Ellen Ochoa, primeira astronauta mulher latina. Foto: ONU Mulheres
Em evento para celebrar o
Dia Internacional das Mulheres, 8 de março, o chefe da ONU António Guterres afirmou nesta sexta-feira, em Nova Iorque, que a igualdade de gênero e os direitos das mulheres são fundamentais para enfrentar desafios coletivos, que vão desde as mudanças climáticas até o enfraquecimento do multilateralismo. Cerimônia na sede das Nações Unidas discutiu o papel das mulheres na ciência e inovação.
“Só podemos restabelecer a confiança e construir a solidariedade global desafiando as injustiças históricas e promovendo os direitos e a dignidade para todos”, disse Guterres.
“Só podemos alcançar o desenvolvimento sustentável e a paz utilizando todos os nossos recursos e capacidades”, afirmou o secretário-geral da ONU, enfatizando a necessidade de inclusão das mulheres no mercado de trabalho e na educação.
“Não aceito um mundo que diz para as minhas netas que as netas de suas netas terão que esperar até existir a igualdade econômica”, acrescentou Guterres.
O chefe das Nações Unidas afirmou ainda que “a igualdade de gênero é fundamentalmente uma questão de poder”. Na visão de Guterres, o mundo, ainda dominado por homens, “ignorou, silenciou e oprimiu mulheres por séculos — até mesmo milênios”.
De acordo com o dirigente máximo da Organização, apesar das conquistas e sucessos das mulheres, suas vozes e opiniões ainda são rotineiramente desconsideradas, com todos pagando o preço da desigualdade e opressão.
“Aumentar o número de mulheres em posições de decisão é essencial”, ressaltou Guterres, explicando que a ONU alcançou a paridade de gênero nos cargos de liderança em todo o mundo.
Avanços e desafios
A presidente da Assembleia Geral da ONU, María Fernanda Espinosa, lembrou avanços recentes em prol do empoderamento feminino, como a eleição inédita de líderes e chefes de Estado mulheres na Etiópia, Geórgia, Romênia, Trinidade e Tobago e Barbados. Outro progresso foi a primeira condenação por feminicídio no Uruguai.
A dirigente, porém, alertou que, quase quatro décadas depois da adoção da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, “ainda não estamos nem perto da igualdade”. Em praticamente todos os índices de desenvolvimento, as mulheres estão atrás dos homens, afirmou María Fernanda.
“Toda mulher e toda menina sabe que a sua realidade vivida é muito diferente da de seu pai ou irmão”, enfatizou a presidente da Assembleia Geral.
Phumzile Mlambo-Ngcuka, chefe da ONU Mulheres, em evento para celebrar o Dia Internacional das Mulheres em Nova Iorque. Foto: ONU Mulheres
Ressaltando que faltam apenas 11 anos para a comunidade internacional cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), María Fernanda foi enfática — “precisamos desesperadamente fechar a lacuna de gênero na educação e levar mais mulheres para (as áreas de) ciência e tecnologia”.
A presidente encorajou organizações de base a levar a luta por igualdade para dentro das comunidades e também para os corredores do poder. A fim de aumentar o número e a diversidade de mulheres em posições de liderança, María Fernanda promoverá um evento de alto nível na próxima terça-feira (12).
A dirigente concluiu seu discurso com uma citação da escritora e ativista norte-americana Audre Lorde: “Eu não serei livre enquanto outra mulher não for livre, mesmo quando os seus grilhões forem bem diferentes dos meus”.
A presidente da Comissão da ONU sobre o Estatuto das Mulheres, Geraldine Byrne Nason, lembrou o início da ONU, quando as “mulheres eram poucas e estavam distantes umas das outras”. “Levou bastante tempo para que nossas vozes fossem ouvidas e nossas mensagens fossem registradas”, enfatizou a dirigente.
Mas hoje, completou Geraldine, “estamos no centro do palco e não pretendemos de jeito nenhum abaixar o volume”.
Inspiração e inovação
Também presente, a chefe da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, afirmou que a ONU quer “que as próprias mulheres e meninas sejam inspiradas a inovar e influenciar todo o ecossistema de inovação”.
“As mulheres não são simplesmente usuárias de soluções prescritas, elas também projetam soluções para sociedades inteiras e estão equipadas para enfrentar os problemas que afetam as suas vidas”, disse a dirigente.
De acordo com Phumzile, a igualdade e o empoderamento estão “injetando um olhar de gênero no DNA da inovação”. “As mulheres e meninas têm um papel vital para desempenhar na quarta revolução industrial, moldando as políticas, serviços e infraestruturas que afetam as suas vidas”, defendeu a dirigente.
‘As garotas em todo mundo sonham grande’
Em discurso na cerimônia, a ex-diretora do Centro Espacial Johson, Ellen Ochoa, a primeira astronauta mulher latina, atribuiu à sua educação em ciência o feito de ter participado de quatro missões espaciais. A especialista afirmou que sua mãe foi um exemplo para ela — a mãe de Ellen cursou uma disciplina na faculdade por semestre ao longo 20 anos para conseguir se formar, o que mostrou para a família a importância da educação.
A ex-astronauta enfatizou que é essencial as meninas estudarem tecnologia, engenharia, ciência e matemática — disciplinas conhecidas pela sigla em inglês STEM.
“A engenharia, o desenvolvimento e a inovação tratam de curiosidade, de criatividade, de trabalhar com equipes e resolver problemas”, explicou Ellen. “As meninas adoram fazer essas coisas.”
Mas a viajante do espaço destacou que a batalha foi árdua para que mulheres pudessem ser aceitas em programas de treinamento para astronautas. Ellen lembrou as ativistas que trabalharam incansavelmente para mudar as leis e acrescentou que fica feliz em servir de exemplo hoje para “as garotas em todo o mundo que estão sonhando grande”.
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