Boletim diário da ONU Brasil: “ONU alerta para avanço da intolerância em evento para lembrar vítimas do Holocausto” e 6 outros.
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Posted: 01 Feb 2019 11:24 AM PST
Clique para exibir o slide.Em meio ao “aumento alarmante” do antissemitismo, o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto foi lembrado na sede da ONU, em Nova Iorque, na segunda-feira (28). Evento homenageou os cerca de 6 milhões de judeus mortos durante a Segunda Guerra Mundial, junto a outras vítimas do que o chefe das Nações Unidas chamou de “crueldade e horror calculados, sem precedentes”.
“De um ataque mortal contra uma sinagoga nos Estados Unidos à profanação de cemitérios judeus na Europa, este ódio de séculos não só continua forte – está piorando”, disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, destacando a “proliferação de grupos neonazistas e tentativas de reescrever a história e distorcer os fatos do Holocausto”.
Conforme os horrores dos campos de concentração nazistas vão ficando para trás no tempo, restando menos e menos sobreviventes, a necessidade de ser vigilante fica mais forte.
Sob o tema deste ano, “Lembrança do Holocausto: Exija e Defenda seus Direitos Humanos”, jovens estão sendo encorajados a aprender lições valiosas do Holocausto, como agir contra discriminação e defender valores democráticos essenciais.
Com crescimento do neonazismo e de grupos de ódio, junto a outras formas de ódio pelo mundo, o tema também destaca os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio.
Guterres relembrou a fala de Jonathan Sacks, ex-rabino-chefe do Reino Unido: “o ódio que começa com judeus nunca termina com judeus”.
“Nós vemos intolerância se movendo na velocidade da luz na Internet”, disse o chefe da ONU, destacando a “intolerância que entra na política tradicional – mirando minorias, muçulmanos, migrantes e refugiados, e explorando a raiva e a ansiedade de um mundo em mudança”.
“Agora, mais do que nunca, vamos nos unir na luta por valores universais e construir um mundo de igualdade para todos”, concluiu o secretário-geral.
Como parte de uma semana de atividades comemorativas, uma cerimônia na segunda-feira no Salão da Assembleia Geral contou com depoimentos de sobreviventes, orações memorais, apresentações musicais e discurso de Sara J. Bloomfield, diretora do Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos que, após 18 anos, continua trabalhando para conscientizar sobre o Holocausto, confrontar negações e avançar com prevenção a genocídios.
A cerimônia foi comandada por Alison Smale, subsecretária-geral da ONU para Comunicações Globais. Danny Danon, representante permanente de Israel para as Nações Unidas; Jonathan R. Cohen, agente diplomático da Missão dos Estados Unidos para a ONU; e o embaixador Sandro De Bernardin, presidente da Aliança Internacional de Memória do Holocausto, também discursaram.
Na ocasião, Guterres chamou atenção para o que definiu como “pior ataque antissemita da história dos Estados Unidos”, quando 11 fiéis que participavam do Sabá em Pittsburgh foram mortos na sinagoga Árvore da Vida em outubro do ano passado. “Precisamos nos levantar contra o crescente antissemitismo”, destacou.
Ações ousadas e educação podem mudar a maré contra antissemitismo e racismo
A presidente da Assembleia Geral, María Fernanda Espinosa, falou diretamente a sobreviventes, dizendo estar profundamente tocada com a presença deles na cerimônia de segunda-feira.
“A maioria de nós neste salão nunca irá entender o impacto do horror em suas vidas. Registros e gravações, documentos e coleções, nunca podem contar a história completa de uma das piores tragédias da história humana”, disse.
“Precisamos tirar lição da história; é por isso que é vital que nos lembremos do Holocausto e honremos as vítimas desta atrocidade”, declarou, acrescentando acreditar que somente através da memória e da educação o ódio, a demonização de determinados grupos e a manipulação cínica da opinião pública podem ser contidas.
Pedindo ações rápidas e ousadas de líderes mundiais contra a tendência crescente de racismo, antissemitismo, xenofobia e intolerância de todas as formas, ela alertou que os laços que mantêm o mundo unido desde a Segunda Guerra Mundial estão mostrando claros sinais de desgaste. “Falar não é suficiente”, afirmou.
