James Stern: o ativista negro que virou líder de um dos maiores grupos neonazistas nos EUA – e como busca agora destruí-lo
Reverendo de 54 anos assumiu a presidência do Movimento Nacional Nacionalista em janeiro deste ano, confirmou à BBC News Mundo ONG que monitora movimentos supremacistas em todo o mundo.
James Stern é um reverendo protestante e defensor dos direitos civis dos negros — Foto: Facebook/James H Stern
Um líder negro para um grupo neonazista. Parece uma sequência de BlacKkKlansman, o novo filme de Spike Lee que no domingo passado ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado. Mas a realidade supera mais uma vez a ficção.
James Hart Stern, um ativista negro de 54 anos, é o novo presidente do Movimento Nacional Socialista (NSM, da sigla em Inglês), um dos maiores grupos antissemitas e racistas dos Estados Unidos.
E, aparentemente, ele já tem um objetivo claro: destruir esse grupo.
O Southern Poverty Law Center (SPLC), ONG que monitora os movimentos supremacistas, confirmou à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, que em janeiro Stern substituiu o neo-nazista Jeff Schoep – que defende um país "apenas brancos" – como presidente da NSM.
Não se sabe ao certo como o ativista chegou à liderança da organização, apontada pelo SPLC como um dos maiores "grupos abertamente hitleristas" no país.
Documentos a que a BBC News Mundo teve acesso, entretanto, indicam que Stern já deu os primeiros passos para "reformar" o grupo.
Um ofício datado de janeiro indica que Stern, já como presidente, pediu a mudança de endereço e de representantes legais do grupo, que aparecia em nome de Schoep e do advogado Elmer Woodard, a cara legal do supremacismo branco nos Estados Unidos.
Outro documento judicial nomeia Stern como representante em uma ação civil que alega que o NSM estava entre as organizações que causaram "danos emocionais e econômicos" a dezenas de pessoas na manifestação neonazista "Unite the Right" (Unir a direita, em tradução literal), realizada em 2017 em Charlottesville, Virgínia.
Seu primeiro passo enquanto presidente foi pedir ao juiz que declare o grupo culpado de conspirar para cometer atos de violência durante a manifestação, que deixou uma pessoa morta.
Documentos judiciais atestam as primeiras mudanças promovidas por Stern — Foto: BBC
Até este fim de semana, nem Stern nem Schoep haviam falado publicamente sobre o assunto. A BBC News Mundo tentou contatá-los, mas não obteve resposta.
No entanto, em uma página de Facebook que parece pertencer ao ativista, ele compartilhou sexta-feira – com um comentário enigmático – uma notícia sobre o vazamento de sua nomeação.
"Eu vou fazer a declaração mais assustadora sobre a raça desde o Caso Mississippi em Chamas, de 1964", disse ele, referindo-se aos assassinatos de ativistas pró-direitos civis dos negros naquele ano.
Mas quem é esse ativista e o que se sabe sobre como ele se tornou líder de um dos maiores grupos neonazistas dos Estados Unidos?
Quem é James H Stern?
Stern, nascido em 1965 em Moreno Valley, Califórnia, é um reverendo protestante e defensor dos direitos civis dos negros que também lidera o Ministério de Alcance para a Reconciliação Racial, uma "organização progressista e internacional que luta pela mudança social", de acordo com a sua página na internet.
De acordo com o SPLC, ele ficou conhecido há alguns anos por dissolver um "capítulo notório" do grupo racista Ku Klux Klan (KKK).
O agora líder do grupo neonazista, aliás, publicou em outubro passado um livro intitulado "O Mississippi ainda está em chamas", em que conta como foi o processo pelo qual acabou com a célula da organização supremacista.
Segundo o livro, em 2010, Stern, que cumpriu cinco anos de prisão, dividiu cela com um "grande guru" do Ku Klux Klan, Edgar Ray Killen, apontado anos antes como responsável pelas mortes, em 1964, de três ativistas negros que pediam direito a voto para pessoas afrodescendentes.
