde as eleições parlamentares de dezembro de 2015, quando a oposição conquistou ampla maioria dos assentos da Assembleia Nacional. Subsequentemente, o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela decidiu que a Assembleia estava “em desacato” e que todas as suas ações seriam “nulas e vazias”.
Em 2017, uma Assembleia Nacional Constituinte foi criada a partir de eleições, das quais partidos da oposição não participaram. A Assembleia Nacional Constituinte assumiu funções do Legislativo e iniciou um processo de reforma constitucional que permanece inconclusivo e não reconhecido por partidos da oposição.
Tentativas de iniciar diálogos políticos começaram em maio de 2016, através de uma iniciativa moderada por três ex-líderes da República Dominicana, do Panamá e da Espanha, sob os auspícios da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL).
“Apesar de progresso inicial, nenhum acordo concreto foi alcançado através desta iniciativa, que foi suspensa no começo de 2017”, disse, acrescentando que tentativas de retomar e continuar diálogos perderam força em fevereiro de 2018.
Subsequentemente, o governo avançou com eleições presidenciais em maio de 2018. O presidente Nicolás Maduro foi declarado vencedor sobre dois outros candidatos. A maior parte da oposição não participou do processo eleitoral ou reconheceu o resultado. Em 10 de janeiro, Nicolás Maduro foi empossado como presidente em segundo mandato de seis anos.
Em 23 de janeiro, grandes protestos da oposição culminaram com Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional liderada pela oposição, anunciando que não reconhecia o presidente Maduro ou seu governo.
“Embora os protestos tenham sido amplamente pacíficos, houve incidentes de violência”, disse DiCarlo, destacando que, de acordo com o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), fontes locais relataram que ao menos 20 pessoas morreram em agitações. Muitas outras ficaram feridas ou foram presas em incidentes violentos, segundo relatos.
Pedido de solução política
Relembrando que o secretário-geral da ONU havia disponibilizado seus escritórios para ajudar a resolver a crise, DiCarlo destacou que a principal preocupação é o bem estar do povo venezuelano.
“A ONU tem fornecido assistência, especialmente nas áreas de saúde e nutrição. E o secretário-geral havia pedido para a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) estabelecerem um mecanismo de apoio a venezuelanos que deixam o país”.
“Há visões divergentes de como deveria ser o futuro da Venezuela. Mas todos nós devemos ser guiados, no entanto, pela busca do bem estar do povo venezuelano, e trabalharmos juntos para que suas necessidades sejam totalmente cumpridas”, disse.
Conselho de Segurança dividido
O pedido de DiCarlo para cooperação e diálogo foi ecoado por muitos dos 15 membros do Conselho durante o debate acirrado, mesmo com representantes dos Estados Unidos e da Rússia discutindo sobre o caminho para acabar com a crise.
O Departamento de Estado norte-americano ordenou na quarta-feira a saída da Venezuela de alguns funcionários não emergenciais, seguindo uma decisão do governo do presidente norte-americano, Donald Trump, e de diversas outras nações, de reconhecer Guaidó como presidente legítimo da Venezuela.
O presidente Maduro respondeu cortando laços diplomáticos com os Estados Unidos.
No sábado, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, pediu para a ONU reconhecer Guaidó como presidente interino da Venezuela e afirmou: “agora é hora de nações escolherem um lado”. “Sem mais atrasos, sem mais jogos. Ou você está do lado das forças da liberdade, ou você está junto a Maduro e sua desordem”.
Mas o embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, rejeitou este ponto de vista dizendo que os EUA estão impondo suas próprias “abordagens e receitas” para resolver os problemas na Venezuela.
“Este encontro é mais uma tentativa dos Estados Unidos para afetar mudança de regime, e a Federação Russa lamenta que o Conselho de Segurança da ONU tenha sido atraído para uma manobra tão antiética.”
Os dois diplomatas haviam se enfrentado antes do encontro, quando o Conselho realizou uma votação processual sobre se a sessão iria adiante, já que a situação na Venezuela não era um item oficial na agenda do Conselho.
Por nove votos a favor (Bélgica, República Dominicana, França, Alemanha, Kuwait, Peru, Polônia, Reino Unido e Estados Unidos) a quatro contra (China, Guiné Equatorial, Rússia e África do Sul), além de duas abstenções (Costa do Marfim e Indonésia), o item foi adotado.
Durante debate, a embaixadora francesa Anne Gueguen afirmou ser “inteiramente legítimo” que o Conselho considere o tópico, conforme a crise na Venezuela está se espalhando para países vizinhos. A França pediu uma solução política e negociada à crise. “Maduro precisa entender que esta é sua última oportunidade e que deve aceitá-la”, alertou.
“Se eleições não forem anunciadas em oito dias, a França está pronta, junto à União Europeia, para reconhecer Guaidó como presidente interino para acionar tal processo político”. Ela pediu para autoridades se absterem de uso de força contra autoridades democraticamente eleitas, membros da sociedade civil e manifestantes pacíficos.
O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, rejeitou o que viu como tentativas dos Estados Unidos de interferir em assuntos de seu país, assim como a auto-proclamação presidencial de Guaidó, que classificou como ilegal.