“Como líderes, como cidadãos. Como pessoas de fé e de consciência, precisamos nos levantar pelo que acreditamos. Nossa sobrevivência como civilização moderna, com base no Estado de Direito e nos direitos humanos e no respeito à dignidade de cada indivíduo, depende disso”, afirmou.
Diplomatas são homenageados na ONU por apoiar judeus durante o Holocausto
Um dos diversos eventos para marcar o dia foi a exibição “Beyond Duty: Diplomats Recognized as Righteous Among the Nations”, que compartilhou as histórias de diplomatas que, servindo sob regimes nazistas, salvaram vidas de judeus ao fornecerem passaportes, vistos e permissões de viagem para fugas.
A exibição apresentou uma lista dos oito diplomatas reconhecidos como “Justos entre as Nações”. O então cônsul português, Aristides de Sousa Mendes, foi uma das figuras homenageadas.
No total, 36 diplomatas já foram reconhecidos por “terem arriscado a vida, a liberdade ou o cargo para salvar vítimas do Holocausto” pela Autoridade de Recordação dos Mártires e Heróis do Holocausto, Yad Vashem.
Entre os lusófonos estão os diplomatas Carlos Sampaio Garrido, de Portugal, Aracy de Carvalho Guimarães Rosa e Luís Martins de Sousa Dantas, do Brasil. Essa nomeação foi feita por uma comissão especial independente.
António Guterres lembrou que todos devem estar atentos depois de ataques recentes à comunidade judaica.
“Temos de estar alerta e fazer de tudo para que triunfem os valores da tolerância, do respeito mútuo, da convivência pacífica entre comunidades, entre grupos humanos, entre civilizações, porque só assim o mundo poderá viver em paz.”
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Posted: 01 Feb 2019 10:35 AM PST
Mulheres em frente à casa em que moram no centro de Gaza. Palestinos do enclave enfrentam dificuldades para atender as necessidades básicas de seus filhos, como alimentação, saúde e habitação. Foto: PMA/Wissam Nassar
Problemas “alarmantes e crescentes” que afetam refugiados palestinos podem desestabilizar ainda mais o Oriente Médio, afirmou na terça-feira (29) o chefe da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA).
Em pedido de 1,2 bilhão de dólares para financiar serviços vitais e de assistência para 5,4 milhões de refugiados palestinos em Gaza e na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental, Jordânia, Líbano e Síria, o comissário-geral da UNRWA, Pierre Krähenbühl explicou que o atendimento às necessidades básicas dessa população piorou consideravelmente desde a virada do século.
“Fornecemos assistência alimentar para 1 milhão de pessoas em Gaza, o que representa metade da população do enclave. A UNRWA fornece esta assistência alimentar a cada três meses”, explicou.
“Este é um número com o qual o mundo deveria ficar chocado, porque nos anos 2000 fornecíamos assistência alimentar para 80 mil. Então, nós passamos de 80 mil pessoas em nossa lista de assistência alimentar para 1 milhão. Por quê? Por conta da dinâmica do conflito e do bloqueio que dizimou setores inteiros da economia de Gaza”.
Falando em Genebra, Krähenbühl elogiou a generosidade de Estados-membros em apoiar ao trabalho da agência, após os Estados Unidos, historicamente maior doador durante décadas, deixarem de financiá-la.
ONU manifesta preocupação com ataque na Cisjordânia
Paralelamente, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) expressou na terça-feira (29) profunda preocupação com o “ataque prolongado e extremamente violento” no sábado (26) no vilarejo de Al Mughayyir, na Cisjordânia. O palestino Hamdi Taleb Na’asan, de 38 anos e pai de quatro filhos, foi morto com tiros nas costas.
“O monitoramento feito por nossa equipe na Cisjordânia sugere que o assassinato ocorreu após um grupo de até 30 israelenses – alguns deles armados – do posto israelense de Adei Ad atacarem agricultores palestinos em seus campos”, disse o porta-voz Rupert Colville, falando a jornalistas em Genebra. Ele disse que colonos “desceram à vila, onde usaram munição letal para atirar contra aldeões e suas casas”.