Após sua libertação, Killen assinou uma procuração e deu a ele direitos sobre algumas terras. Stern posteriormente o usou para acabar com o núcleo do KKK do qual o supremacista fazia parte.
Não foi a primeira vez que um homem negro se inseriu em organizações de extrema direita.
Na verdade, BlacKkKlansman, o filme de Spike Lee, conta a história real de Ron Stallworth, um policial que conseguiu se infiltrar no KKK e ascender dentro dele.
Mas pouco antes de acabar com uma célula do Klan, outro acontecimento casual levou Stern a um dos maiores movimentos neonazistas dos Estados Unidos.
O que é o NSM?
O NSM foi criado na década de 1970 com o nome de Movimento Nacional Socialista dos Trabalhadores Americanos pela Liberdade. É um dos que celebram as doutrinas de Hitler.
De acordo com o SPLC, foi durante anos um grupo periférico, até que no início dos anos 2000 se tornou uma das estruturas neo-nazistas mais notáveis do país.
O grupo é conhecido por participar de manifestações com uniformes que lembram os dos soldados da Alemanha nazista e organiza várias reuniões e eventos em rede, assim como marchas em várias épocas do ano.
Schoep, que foi seu líder a partir de 1994, o registrou 10 anos depois como organização sem fins lucrativos. E, segundo Stern, sua proximidade com Killen despertou a curiosidade dele.
Em fevereiro de 2017, Stern anunciou publicamente em seu blog que se encontraria com o "Comandante do maior grupo supremacista branco do mundo" para discutir algumas mudanças.
"O reverendo Stern assume esse grupo que despejou tanto veneno no mundo com sua propaganda racista para mudar suas maneiras", escreveu ele na época.
Ele explicou ainda que não era a primeira vez que eles se reuniam e atribuiu a seus esforços o fato de o grupo ter trocado a suástica de sua bandeira pela runa Odal - outro símbolo comum da supremacia branca.
Mas nada mais se soube a respeito desde então.
Em uma entrevista ao The Washington Post na sexta-feira, o reverendo contou que Schoep entrou em contato com ele em janeiro passado para lhe pedir aconselhamento sobre a ação judicial envolvendo Charlottesville e suas possíveis implicações financeiras.
De acordo com declarações do reverendo, Schoep também teria dito que se sentia menosprezado por seus seguidores e excluído do movimento nacionalista branco que, segundo ele, havia varrido o país depois das eleições presidenciais de 2016.
Em páginas de redes sociais usadas por membros de partidos neo-nazistas e consultadas pela BBC News Mundo, há diversos comentários negativos dos participantes sobre Schoep e o curso que ele estava dando à organização.
Alguns mencionavam, inclusive, que o NSM vivia uma "guerra interna" entre seus dirigentes. E aí, Stern afirma que viu o filão: ele propôs que Schoep lhe passasse o controle da organização e de seu site.
De acordo com o Washington Post, entretanto, Schoep escreveu uma declaração aos seguidores "afirmando que havia sido enganado por Stern".
Segundo o texto, o reverendo o teria convencido de que, "para proteger nossos membros (da organização) do processo em andamento, eu deveria passar a presidência do NSM para ele".
Stern diz que se limita a buscar conselhos entre líderes judeus para determinar o que fazer com o grupo, embora tenha descartado a possibilidade de dissolvê-lo imediatamente.
Um de seus objetivo, disse ele, é transformar o site em um espaço para "educar" os seguidores da NSM sobre a história do Holocausto.
Resta saber o que os membros do movimento neonazista pensam sobre o seu novo líder.
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- Helton ThompsonHÁ 23 HORASBuguei lendo isso, só entendi que o nosso atual governo nao pode ser intitulado de extrema direita
- Alexandre SaboyaHÁ 6 HORASÉ de extrema direita sim.
- Jaime AlmeidaHÁ 5 HORASEntao deve ser de extrema esquerda e o PeTe de extrema direita. E os bolsominions de extrema bur.rice, so pode
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