Ele disse que o governo Trump está tentando construir um muro físico em sua fronteira com o México, enquanto também cria um “muro ideológico” e ressuscita estratégias da Guerra Fria com objetivo de levar miséria à América Latina. Caracas, disse Arreaza, irá encontrar seu próprio caminho adiante, sem interferências.
“Nenhuma potência pode ditar a meu país seu destino ou seu futuro”, afirmou.
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Posted: 28 Jan 2019 10:33 AM PST
Parceria entre as pastas municipais da Saúde e Educação em Goiânia promove vacinação em escolas da rede pública da capital. Foto: Karina Zambrana
Em Goiânia, autoridades municipais apostam na conscientização de crianças e adolescentes para ampliar as taxas de imunização contra o papiloma vírus humano (HPV), uma das principais causas de câncer do colo do útero. Gestores falam sobre os desafios de promover a vacinação contra esse vírus junto aos pais, pois a vacina é associada equivocadamente a um estímulo do início da vida sexual dos mais jovens. O relato é da Organização Pan-Americana da Saúde ( OPAS).
A fila para vacinação na Escola Municipal Itamar Martins Ferreira, em Goiânia, capital do estado de Goiás, estava cheia. Meninas com idade entre nove e 14 anos e meninos entre 11 e 13 anos aguardavam para tomar a segunda dose da vacina contra o papiloma vírus humano (HPV). A primeira dose foi aplicada há seis meses, no mesmo local.
Alcançar esse público-alvo só é possível devido à parceria entre as Secretarias Municipais de Saúde e Educação, por meio do Programa Saúde na Escola (PSE), criado em 2014. Essa mobilização facilita a imunização de crianças e adolescentes contra o HPV, vírus responsável por provocar, na idade adulta, câncer de colo do útero em mulheres e outros tipos de tumor.
A vacina contra o HPV é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2014 para meninas com idade entre nove e 14 anos. O câncer de colo do útero ocupa a quarta posição na lista de causas de morte no país. A vacinação contra o HPV é, junto com a triagem, a principal ferramenta para eliminar a doença. Para garantir a proteção, são necessárias duas doses da vacina, que devem ser aplicadas em um intervalo de seis meses.
Mulheres e meninas que vivem com HIV e têm entre nove e 26 anos também recebem a vacina. Nesse caso específico, em três doses: após a primeira, esse público-alvo deve tomar a segunda dose após dois meses e uma terceira seis meses depois.
“Faz dois anos que minha tia morreu por câncer do colo do útero. Depois disso, meus pais me falaram sobre a importância da vacina”, conta Pâmela Pablino, de 13 anos.
Vacinação contra o HPV em escola municipal de Goiânia. Foto: Karina Zambrana
Enquanto as profissionais de saúde aplicavam as vacinas, a enfermeira da Secretaria Municipal de Educação, Marislei Brasileiro, conversou com adolescentes sobre a vacinação contra o HPV e aproveitou para tirar algumas das dúvidas mais frequentes entre os estudantes.
A profissional de saúde explica que, nessa escola pública, duas meninas foram eleitas enfermeiras-mirins. “Elas são responsáveis por conversar com outras crianças e adolescentes sobre o HPV e suas consequências, bem como conscientizá-los sobre a importância da vacinação antes do início da vida sexual”, conta Marislei.
As enfermeiras-mirins são orientadas por meio de material de apoio, elaborado pela Secretaria Municipal de Educação, que disponibiliza informações relevantes sobre o tema, entre elas, como ocorre a transmissão do vírus, quais são os sintomas da infeção, quando se apresentam e quais são as formas de buscar tanto a prevenção quanto o tratamento.
“O enfermeiro-mirim tem que ser uma pessoa de mente aberta, que converse naturalmente com os colegas sobre HPV e prevenção do câncer”, acrescenta Marislei.
Uma das enfermeiras-mirins é Juliana Maciel Estôco, de nove anos. Seus pais, Bernardete Maciel e Deilton dos Santos, estão orgulhosos com o empenho da filha em transmitir conhecimentos que podem promover a saúde dos colegas. “Durante toda a vida, ela teve jeito para cuidar dos demais e tem um senso de responsabilidade natural, além de ser muito amorosa”, diz a mãe.
Grécia Pessoni, gerente de imunização de Goiânia, afirma que vacinar crianças e adolescentes contra o HPV ainda é um desafio para a saúde pública. “No início, em 2014, muitos pais demonstraram preconceito, pois associaram a vacinação contra o HPV ao estímulo do início da atividade sexual. Disseram que a vacina poderia causar reações adversas e (houve) várias outras notícias falsas.”
Grécia conta que, mesmo com essas barreiras, continuaram insistindo e incentivando as campanhas nas escolas. A aceitação da vacina pelas crianças e adolescentes foi maior, pois “eles são encorajados pelos colegas”, explica a gestora.
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Posted: 28 Jan 2019 10:21 AM PST
A secretária-executiva da CEPAL, Alicia Bárcena, citou durante sessão do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, a existência de uma correlação inversa entre produtividade e desigualdade. Foto: Giulian Frisoni/Flickr/CC
A desigualdade é ineficiente, se reproduz e permeia o sistema produtivo. Do lado oposto, a igualdade não é apenas um princípio ético inevitável, mas também uma variável explicativa da eficiência do sistema econômico no longo prazo, afirmou a secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), Alicia Bárcena, durante reunião do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.