Ele acrescentou que seis aldeões foram baleados “com munição letal, deixando três deles em condições sérias”. “É incerto se colonos também ficaram feridos e, se sim, quantos deles”.
Ele afirmou que, embora forças da segurança de Israel estivessem perto do vilarejo e “tenham sido imediatamente alertadas sobre o ataque, testemunhas informaram nossa equipe – que visitou o vilarejo ontem – que demorou cerca de duas horas antes que interviessem”.
Quando intervieram, acrescentou Colville, “o foco da ação pareceu ser dispersar os aldeões palestinos usando gás lacrimogêneo”. “Mais três palestinos foram feridos por tiros após a intervenção das forças da segurança”, salientou.
Ele disse que houve um aumento em violência instigada por colonos na Cisjordânia, “que alcançou seus níveis mais altos desde 2015”.
De acordo com o Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), a média mensal de incidentes violentos instigados por colonos cresceu 57% em 2018, comparado a 2017, e 175%, comparado a 2016.
As forças da segurança de Israel abriram investigação inicial sobre o assassinato de Na’asan.
“Pedimos às autoridades que garantam investigação completa sobre seu assassinato e sobre os ferimentos causados a outros, e que esta seja independente, transparente e eficaz”, acrescentou Colville.
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Posted: 01 Feb 2019 10:14 AM PST
Meninas aplicam maquiagem em Kandapara, um bordel na cidade de Tangail, Bangladesh. Um homem ofereceu emprego a elas, mas em vez disso as vendeu para o bordel. Foto: UNICEF/Noorani
O mais recente Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas, divulgado na terça-feira (29) pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) na sede da ONU, em Nova Iorque, mostra um número recorde de casos detectados em 2016, mas também a maior taxa já registrada de condenação de traficantes.
“O relatório foi realizado por uma razão simples: se quisermos ter sucesso em enfrentar o tráfico de pessoas em todas as suas manifestações, precisamos entender melhor seu escopo e sua estrutura”, disse Yury Fedotov, diretor-executivo do UNODC, em apresentação do relatório. “Precisamos avaliar onde tráfico de pessoas está acontecendo, quem são as vítimas e quem está cometendo este crime”.
De acordo com números mais recentes compilados pelo UNODC, as taxas recordes de condenação e detecção podem ser um sinal de que países reforçaram suas capacidades para identificar vítimas – como através de legislações específicas, coordenação intensificada entre entidades da aplicação da lei e melhores serviços de proteção às vítimas – ou que o número de casos reais de tráfico aumentou.
Enquanto em 2003 menos de 20 mil casos foram registrados, o número subiu para mais de 25 mil em 2016.
Apesar de melhorias em coleta de dados, impunidade prevalece
Ao longo da última década, a capacidade de autoridades nacionais de monitorar e avaliar padrões e fluxos de tráfico de pessoas melhorou em muitas partes do mundo. O relatório do UNODC destaca que isso ocorreu por conta de um foco específico da comunidade internacional em desenvolver padrões para coleta de dados. Em 2009, somente 26 países tinham uma instituição que coletava e disseminava dados sobre casos de tráfico. Em 2018, o número subiu para 65.
No entanto, muitos países na África e na Ásia continuam com baixas taxas de condenação e ao mesmo tempo detectam menos vítimas. Segundo o UNODC, “isso não significa necessariamente que traficantes não estão ativos”.
Na realidade, o relatório mostra que vítimas traficadas de áreas com baixas taxas de detecção/condenação são encontradas em grandes números em outras áreas do mundo, sugerindo que um alto grau de impunidade prevalece nestas regiões com baixos índices de relatos.
“Esta impunidade pode servir como um incentivo para realizar mais tráficos”, alerta o relatório.
Mulheres e meninas continuam sendo principal alvo
“Traficantes do mundo continuam mirando mulheres e meninas”, escreveu Fedotov no prefácio do relatório. “A vasta maioria das vítimas detectadas de tráfico para exploração sexual e 35% das traficadas para trabalho forçado são do sexo feminino”.
O relatório destaca “diferenças regionais consideráveis no perfil sexual e etário de vítimas de tráfico detectadas”. No oeste da África, a maior parte das vítimas detectadas era formada por crianças, tanto meninos quanto meninas, enquanto no sul da Ásia, vítimas foram relatadas igualmente como homens, mulheres e crianças.
