Em mensagem para o Dia Internacional da Juventude, comemorado pela ONU em 12 de agosto, o secretário-geral António Guterres defende a criação de espaços seguros para os jovens, onde crianças e adolescentes tenham seus direitos protegidos e suas vozes, ouvidas. Atualmente, existem no mundo 1,8 bilhão de pessoas de dez a 24 anos de idade — o maior contingente nessa faixa etária já registrado em toda a história.
Para o dirigente máximo das Nações Unidas, “paz, o dinamismo econômico, justiça social, tolerância e muito mais” dependem do poder da juventude. “No entanto, mais de 400 milhões de mulheres e homens jovens vivem em meio ao conflito armado ou violência organizada. Milhares enfrentam privações, assédio, bullying e outras violações de direitos”, alertou o chefe máximo da Organização.
Guterres acrescentou que lugares públicos, civis, físicos e digitais devem oferecer segurança para os jovens. Nesses espaços, a juventude deve poder expressar livremente suas opiniões e seguir seus sonhos, completou o secretário-geral.
“As Nações Unidas estão firmemente comprometidas a ouvir as vozes dos jovens e abrir caminhos para participação substancial nas decisões que os afetam. Em setembro, lançaremos uma nova estratégia parar marcar nosso trabalho com os jovens e para os jovens”, completou Guterres.
Saúde sexual e reprodutiva
Também por ocasião da data, a chefe do Fundo de População das Nações Unidas (
UNFPA), Natalia Kanem, enfatizou que, sem a participação da juventude, o mundo não conseguirá alcançar os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
“Os jovens, especialmente as adolescentes, enfrentam desafios formidáveis para permanecer saudáveis, ter educação e tomar suas próprias decisões na vida. Ameaças aos seus direitos e seu bem-estar hoje colocam em risco seu potencial de se tornarem cidadãos engajados e produtivos amanhã”, disse a dirigente da agência da ONU.
Kanem explicou que o UNFPA, por meio da promoção da saúde sexual e reprodutiva, mantém uma longa tradição de estímulo à participação social dos jovens. “Nossos esforços permitem aos jovens desenvolver as habilidades, conhecimentos e apoio de que precisam para tomar decisões informadas sobre seus corpos, suas vidas, famílias, comunidades, países e nosso mundo.”
Lembrando o lema que tem ganhado cada vez mais força entre o ativismo jovem — “Nada para a gente, sem a gente!” —, a chefe do organismo pediu esforços da comunidade internacional para reconhecer as contribuições e necessidades da juventude em diferentes níveis.
“Temos o poder, e a responsabilidade, de ajudar cada menina e cada menino a fazer uma transição segura e saudável da adolescência para a vida adulta. Todos os espaços deveriam ser espaços seguros para a juventude — o lar, a sala de aula, o centro de saúde e as mesas onde políticas e acordos de paz são escritos.”
Conscientização para eliminar a AIDS
Para marcar o dia internacional, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (
UNAIDS) divulgou dados de uma nova pesquisa sobre o que os jovens sabem a respeito de saúde sexual e reprodutiva. Com a participação de 270 mil entrevistados de 21 países, o levantamento alerta para a discriminação em redes de atendimento.
Aproximadamente 15% dos entrevistados que acessaram qualquer serviço de saúde sexual nos últimos seis meses sofreram recusa ou maus-tratos por causa da idade, orientação sexual, identidade de gênero ou estado sorológico para HIV. Entre os que se sentiram maltratados por causa da faixa etária, 55% se identificaram como gays e bissexuais e 25%, como pessoa vivendo com HIV.
De acordo com o relatório, 32% dos jovens gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens e 50% dos jovens trans acham que foram discriminados por causa de sua identidade de gênero ou orientação sexual. O documento mostra ainda que 16% dos jovens que se identificaram como pessoa vivendo com HIV afirmaram ter sido maltratados por causa da sorologia positiva.
Realizado por uma coalização global com mais de 80 organizações de jovens, em parceria com o Youth Voices Count (YVC), o levantamento também teve o apoio do UNAIDS, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e do UNFPA. A pesquisa entrevistou crianças, adolescentes e jovens adultos, com idade entre dez e 14 anos.
Mais da metade dos entrevistados — 54% dos meninos e homens e 58% das meninas e mulheres — disseram ter buscado serviços de HIV e outros serviços de saúde em um centro de atendimento ou clínica nos últimos três meses. O relatório aponta que 36% dos jovens que não buscaram serviços relataram que se sentem desconfortáveis em buscar esses espaços. Mais de 28% dos pesquisados, de ambos os sexos, disseram que tinham medo de procurar serviços de saúde.
“A AIDS está longe de acabar, mas pode acontecer se os jovens estiverem informados, livres e capazes de ter acesso a serviços que sejam seguros e adequados às suas necessidades específicas”, defendeu o diretor-executivo do UNAIDS, Michel Sidibé.
A pesquisa mostra ainda que 37% dos entrevistados que relataram ter visitado uma clínica não estavam dispostos a recomendá-la aos seus pares.
“É impossível existir uma geração livre de AIDS enquanto a exclusão, a marginalização e a discriminação tiverem espaço para florescer e prosperar. Não podemos mais nos dar ao luxo de sermos complacentes. Essas barreiras não serão vencidas por conta própria ou com o passar do tempo. Pelo menos até que nos unamos ativamente para acabar com elas”, ressaltou a consultora sênior sobre Adolescentes e HIV do UNICEF, Damiola Walker.
Todos os dias, ocorrem aproximadamente 1,6 mil novas infecções por HIV entre jovens. Um jovem morre de complicações relacionadas à AIDS a cada dez minutos. Mulheres de 15 e 24 anos são particularmente mais afetadas pelo avanço da epidemia. Na África Subsaariana, elas têm duas vezes mais chances de serem infectadas pelo HIV do que os homens.
UNESCO defende espaços de inclusão
Em pronunciamento, a diretora-geral da
UNESCO, Audrey Azoulay, defendeu que os espaços frequentados pelos jovens sejam inclusivos. Para a chefe da agência da ONU, é necessário “superar as diferenças de gênero, cultura, língua e religião, além de assegurar o respeito à liberdade de expressão e à dignidade de cada indivíduo”.
“É essencial eliminar a discriminação, o assédio e todas as formas de violência, sejam manifestas ou disfarçadas, e ajudar a evitar tentativas de doutrinação”, completou a dirigente.
“Com isso em mente, a UNESCO lança este ano o projeto “Espaços para jovens”, que visa à criação de redes que possam atuar em diferentes âmbitos – locais, regionais e nacionais –, bem como reunir não apenas jovens, mas também representantes políticos, pesquisadores, empresários e formadores de opinião”, anunciou Audrey.
Segundo a chefe da UNESCO, o objetivo do projeto é envolver os jovens na elaboração de programas dentro do mandato da UNESCO, que inclui educação, cultura, ciência, comunicação e informação. Com a estratégia, o organismo internacional espera trazer a juventude para dentro dos processos de tomada de decisão, transformando os jovens em atores-chave na vida social e política.
Citando a frase da cantora e escritora Patti Smith, “Quem pode conhecer o coração da juventude, senão a juventude em si?”, Audrey chamou formuladores de políticas e empreendedores da sociedade civil a criar novas formas de colaboração com a juventude.
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