A alta funcionária das Nações Unidas participou durante a semana de diversas sessões do fórum global, nas quais abordou as transformações políticas na América Latina e no Caribe e a necessidade de uma reconstrução da confiança social com a população da região, do estado do multilateralismo e da governança global, e os avanços para o cumprimento da Agenda 2030, entre outros.
“A igualdade é requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável. A CEPAL provou com números que sem igualdade as economias são ineficientes, e alcançam menores níveis de produtividade e investimento”, afirmou Bárcena, durante discurso em sessão que discutiu os custos da desigualdade.
Além de Bárcena, participaram do painel Winnie Byanyima, diretora-executiva da Oxfam Internacional; Shamina Singh, presidente do Centro de Crescimento Inclusivo da Mastercard; Rutger Bregman, historiador e escritor holandês, e Jane Goodall, fundadora do Jane Goodall Institute. A sessão foi moderada por Edward Felsenthal, editor-chefe da revista Time.
Em sua apresentação, a secretária-executiva da CEPAL afirmou que “igualdade, produtividade e democracia são bens complementares estratégicos e não substitutos, mais ainda em um mundo com fortes tensões econômicas, políticas e ambientais”.
Lembrou que no relatório “A ineficiência da desigualdade”, publicado em maio de 2018, a CEPAL confirmou que a desigualdade cria obstáculos para o aumento das capacidades de consumo da população com menos recursos e, portanto, para a demanda de bens e serviços, tirando dinamismo das economias.
A desigualdade também se transforma em semente de descontentamento e instabilidade social e política, o que em última análise também afeta a economia dos países, salientou.
Bárcena declarou que a existência de uma correlação inversa entre produtividade e desigualdade, na qual baixos níveis de participação salarial na renda se associam a menores taxas de investimento, é uma das evidências de que a desigualdade cria obstáculos ao desenvolvimento.
Outra evidência é a desigual distribuição da riqueza, que na América Latina e no Caribe alcança cifras preocupantes. Como exemplo, citou os casos de Chile, México e Uruguai, países onde a concentração de riqueza beneficia 20% da população, nos dois primeiros casos, e 30% no último.
A alta funcionária das Nações Unidas destacou que o gasto social, assim como as políticas de combate à evasão e elisão fiscal, que anualmente custam 320 bilhões de dólares à região, são instrumentos efetivos para a redistribuição da riqueza.
“A igualdade e a desigualdade estão associadas à elite e à cultura dos privilégios, ou seja, estão relacionadas com aqueles que estão isentos ou que sonegam impostos, aqueles que podem se esquivar da lei. Isso naturaliza a desigualdade”, advertiu.
“Devemos ter compaixão, solidariedade e igualdade”, completou.
Bárcena enfatizou também a urgência de mudar o paradigma de desenvolvimento, transitando para padrões de produção e consumo sustentáveis, com trabalho decente e titularidade de direitos, tal como propõe a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
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Posted: 28 Jan 2019 10:01 AM PST
Famílias venezuelanas cruzam a fronteira do seu país com o Brasil para comprar comida e levar para casa. Foto: ACNUR/Victor Moriyama
A Agência da ONU para Refugiados ( ACNUR) no Brasil reuniu seis fatos sobre a atual situação de refugiados e migrantes da Venezuela. Milhões de pessoas deixaram o país em crise, por diferentes motivos, incluindo insegurança, escassez de comida, ausência de serviços de saúde e medicamentos e até mesmo a perda de suas casas. Confira a lista preparada pelo organismo das Nações Unidas:
1. Maior êxodo na história recente da América Latina
Venezuelanos na praça Simon Bolívar, em Boa Vista, Roraima. Foto: ACNUR/Reynesson Damasceno
Mais de 3 milhões de venezuelanos deixaram seu país desde 2014, sendo que 2,4 milhões estão vivendo em países da América Latina e Caribe. Este é o maior êxodo na história recente da América Latina, e as pessoas continuam a deixar a Venezuela devido à violência, insegurança e falta de comida, remédios e serviços essenciais.
2. Peru, país que mais recebe venezuelanos
Refugiados e migrantes venezuelanos em Lima, no Peru. Foto: OIM
O Peru é hoje o maior país de acolhimento de refugiados na América Latina, com 156,7 mil pedidos de asilo desde 2014.
3. Venezuelanos no Brasil
Venezuelanos cruzam a fronteira para comprar alimentos no Brasil. Foto: ACNUR/Victor Moriyama
Desde 2015, mais de 85 mil venezuelanos procuraram a Polícia Federal brasileira para solicitar refúgio ou residência no Brasil.
4. Na fronteira entre Brasil e Venezuela
Centro de Recepção e Registro em Pacaraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela. Foto: ACNUR/Victor Moriyama
Em média, entre 150 e 200 venezuelanos passam por dia pelo Centro de Recepção e Registro em Pacaraima (RR), na fronteira do Brasil com a Venezuela.
5. Venezuelanos em Boa Vista e Pacaraima
Abrigo Nova Canaan, em Boa Vista, Roraima. Foto: ACNUR/ Victor Moriyama
Mais de 6 mil venezuelanos moram nos abrigos apoiados pelo ACNUR e parceiros em Boa Vista e Pacaraima, cidades do estado de Roraima.