Na região central da Ásia, um percentual maior de homens adultos é detectado, em comparação a outras regiões, enquanto na América Central e Caribe mais meninas são registradas.
Exploração sexual é principal forma de tráfico
A maior parte das vítimas detectadas globalmente é para exploração sexual, especialmente nas Américas, Europa, leste da Ásia e Pacífico. Na África Subsaariana e no Oriente Médio, tráfico para trabalho forçado é a forma mais registrada. Nas regiões centro e sul da Ásia, tráfico para trabalho forçado e exploração sexual são igualmente prevalecentes.
Entre outras formas de tráfico de pessoas estão: meninas forçadas ao casamento, mais comum no sudeste da Ásia; crianças para adoção ilegal, mais comum em países da América Central e do Sul; criminalidade forçada, com relatos principalmente no oeste e sul da Europa; e remoção de órgãos, detectada principalmente no Norte da África e regiões centro e leste da Europa.
“Vítimas podem estar em restaurantes, na indústria da pesca, bordéis, fazendas, casas e há até mesmo tráfico de órgãos e adoção ilegal”, disse Rani Hong, que sobreviveu tráfico infantil quando foi levada de sua família na Índia aos 7 anos, submetida a intimidações, abusos físicos e escravidão, até ter sido vendida para adoção ilegal no Canadá e posteriormente nos Estados Unidos.
“Foi-me dito pelas minhas testemunhas que, quando cheguei aos Estados Unidos, não conseguia andar porque havia sido presa em uma pequena jaula. Isso é o que esta indústria está fazendo e isso é o que aconteceu comigo”.
Muitas outras formas, como tráfico para exploração em pedidos de esmola, ou para produção de materiais pornográficos, são relatadas em diferentes partes do mundo.
Conflitos armados e deslocamento são impulsionadores de tráfico de pessoas
O relatório mostra que conflitos armados podem aumentar a vulnerabilidade ao tráfico de diferentes maneiras, conforme áreas com fraco Estado de Direito e falta de recursos para respostas ao crime fornecem aos traficantes um solo fértil para suas operações, se aproveitando de pessoas que precisam desesperadamente de ajuda.
Grupos armados e outros criminosos podem usar a oportunidade para traficar vítimas – incluindo crianças – para exploração sexual, escravidão sexual, casamento forçado, combate armado e várias formas de trabalho forçado. Este é o caso, por exemplo, na África Subsaariana, norte da África e Oriente Médio, Sudeste asiático e outros lugares.
Em alguns acampamentos de refugiados no Oriente Médio também foi documentado que meninas e mulheres foram “casadas” sem consentimento e sujeitas a exploração sexual em países vizinhos.
Além disso, recrutamento de crianças para uso em combates armados é amplamente documentado. O relatório do UNODC destaca que, dentro de zonas de conflito, grupos armados podem usar tráfico como estratégia para reafirmar domínio territorial, espalhar medo entre civis em territórios onde operam e manter população local sob controle. Eles também podem usar mulheres e meninas como “escravas sexuais” ou forçá-las em casamentos para atrair novos possíveis recrutas homens.
O estudo mostra que em todos os conflitos examinados para o relatório, populações deslocadas à força (refugiados ou pessoas deslocadas internamente) foram especificamente miradas: de assentamentos de sírios e refugiados iraquianos a afegãos e rohingyas fugindo de conflito e perseguição.
Notavelmente, os riscos enfrentados por migrantes e refugiados que viajam por áreas de conflito, como Líbia ou partes da África Subsaariana, também são bem documentados: na Líbia, por exemplo, milícias controlam alguns centros de detenção para migrantes e refugiados e estão coagindo migrantes detidos e solicitantes a asilo por diferentes motivos exploratórios.
“Embora estejamos longe de acabar com impunidade, tivemos avanços nos 15 anos desde que o Protocolo contra Tráfico de Pessoas entrou em vigor”, disse o chefe do UNODC, destacando que “quase todos os países do mundo agora possuem legislação em vigor criminalizando tráfico de pessoas”.
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Posted: 01 Feb 2019 09:07 AM PST
Clique para exibir o slide.Em março de 2018, enquanto estavam em um centro de detenção na cidade líbia de Misrata, a épica tentativa dos irmãos eritreus Kedija*, de 15 anos, e de seu irmão Yonas, de 12, de se reunir com a mãe na Suíça depois de oito anos de separação tinha tudo para dar errado.
Os irmãos tinham sido forçados a fugir de sua terra natal, sobreviveram sozinhos em um campo de refugiados etíope, foram capturados por sequestradores e finalmente chegaram à Europa a bordo de um navio que atravessava o Mediterrâneo — apenas para serem interceptados e devolvidos à Líbia.
Mas graças à obstinação de sua mãe, Semira, a intervenção de governos e agências humanitárias — e uma grande porção de sorte —, hoje as crianças estão na Suíça, nos braços de sua mãe mais uma vez.
“Apesar de termos ficado separados por mais de oito anos, nunca perdi a esperança de me reunir novamente com meus filhos”, disse Semira, apertando-os com força, como se eles ainda pudessem desaparecer, com lágrimas de alegria e alívio percorrendo seu rosto sorridente.
Para a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), tudo começou com uma ligação para a equipe da Líbia do Serviço Social Internacional — uma ONG suíça especializada em questões de proteção infantil —, a quem Semira contatou para obter ajuda.
Sabendo apenas que as crianças estavam sendo mantidas em algum lugar do país, e com apenas seus nomes e uma foto desatualizada para identificá-las, o pessoal do ACNUR e de ONGs parceiras começaram a vasculhar todos os centros de detenção a que eles tinham acesso.
Mas com uma estimativa de 3,8 mil refugiados e solicitantes de refúgio sendo mantidos em dezenas de centros de detenção oficiais em todo o país, e outros sendo capturados por grupos armados e traficantes de seres humanos, as chances de encontrá-los eram escassas.
Quando o assistente sênior de proteção do ACNUR Noor Elshin se deparou com duas crianças magras e pálidas no centro de detenção Karareem, em Misrata, elas pareciam tão diferentes dos rostos felizes e saudáveis da foto, que foi um choque saber que eles tinham realmente encontrado Kedija e Yonas.
“Foi como encontrar uma agulha no palheiro”, disse Noor. “Apesar de vê-los na minha frente, eu ainda não podia acreditar que nós realmente os encontramos”, declarou. Pouco depois, Semira recebeu a ligação pela qual ela estava rezando — seus filhos tinham sido encontrados.
A odisseia da família começou em 2010, quando Semira foi forçada a fugir da perseguição na Eritreia. Em vez de arrastar seus filhos para o desconhecido, ela tomou a difícil decisão de deixá-los com os avós enquanto procurava um refúgio seguro para a família.
Depois de cinco anos de relativa estabilidade, em 2015, Kedija e Yonas também foram forçados a fugir da insegurança em Eritreia e cruzar a fronteira para a Etiópia. Semira perdeu contato com eles por vários meses enquanto seu irmão, que também estava na Etiópia, procurava desesperadamente por sua sobrinha e sobrinho.
Ele eventualmente encontrou-os vivendo sozinhos em um campo de refugiados próximo à fronteira da Etiópia com a Eritreia e prometeu fazer tudo o que pudesse para reuni-los com sua mãe, que agora estava morando na Suíça.
Em meados de 2017, as crianças e seu tio partiram em sua perigosa e incerta jornada para encontrar Semira. O trio enfrentou altas temperaturas, sede e fome enquanto pediam caronas em caminhões e ônibus pela Etiópia e pelo Sudão, esforçando-se para chegar à costa sul do mar Mediterrâneo.
No entanto, os acontecimentos tomaram um rumo sombrio na fronteira do Sudão com a Líbia, onde o grupo foi violentamente sequestrado por contrabandistas, que descobriram que a mãe das crianças viviam na Suíça e exigiram resgate para libertá-los.
Como Semira era incapaz de atender às demandas financeiras dos criminosos, Kedija e Yonas foram separados de seu tio e vendidos para um contrabandista, ficando aterrorizados e mais vulneráveis do que nunca.