6. Interiorização de venezuelanos no Brasil
Interiorização de venezuelanos no Brasil. Foto: Casa Civil/Governo Federal
Em 2018, 4 mil venezuelanos participaram do programa de interiorização, que busca ajudar os solicitantes de refúgio e de residência a encontrar melhores condições de vida em outros estados brasileiros. As famílias recebem CPF, carteira de trabalho e vacinas. E a chance de um futuro melhor.
O trabalho do ACNUR
Infelizmente, muitas famílias venezuelanas não têm recursos para se restabelecer de forma independente e moram em lugares inseguros até encontrar abrigo. O ACNUR trabalha junto com o Governo Federal, agências da ONU e parceiros para que essas pessoas sejam acolhidas e registradas.
O organismo internacional atua para garantir que os mais vulneráveis sejam protegidos com abrigo, assistência médica e documentos que lhes permitam acessar os serviços. O objetivo é assegurar que os venezuelanos não vivam em situações precárias, expostos e em risco.
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Posted: 28 Jan 2019 09:38 AM PST
Shayla Nascimento é assistente de campo do ACNUR em Boa Vista, Roraima, há mais de um ano. Foto: ACNUR
Shayla Nascimento é assistente de campo da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) em Boa Vista, Roraima, há mais de um ano. Ela já trabalhou na recepção e acolhimento dos venezuelanos que chegavam em situação de vulnerabilidade. Hoje, atua com o programa de interiorização, para que eles possam reconstruir suas vidas em outras cidades do Brasil. O ACNUR tem mais de 11 mil funcionários, a maioria trabalhando em campo.
Aos 31 anos, Shayla é formada em Relações Internacionais. Segundo ela, a vontade de trabalhar ajudando pessoas que se vêem forçadas a deixar seus lares cresceu a partir das experiências em sala de aula e das pequisas sobre campos de refúgio.
“Quando decidi que queria ser trabalhadora humanitária, acreditava ser algo muito distante, até que vi acontecer na minha cidade. Trabalhei como voluntária no início de 2017, eu era intérprete e ajudava as pessoas a preencher suas solicitações de refúgio”, contou.
Shayla trabalha no programa de interiorização, que é uma das estratégias do governo federal dentro da resposta humanitária para o fluxo migratório dos venezuelanos em Roraima.
O programa é apoiado pelo ACNUR e por outras agências da ONU no Brasil. Nele, as famílias venezuelanas têm a oportunidade de recomeçar suas vidas em outra cidade do Brasil.
“Com a interiorização, tenho o privilégio de estar presente em muitos momentos de felicidade para as famílias. Desde o momento em que descobrem que foram selecionados até as notícias que chegam daqueles que já se foram. Saber de suas conquistas é algo que me motiva constantemente”, disse.
“Situações que parecem simples para a maioria das pessoas, como saber que eles conseguiram emprego, que os casais LGBTI puderam oficializar sua união e que as crianças estão estudando e com isso seguindo adiante depois de tanto tempo, é algo muito gratificante.”
Segundo Shayla, faz parte do trabalho vivenciar momentos difíceis, diante de uma situação de emergência. “São esses momentos que considero um grande desafio. Dentre eles, me vêm na memória os meus primeiros meses como assistente de campo. Era um momento muito crítico dentro da operação, pois o número de pessoas em situação de rua aumentava a cada dia, não havia vagas nos abrigos e estávamos no período chuvoso em Roraima”.
“Um dia estava chovendo muito e fui até a porta do abrigo, pois me avisaram que havia uma pessoa solicitando vaga. Ao sair, encontrei uma senhora idosa visivelmente debilitada que relatou ter viajado muitos dias, alguns dele caminhando, para chegar até Boa Vista. Ela me disse que estava vivendo na rua e perguntou se podíamos abrigá-la”, contou.
“Naquele dia não conseguimos ajudá-la, assim como tantas outras pessoas que nos procuravam diariamente, pois não havia vagas em nenhum dos abrigos da cidade. Chovia muito todos os dias, parte da cidade ficava alagada. Saber que as crianças, mulheres e idosos estavam na rua naquele momento era muito angustiante. Algum tempo depois do ocorrido a encontrei em um outro abrigo, ela me reconheceu e disse que estava agradecida ao ACNUR por ter conseguido sair das ruas e poder buscar melhorias para sua família.”
Para Shayla, as experiências que o trabalho humanitário traz diariamente são marcantes. “Não conseguimos fornecer abrigo (imediatamente), mas poder reencontrá-la novamente e ver que ela estava bem e protegida, foi uma experiência maravilhosa. Esse está dentre um dos melhores dias de trabalho desde que comecei no ACNUR”, concluiu
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Posted: 28 Jan 2019 09:38 AM PST
Yenni e sua bebê recém-nascida no Brasil vivem no abrigo Rondon 3, em Boa Vista (RR). Foto: ACNUR/Victor Moriyama
Depois de vir para Boa Vista (RR), em busca de uma vida melhor para a família na Venezuela, Yenni regressou ao seu país de origem quando descobriu que estava grávida. Mas ela logo viu que o bebê podia não sobreviver ao parto em sua terra natal, devido à escassez de medicamentos. A decisão foi retornar ao Brasil. O relato é da Agência da ONU para Refugiados ( ACNUR).