Várias semanas depois, eles foram inesperadamente libertados e deixados vagando perdidos e sozinhos no vasto deserto da Líbia. Foram descobertos e acolhidos por um grupo de eritreus, que também planejavam embarcar para a Europa, e prometeram levá-los com eles.
Quando o barco foi interceptado e as crianças devolvidas para a Líbia e detidas, eles puderam ligar para sua mãe. “Passei dias e noites rezando por eles, apesar de todos ao meu redor perderem as esperanças, até o dia em que ouvi a voz da minha filha pela primeira vez em vários meses”, lembrou Semira.
Depois que o ACNUR rastreou as crianças, o governo suíço concordou em conceder-lhes vistos humanitários para se juntarem à mãe. O ACNUR trabalhou com as autoridades da Líbia e da Tunísia para organizar a documentação necessária para a libertação e transporte de Kedija e Yonas para a Suíça através da Tunísia.
Na manhã que a equipe do ACNUR entrou no centro de detenção para levar as crianças em sua última viagem de volta para a mãe, a história delas era bem conhecida entre todos. Eles deixaram o centro com os cantos e torcidas alegres de seus companheiros eritreus.
Menos de 24 horas depois, após um pernoite em Túnis, onde a embaixada suíça lhes forneceu os documentos de viagem, Kedija e Yonas aterrissaram na Suíça, onde uma ansiosa e animada Semira esperava por eles.
Captando a primeira imagem de seus filhos cansados e desorientados no portão de desembarque do aeroporto, oito anos de preocupação e saudade desapareceram enquanto ela corria até eles e se enterrava em seus abraços em êxtase; seguros, felizes e reunidos, finalmente.
*Todos os nomes foram alterados para fins de proteção
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Posted: 01 Feb 2019 08:07 AM PST
O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e a Itaipu Binacional participam na quinta-feira (6) em Brasília (DF) de workshop na Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, uma iniciativa do governo federal para disseminar informações sobre medidas preventivas e educativas que contribuam para a redução da gravidez não intencional de meninas de 12 a 17 anos de idade.
A convite do Ministério da Saúde, as duas entidades irão compartilhar a experiência do projeto que desenvolvem em conjunto nos municípios do oeste do Paraná desde o ano passado.
O Projeto Prevenção e Redução da Gravidez na Adolescência nos Municípios do Oeste do Paraná envolve serviços, estratégias de comunicação, produção e análise de dados que permitam desenvolver políticas públicas voltadas a adolescentes e jovens, especialmente para a prevenção da gravidez não intencional.
Iniciado em 2018, o projeto envolve mais de 50 municípios da região e prevê atividades ao longo de todo o ano de 2019 e o primeiro semestre de 2020. O programa de prevenção, informação e capacitação está centrado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas, que é também parceira do Ministério da Saúde em ações estratégicas relacionadas à gravidez na adolescência.
Gravidez não intencional na adolescência
Segundo o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), somente em 2016 nasceram 24 mil bebês filhos de meninas de até 14 anos no Brasil e 477 mil filhos de mães com idade entre 15 e 19 anos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A gravidez não intencional é mais presente entre meninas negras (sete em cada dez) e entre adolescentes que não trabalham nem estudam (seis em cada dez).
A longo prazo, a gravidez não intencional na adolescência traz consequências para a sociedade e para a economia de todo o país. Estudos internacionais apontam que, se for considerada apenas a área de saúde, para cada 1 dólar que se investe em planejamento familiar, poupa-se 1,47 dólar em assistência médica.
Quando este investimento é feito nas adolescentes, para cada 1 dólar investido, serão 98,2 dólares poupados até o fim da vida reprodutiva. Segundo relatório do Banco Mundial, o Brasil poderia aumentar sua produtividade em 3,5 bilhões de dólares por ano se as adolescentes adiassem a gravidez para depois dos 20 anos.
Além de Itaipu e UNFPA, outras instituições do Brasil apresentam durante o workshop dados e estudos sobre a questão, em um panorama global, regional e nacional. No evento, participam também representantes de jovens e adolescentes de várias regiões do país.
Instituída em janeiro por meio da Lei 13.798/2019, a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência contará com as primeiras atividades desde o dia 1° de fevereiro, em Brasília.