Era meados de dezembro e fazia um calor abafado em Boa Vista, com um céu azul de se admirar. Yenni se abrigou na sombra de uma tenda com sua bebê Branyelis, de sete dias, no colo. Como muitos venezuelanos que deixaram seu país, Yenni o fez por falta de opção. Ser forçado a deixar sua casa é, na maioria das vezes, uma experiência violenta e traumática.
“Na Venezuela, a situação piorava a cada dia e o que ganhávamos era apenas para comer. O que uma pessoa ganhava em um mês dava para uma refeição de um dia e tínhamos que sair e procurar mais e mais e nunca tínhamos o suficiente.”
Essa era a terceira vez que Yenni vinha para Boa Vista. Da primeira, veio para trabalhar e juntar dinheiro para poder comprar comida e levar para sua família na Venezuela. Ela é cozinheira e, nos fins de semana, fazia decoração e doces para festas. A venezuelana deixou os filhos Brian, de 19 anos, e Claribel, de 15, com sua mãe e veio para o Brasil com a irmã. O trajeto cansativo foi feito de ônibus, carona e a pé.
Mais de 3 milhões de venezuelanos deixaram seu país desde 2014, por conta de insegurança, escassez de comida, ausência de serviços de saúde e medicamentos e até mesmo a perda de suas casas. A maioria desses refugiados e migrantes é de famílias com crianças, mulheres grávidas e idosos.
Depois de tirar férias para retornar à Venezuela e levar ajuda para a família, Yenni voltou ao Brasil sem saber que estava grávida. Aguentou o trabalho e o calor por cinco meses, mas depois de passar mal constantemente, com enjoos e dores, decidiu voltar para sua terra natal. Mas ao longo dos dois meses seguintes, a situação se tornou insustentável.
Yenni com sua filha Branyelis, de sete dias, e seu filho Moises, de três anos, em Boa Vista, Roraima. Foto: ACNUR/Victor Moriyama
“Todo dia a coisa fica pior, nós não conseguíamos nem pagar uma passagem. Quando eu ganhava em uma semana, trabalhando de segunda a domingo, por exemplo, 1.000 bolívares, um arroz custava 1.800″, lembra.
Além da inflação alta e da falta de alimentos, não há mais medicamentos e o acesso aos serviços de saúde é precário.
“Para o parto, estavam me pedindo uma lista de medicamentos e itens médicos que eu não conseguia comprar. Eu vim porque vi vários casos de vizinhas que davam à luz e, por não terem os remédios e itens exigidos, suas crianças morriam.”
Yenni voltou, mas não conseguiu emprego e não tinha mais dinheiro. Teve que morar na rua com seu companheiro e seu filho Moises, de três anos, por duas semanas. Até que conseguiu uma vaga em um abrigo apoiado pelo ACNUR. Hoje, ela, o companheiro, Moises e a bebê dividem uma unidade habitacional com outra família.
“Eu prefiro estar aqui, onde eu tenho um teto e um colchão. Qualquer coisa é melhor do que ter que dormir na rua, onde passam os carros, onde tantos problemas acontecem. Eu vivi tantas coisas ruins lá.”
Fim de tarde em abrigo para refugiados e migrantes venezuelanos, em Boa Vista, Roraima. Foto: ACNUR/ Victor Moriyama
Apesar de ter dado à luz recentemente, Yenni aguarda ansiosa pelo fim do resguardo para voltar a trabalhar e juntar dinheiro. Como muitas outras mães venezuelanas, ela teve que deixar os dois filhos mais velhos para trás, mas seu plano é trazê-los o quanto antes.
“O que me esforcei foi pela minha família e meus filhos. Eu tenho dois filhos na Venezuela agora com minha mãe, Brian, de 19 anos, e Claribel, de 15. Estou esperando para trazê-los. Eu preciso deles perto. E esta é a minha história até agora. E agora tem ela, que é outra história, que está começando.”
O ACNUR atua no norte do Brasil, oferecendo serviços de registro e informação, abrigamento e proteção para famílias venezuelanas em situação de vulnerabilidade, apoiando o Governo Federal. Muitas vezes, a ajuda prestada salva vidas. Atualmente, mais de 6 mil venezuelanos moram nos abrigos apoiados pelo ACNUR e parceiros, como o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Nesses locais, os refugiados e migrantes têm acesso a alimentação, água potável, atendimento psicossocial e espaços seguros para crianças.
Para apoiar as atividades do ACNUR, faça uma doação — clique aqui.
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Posted: 28 Jan 2019 08:48 AM PST
Refugiados e migrantes venezuelanos atravessam ponte Simon Bolívar com destino à Colômbia. Foto: ACNUR
Diante dos atuais desafios humanitários e políticos, a América Latina deve continuar sendo fiel à sua tradição de solidariedade, afirmou no sábado (26) o representante especial conjunto da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e Organização Internacional para as Migrações (OIM) para refugiados e migrantes venezuelanos, Eduardo Stein.
ACNUR e OIM continuarão apoiando os esforços dos Estados e da sociedade civil para atender as necessidades mais urgentes dos refugiados e migrantes, assim como para apoiar as comunidades de acolhida na região, segundo Stein.
“É com esse objetivo que foi estabelecida uma plataforma regional entre agências de coordenação — com agências do Sistema ONU e diversas organizações internacionais — e acaba de ser apresentado um Plano Regional de Resposta para Refugiados e Migrantes com o objetivo de fomentar uma resposta coordenada, mobilizar recursos da comunidade internacional e promover uma cultura da tolerância, convivência e inclusão”, disse.
Stein lembrou que o fluxo de centenas de milhares de refugiados e migrantes da Venezuela nos últimos anos é o maior movimento de população da história recente da América Latina. Para ele, diante dessa crise monumental, a reação dos países da região tem sido exemplar.
“Em minhas viagens pela região, pude constatar a solidariedade e o compromisso dos governos, organizações humanitárias e comunidades locais com os refugiados e migrantes da Venezuela. Os países da região receberam os venezuelanos e venezuelanas com carinho, generosidade e respeito, da mesma maneira que, no passado, o povo venezuelano abriu suas portas a um grande número de refugiados e migrantes da região”, afirmou.
O representante especial lembrou, no entanto, que nos últimos dias ataques físicos e verbais e ameaças contra cidadãos venezuelanos em vários países da região obscureceram esse panorama. “Apesar de isolados e não representativos, esses atos de ódio, intolerância e xenofobia são preocupantes. Frente a eles, é necessário que os governos e as sociedades respondam com uma mensagem de repúdio clara e contundente”.
“O racismo, a misoginia e a xenofobia não têm lugar em nossos países e devem ser condenados com firmeza. Os dirigentes políticos e formadores de opinião devem apelar em seus pronunciamentos a paz, justiça, calma e comedimento, condenando as atitudes e ações xenófobas e misóginas.”
“Os meios de comunicação e os usuários de redes sociais, por sua vez, devem informar os fatos de forma responsável, sem incitar atitudes e ações xenófobas, e devem também condenar todo ataque físico ou verbal contra os refugiados, migrantes e outras pessoas estrangeiras, quando estes ocorrerem.”
Segundo o representante especial, somente por meio de diálogo, solidariedade, justiça, coexistência e respeito pela diversidade poderemos resolver os múltiplos desafios da região.
“Diante dos atuais desafios humanitários e políticos, a América Latina deve continuar sendo fiel à sua tradição de solidariedade. Nesse contexto, o Processo de Quito — promovido por vários países da região — constitui um caminho de esperança, de entendimento e de construção comum: representa um caminho para fomentar recepção, proteção e inclusão de pessoas refugiadas e migrantes nos países de acolhida.”
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Posted: 28 Jan 2019 08:00 AM PST
Foto de Anne Frank, em exposição da ONU de 2012 sobre a vida de crianças no Holocausto. Foto: ONU/JC McIlwaine
Alertando que o antissemitismo, o mais antigo preconceito do mundo, perdurou e atormenta as novas gerações, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou no sábado (26) que as Nações Unidas sempre estarão na linha de frente da luta contra todas as formas de ódio. O chefe da Organização participou de cerimônia na histórica Sinagoga de Park East, em Nova Iorque, para marcar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, 27 de janeiro.
“Nosso desafio urgente hoje é estar atentos às lições de um período em que a dignidade humana foi posta de lado por uma ideologia racial”, afirmou o dirigente.
Guterres disse que, em 2017, o mesmo evento para marcar o dia internacional ocorreu apenas quatro dias após um homem, com “armas de guerra”, invadir uma sinagoga em Pittsburgh, gritando “todos os judeus têm que morrer”.
“Quando os tiros cessaram, 11 pessoas jaziam mortas. Maridos e esposas. Uma mulher de 97 anos. Todos abatidos durante orações. E alvejados, é o que parece pelo menos em parte, por realizarem um mitzvah, vivendo a sua fé e acolhendo o estranho, (recebendo) novos imigrantes na área de Pittsburgh.”
Descrevendo o episódio como um “ataque bárbaro” e o pior ataque antissemita na história dos Estados Unidos, Guterres lembrou que líderes judeus, cristãos, muçulmanos e de outros credos se reuniram na Sinagoga de Park East no ano passado para se opor ao ódio de todos os tipos.
O rabino sênio da Sinagoga de East Park, Rabbi Arthur Schneie, à esquerda, ao lado de António Guterres, secretário-geral da ONU. Foto: ONU/Laura Gelbert
“Temo, porém, que nos meses desde Pittsburgh, tivemos mais razões para uma preocupação profunda”, lamentou o secretário-geral, observando que, no mês passado, bustos num cemitério judeu em Estrasburgo foram desfigurados com suásticas. Em janeiro de 2019, pedras foram jogadas contra as janelas de sinagoga central de Sofia, na Bulgária.
Já há algum tempo, acrescentou Guterres, ataques antissemitas nos Estados Unidos e na Europa estão se proliferando. Em solo norte-americano, episódios do tipo aumentaram em 57% em 2017. Uma pesquisa europeia apontou no ano passado que 28% dos judeus já haviam vivido alguma forma de assédio por serem judeus. Outro levantamento apontava a persistência firme de clássicos discursos antissemitas.