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Posted: 01 Feb 2019 07:34 AM PST
Vacina contra a febre amarela. Foto: EBC
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para as Américas, voltou a recomendar que os viajantes internacionais sejam orientados sobre a importância de se vacinarem contra a febre amarela ao menos dez dias antes de se deslocarem para áreas onde o vírus causador da doença circula.
A OPAS também convocou os países onde a febre amarela circula para continuarem a imunizar a população em risco, em uma atualização epidemiológica emitida em 25 de janeiro de 2019 (disponível em inglês e espanhol). Entre janeiro de 2017 e dezembro de 2018, sete países e territórios da região das Américas registraram casos da doença (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Suriname e Peru). Em 2019, Brasil e Peru confirmaram casos.
Em relação ao Brasil, no atual período sazonal (2018-2019), foram registrados 12 casos em humanos, incluindo seis óbitos, em municípios no sul do estado de São Paulo. A maioria era trabalhador rural. Também houve surtos de febre amarela entre macacos (epizootias) no estado do Paraná, que faz fronteira com a Argentina e o Paraguai. Além disso, nesta semana as autoridades de saúde do Brasil confirmaram um caso humano no Paraná – o primeiro desde 2015. O país está, atualmente, no período historicamente reconhecido como de maior transmissão (dezembro a maio).
Nos últimos dois anos, as autoridades sanitárias brasileiras conduziram campanhas maciças de vacinação, logo após o início dos surtos de febre amarela, e expandiram o número de municípios com recomendação de vacinação contra a febre amarela. Conforme a atualização epidemiológica, os casos em humanos e a confirmação de epizootias no sul do estado de São Paulo e no leste do Paraná marcam o início do que poderia ser uma terceira onda de transmissão e a progressão do surto para o sudeste e o sul do país.
Em 2018, foram notificados 20 casos de febre amarela no Peru, incluindo seis óbitos, dos quais dez foram confirmados por laboratório e dez estão em investigação. Esse número é superior ao registrado no mesmo período de 2017, quando foram notificados seis casos de febre amarela. Os casos confirmados vêm dos departamentos localizados na floresta (Loreto, San Martín, Ucayali e Madre de Dios).
A OPAS continua a solicitar aos Estados Membros que tomem todas as medidas necessárias para manter os viajantes bem informados sobre os riscos e medidas preventivas contra a febre amarela, inclusive a vacinação. Os viajantes devem tomar medidas para evitar picadas de mosquito e procurar atendimento médico caso se sintam doentes durante a viagem ou após retornarem.
A OMS recomenda a vacinação contra a febre amarela para viajantes internacionais que visitam os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Tocantins, Santa Catarina e São Paulo, bem como partes dos estados da Bahia e Piauí. A identificação de novas áreas consideradas de risco de transmissão da febre amarela é um processo contínuo, que a OMS monitora e atualiza regularmente.
A febre amarela é uma doença hemorrágica viral aguda que pode resultar em morte. Pode ser evitada com uma vacina eficaz, segura e acessível. Periodicamente, e por razões que são difíceis de prever, o ciclo da febre amarela silvestre produz grandes surtos em macacos (epizootias). Essas epizootias se propagam por corredores silvestres onde mosquitos Haemagogus e Sabethes transmitem a doença de um grupo de macacos para outros. Os humanos expostos a esses mosquitos podem ficar doentes se não forem vacinados.
Até o momento, todos os casos humanos de febre amarela têm sido associados a mosquitos Haemogogus e Sabethes. A transmissão da febre amarela urbana ocorre quando o vírus é transmitido de humano para humano pelo mosquito Aedes aegypti.
Preparação para resposta nas Américas Os países das Américas continuam redobrando esforços no fortalecimento da preparação e resposta a possíveis surtos de febre amarela.
Em dezembro de 2018, as equipes técnicas dos municípios da tríplice fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai se reuniram em Foz do Iguaçu, para iniciar o desenvolvimento de planos de contingência para surtos de febre amarela que pudessem ocorrer naquela zona. Os especialistas avaliaram o risco da doença naquela região, as necessidades de vigilância e resposta na área e identificaram ações técnicas a serem realizadas a curto e médio prazos.