“O velho antissemitismo está de volta — e está piorando”, disse o chefe da ONU, ressaltando que símbolos e slogans nazistas continuam sendo difundidos, conforme observado por organizações antiódio que rastreiam centenas de grupos neonazistas, pró-nazistas e de supremacistas brancos.
“E como todos nós sabemos muito bem, onde há ódio aos judeus, o ódio aos outros também está ao alcance das mãos”, acrescentou o secretário-geral, que afirmou que o mundo está testemunhando um aumento perturbador de outras formas de intolerância.
Segundo Guterres, ataques contra muçulmanos estão crescendo, a intolerância está se espalhando na velocidade da luz pela internet e pelas redes sociais e grupos de ódio estão usando as plataformas online para se conectar com fanáticos de outros países, que pensam de modo semelhante.
“O ódio está alcançando a popularidade, com grandes partidos políticos incorporando ideias (antes) dos extremos e partidos que eram corretamente considerados párias (políticos) ganhando influência”, disse a autoridade máxima das Nações Unidas.
“Não devemos exagerar nas comparações com os anos 1930, mas da mesma forma não devemos ignorar as similaridades”, acrescentou Guterres, que descreveu o cenário atual como um “pano de fundo doloroso” para o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
“Estamos reunidos para honrar a memória dos 6 milhões de judeus e outros (indivíduos) que foram sistematicamente assassinados. Conforme o número de sobreviventes diminui, cabe a nós levar seu testemunho para as gerações futuras”, disse o secretário-geral.
Segundo o dirigente, a ONU se compromete em estar na linha de frente desse trabalho e em ensinar “nossas crianças a amar, antes que outros as ensinem a odiar”. Guterres explicou o Programa de Conscientização das Nações Unidas sobre Holocausto atua em dezenas de países. O secretário-geral também disse que pediu ao seu conselheiro especial sobre prevenção do genocídio que desenvolva um plano de ação global para aprofundar os esforços da Organização em combater o discurso de ódio.
“Também estamos nos empenhando em um nível mais profundo para lidar com as raízes dos medos e da raiva que tornam as pessoas suscetíveis ao populismo e aos apelos sectários de figuras políticas oportunistas. Isso significa trabalhar por uma globalização justa e construir sociedades democráticas”, disse Guterres.
“E também significa garantir que governos e organizações internacionais mostrem que elas se preocupam com as pessoas e estão sintonizadas com as suas necessidades e aspirações. Eu incluo as Nações Unidas aí. E esse é um trabalho para todas as sociedades, em todos os lugares”, completou o secretário-geral.
Durante a cerimônia em Nova Iorque, o rabino sênior da Sinagoga de Park East, Arthur Schneier, enfatizou que “o antissemitismo não atinge apenas judeus, ele é um indicador de como as sociedades tratam outras minorias”.
“Se você quiser julgar uma sociedade, olhe para como a maioria trata a minoria”, disse o líder religioso, ressaltando que “temos de garantir que estejamos do lado da coexistência pacífica e boa”.
Há 74 anos, prisioneiros de Auschwitz eram libertados pelos soviéticos
O dia internacional é observado em 27 de janeiro por ser essa a data em que tropas soviéticas chegaram ao campo de concentração e extermínio de Auschwitz-Birkenau, na Polônia, em 1945, libertando cerca de 7,5 mil sobreviventes.
“O maior complexo de campos de concentração na Europa ocupada, Auschwitz-Birkenau é um sítio de memória para muitos dos grupos perseguidos pela Alemanha nazista. Auschwitz-Birkenau também foi o maior centro de assassinatos em escala industrial, construído para implementar o genocídio dos judeus da Europa. Dos cerca de 1,1 milhão de indivíduos que foram assassinados lá, quase 1 milhão eram judeus, mortos simplesmente porque nasceram judeus”, afirmou a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay.
Em mensagem para marcar a data, a chefe da agência da ONU alertou para tentativas de negar a ocorrência do Holocausto.
“Mesmo com o avanço das pesquisas a respeito desse fatídico episódio histórico, ainda existem aqueles que insistem em contestar a verdade. As pessoas que negam o Holocausto em todo o mundo continuam a espalhar a desinformação nas mídias sociais. Na Europa, há até quem se envolva em uma retórica ofensiva que contesta a participação de populações e autoridades locais no massacre, desafiando fatos incontroversos”, apontou a dirigente.
“Outros acusam ‘os judeus’ de explorar o Holocausto visando a ganhos financeiros e políticos, em benefício do Estado de Israel, por exemplo”, acrescentou Audrey.
Segundo a chefe da UNESCO, conservar a memória do Holocausto significa continuar a luta contra o antissemitismo, que mancha até hoje a história dos mortos, com contínuos ataques aos judeus.
“A preservação dessa memória exige o apoio da pesquisa histórica. Também requer educação sobre a história do Holocausto, assim como de outros genocídios e crimes em massa”, ressaltou a dirigente.
De acordo com Audrey, “as questões levantadas por essa educação são atuais, considerando a propaganda extremista que existe hoje, as teorias da conspiração desprezíveis que são disseminadas nas redes sociais, a erosão das instituições democráticas e o enfraquecimento do diálogo internacional”.