Em novembro do ano passado, as autoridades de saúde dos 13 países endêmicos da região se reuniram em Lima, Peru, para analisar o risco em cada país, bem como analisar as populações que deveriam ser vacinadas com base nesse risco. Os especialistas trabalharam no desenvolvimento de seus planos de imunização contra a febre amarela a curto e médio prazo. Eles também abordaram o uso de doses fracionadas da vacina em resposta a surtos de febre amarela, diante de quantidades limitadas de vacinas e em grandes cidades. A identificação de lacunas na prevenção e resposta a surtos também fez parte da análise feita nessa reunião de três dias.
Essa reunião foi realizada no contexto da Estratégia da OMS para a Eliminação da Epidemia de Febre Amarela (EYE, na sigla em inglês), que busca eliminar epidemias dessa doença nas Américas e na África até 2026, ao proteger populações em risco por meio de campanhas preventivas em massa e vacinação de rotina.
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Posted: 01 Feb 2019 06:51 AM PST
Clique para exibir o slide.Em 27 de janeiro, a ONU marca o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Para refletir sobre a tragédia que atingiu judeus e outras minorias durante a Segunda Guerra Mundial, o Centro de Informação da ONU no Brasil (UNIC Rio) inaugurou nesta semana (29) uma exposição de desenhos e redações sobre o tema, produzidas por alunos da rede municipal do Rio de Janeiro.
A abertura da mostra “Holocausto: Esquecer Jamais”, em cartaz no Palácio Itamaraty da capital fluminense, reuniu os jovens autores das obras e representantes das comunidades judaica e cigana, incluindo o sobrevivente Freddy Glatt, nascido na Alemanha e perseguido pelos nazistas.
“Levaram meus irmãos, meus avós e meus colegas. Eu tenho pesadelos até hoje”, contou Glatt, que hoje é presidente da Sherit Hapleitá, a Associação de Sobreviventes do Holocausto do Rio de Janeiro.
Atualmente, ele realiza palestras em escolas brasileiras e defende a importância de continuar transmitindo aos jovens a história das atrocidades cometidas.
O Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto homenageia as 6 milhões de pessoas, entre judeus, ciganos, homossexuais e integrantes de outras minorias, que foram mortas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também presente no evento, o presidente da União Cigana do Brasil, Mio Vacite, falou sobre a necessidade de ampliar o conhecimento sobre a perseguição e o extermínio dos ciganos pelos nazistas.
“Eu só fui ter consciência sobre o ‘nosso Holocausto’ aos 45 anos de idade. Os ciganos que vieram para o Brasil tinham tanto medo de assumir suas identidades que não ousavam passar para os seus filhos a história de seu povo”, explicou Vacite, observando que “ninguém deveria falar sobre direitos humanos e este tema sem mencionar a enorme dívida da humanidade com os povos ciganos”.
A proposta da exposição “Holocausto: Esquecer Jamais” vai ao encontro dos apelos das comunidades judaica e cigana. A mostra reúne desenhos, textos em prosa e poesia que ganharam um concurso da Secretaria Municipal de Educação do Rio e da Associação B’nai B’rith. A competição fez parte da Jornada Interdisciplinar do Holocausto, realizada anualmente em colégios públicos pelas duas instituições. A iniciativa discute o genocídio ocorrido na Segunda Guerra e também desafios atuais no exercício pleno dos direitos humanos.
“Essa homenagem é um marco na vida destes alunos que, apesar de jovens, já têm contato com um tema tão importante e certamente serão replicadores do conhecimento que aprendem em sala de aula”, afirmou o coordenador de História da pasta municipal, Roberto Antunes, que entregou menções honrosas aos autores mirins das obras exibidas pela ONU.
Débora Caldas, de 11 anos, é criadora de um dos desenhos vencedores. A estudante conta que sua inspiração veio da “vontade de transmitir para as pessoas como o Holocausto foi ruim para todo mundo”.
“Eu me coloquei no lugar daquelas pessoas e então foi como se o meu coração pegasse o lápis e começasse a desenhar”, contou a jovem.
Promovida pela Secretaria Municipal em parceria com o UNIC Rio, a exposição fica em cartaz até 28 de fevereiro no Palácio Itamaraty do Rio de Janeiro. A mostra é aberta ao público de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, com entrada franca.
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