O Programa Memória do Mundo da UNESCO, de preservação do patrimônio, inclui desde 2017 os arquivos do Processo de Frankfurt – ou Segundo Processo de Auschwitz. A agência da ONU também protege os Arquivos do Gueto de Varsóvia, que foram compilados de forma clandestina pelo Oneg Shabbat, um grupo liderado pelo historiador Emanuel Ringelblum. Por meio de cátedras universitárias e formação profissional, o organismo fomenta o ensino sobre a Segunda Guerra Mundial.
“Neste dia de lembrança, eu convido todos os atores nos campos da educação, da cultura e da ciência a redobrar seus esforços no combate a ideologias do ódio e a contribuir para uma cultura de paz”, completou Audrey.
Bachelet alerta para ‘normalização do ódio’ e ‘demonização’ de comunidades
Também por ocasião do dia internacional, a alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, lembrou que “ao lado de milhões de judeus, as vítimas dos campos nazistas incluíam centenas de milhares de ciganos e (de pessoas) do povo Sinti, pessoas com deficiências, homossexuais, prisioneiros de guerra, dissidentes políticos e membros de redes da Resistência de toda a Europa ocupada”.
“A humanidade jamais poderia ser a mesma novamente depois desse crime terrível, perpetrado numa escala tão massiva e planejado tão sistematicamente. Incontáveis pessoas participaram, ativamente ou por meio da indiferença, à medida que mulheres, homens e crianças eram humilhados, rejeitados, encurralados, transportados para locais de horror e assassinados”, acrescentou a dirigente.
Bachelet afirmou que atualmente o mundo vê um aumento em muitas formas de ódio, incluindo o antissemitismo e também outros ataques a comunidades de minorias. Segundo a alta-comissária, isso inclui agressões físicas e assédio contra crianças e adultos, bem como campanhas caluniosas amplas contra membros de minorias étnicas e raciais e também migrantes. “Em alguns casos, com o apoio ativo de líderes nacionais”, ressaltou a dirigente.
“Temos de nos unir contra essa normalização do ódio. Temos de rejeitar essa maré que sobe lentamente de antissemitismo, xenofobia e outras tentativas de privar categorias específicas de pessoas de sua humanidade e direitos”, acrescentou Bachelet.
A alta-comissária lembrou que a página online do Memorial de Auschwitz afirmou recentemente que “o Holocausto, na verdade, não começou a partir das câmeras de gás”. “Esse ódio se desenvolveu gradualmente pelas palavras, estereótipos e preconceito — por meio da exclusão legal, da desumanização e da violência crescente”, explicava a instituição.
Na avaliação da ex-presidente do Chile, esses mesmos fenômenos de exclusão legal, desumanização e propaganda de ódio, estão se repetindo hoje, visando alguns grupos.
“Diante das tentativas de desumanizar e demonizar comunidades, temos de nos posicionar para defender os direitos humanos”, enfatizou Bachelet.
“Temos de combater a hostilidade e a utilização de bodes expiatórios que estão cada vez mais ancoradas na paisagem política — e que não podem nunca ser justificadas. Elas alimentam a violência, elas machucam e humilham as pessoas e elas prejudicam a sociedade, destruindo nosso senso de uma comunidade comum, engajada em buscar soluções para bem-estar maior de todos nós.”
“Apenas defendendo os direitos humanos e exigindo que os líderes ajam para acabar com a discriminação, podemos verdadeiramente garantir que a perseguição e o genocídio nunca acontecerão de novo”, completou a alta-comissária.
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Posted: 28 Jan 2019 07:33 AM PST
O envolvimento de Mbatha inclui visitas para vivenciar o trabalho feito pelo ACNUR para salvar e proteger vidas em acampamentos e assentamentos no Malauí, no Quênia e no Sudão do Sul. Foto: Reprodução
A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) anunciou nesta segunda-feira (28) a nomeação da atriz sul-africana e ativista de direitos humanos Nomzamo Mbatha como sua mais nova Embaixadora da Boa Vontade.
Desde 2017, Mbatha tem trabalhado em estreita cooperação com o ACNUR como uma importante defensora da campanha LuQuLuQu, que visa aumentar a conscientização para as pessoas forçadas a se deslocar na África.
O envolvimento de Mbatha inclui visitas para vivenciar o trabalho feito pelo ACNUR para salvar e proteger vidas em acampamentos e assentamentos no Malauí, no Quênia e no Sudão do Sul.
Ela também foi anfitriã da cerimônia do Prêmio Nansen de Refugiados de 2018, que homenageou o humanitário sul-sudanês Evan Atar, e falou no TEDxKakumaCamp, o primeiro evento do TEDx realizado em um campo de refugiados.
Em sua palestra, ela refletiu sobre como sua orientação em ajudar refugiados, particularmente mulheres e crianças, está enraizada em sua história pessoal de superação de adversidades.
“A força dos refugiados, sua capacidade de perseverar e a sua criatividade para tirar o melhor de uma situação difícil é o que celebro. Ser nomeada Embaixadora da Boa Vontade é uma honra incrível e mal posso esperar para embarcar nesta jornada, aprender mais e usar minha voz para realmente ser uma agente de mudança”, disse Mbatha.
“É com grande satisfação que saudamos Nomzamo Mbatha à família ACNUR”, disse o
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