Voluntária ajuda em coleta de plástico numa praia de Watamu, no Quênia. Foto:
Em todo o mundo, centenas de milhares de crianças e jovens foram às ruas em março exigir que governos agissem com mais rapidez para proteger o meio ambiente. O “terremoto jovem” sem precedentes parecia sinalizar uma nova era. Líderes mundiais se viram obrigados a parar e prestar atenção.
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ONU Meio Ambiente e o governo do Reino Unido juntaram esforços para aproveitar o ativismo dessa juventude. O organismo internacional e as autoridades britânicas vão trabalhar com escoteiros, bandeirantes, estudantes universitários e movimentos jovens no Quênia, Uganda, Tanzânia e Gana. A Índia e as Ilhas Maurício serão os próximos países a subir a bordo da mobilização.
O objetivo da parceria é encorajar crianças, adolescentes e jovens adultos a ganharem a Insígnia do Desafio
O Mar Não Está para Plásticos. Com isso, as Nações Unidas e o país europeu querem criar as bases de uma nova maneira de lidar com o nosso vício em plástico.
Com financiamento inicial do Departamento do Reino Unido para o Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais, lideranças jovens já foram treinadas e estão prontas para compartilhar conhecimentos e entregar insígnias. A iniciativa produziu um extenso guia de ferramentas para orientar as organizações da juventude e para inspirar os cidadãos do futuro a adotar medidas que reduzam o uso de plásticos.
“A energia dos movimentos de jovens em torno desse assunto é gigante e o alcance combinado dos escoteiros, bandeirantes e estudantes universitários ultrapassa os 2 milhões de jovens no Quênia. Nós precisamos trabalhar com a próxima geração agora”, diz Bryan Michuki, assistente de Educação e Comunicação da ONU Meio Ambiente em Nairóbi.
“Nunca vi tanta paixão no que diz respeito (ao combate) à poluição plástica e lixo marinho como vi nas últimas semanas, especialmente no Quênia”, acrescenta o especialista, que tem promovido as capacitações.
“Em cada país onde realizamos treinamentos, temos algum orador que diz ‘Já chega. Nossos pais bagunçaram o meio ambiente, é a nossa vez. Precisamos agir certo agora’. Então existe um sentimento de urgência. Os jovens estão frustrados, nervosos e tristes com a poluição ambiental.”
O projeto da ONU Meio Ambiente quer canalizar essa raiva para ações construtivas através da Insígnia do Desafio
O Mar Não Está para Plásticos, que é inspirado em insígnias tradicionais de conquistas dos escoteiros.
“Todos merecem um meio ambiente limpo e decente para viver, para admirar a natureza bela”, afirma Pankaj Varsani, aluno da Universidade Strathmore, em Nairóbi, e participante do treinamento da Insígnia. “Mas o que estamos fazendo? Poluindo. Ao ensinar os jovens a fazerem a diferença hoje, juntos podemos mudar o futuro.”
As insígnias possuem três níveis: iniciante, líder e campeão. Na categoria iniciante, os jovens precisam pensar em como podem reduzir o uso de plásticos diariamente e levar outras pessoas a fazerem o mesmo. Quando essa tarefa for concluída, podem avançar ao nível de líder, que envolve verificar a “pegada plástica” de escolas, desenvolver uma campanha de cartazes ou organizar uma assembleia ou aula sobre o problema.
O nível final, de campeão, exige ampliar os esforços de ativismo para a comunidade e região ou até mesmo para o país. Os jovens precisam criar um esquema de coleta de plásticos ou levar suas preocupações com a gestão do lixo para as autoridades locais. Os participantes também podem pedir para lojas e empresas reconsiderarem o uso dos plásticos. Outro caminho rumo à insígnia é tentar persuadir um político local a participar da campanha.
“A Insígnia do Desafio me fez viver os 3Rs: reduzir, reutilizar e reciclar”, conta Yussif Kamara, escoteiro de Accra, em Gana, que participou do treinamento.
Jovens também estão sendo encorajados a se comprometer com a campanha Mares Limpos, da ONU Meio Ambiente, e a se juntar à maior aliança global contra o lixo nos oceanos. A iniciativa já conta com 60 países e cobre 60% dos litorais do mundo.
O foco principal da Insígnia do Desafio é a ação prática. O objetivo é gerar mudanças duradouras, explica Ivy Wanjeri, oficial de projetos da
Junior Achievement Kenya, uma organização sem fins lucrativos que busca inspirar e preparar jovens para a economia global.
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Junior Achievement também oferece a nova Insígnia do Desafio em mais de 300 escolas no Quênia. Segundo Wanjeri, os jovens já estão pensando em maneiras inovadoras para combater a poluição plástica. A expectativa é de que essas ideias possam resultar em projetos e modelos comerciais, capazes de criar oportunidades de emprego.
“Uma das coisas que estamos incentivando nossos jovens a fazer é começar a construir uma economia mais verde e entender que eles podem contribuir com o que está acontecendo. Além de apenas falar sobre o problema, vamos criar soluções que sejam sustentáveis e criar incentivos econômicos para nossos jovens e as comunidades onde vivem”, defende Wanjeri.
O ativista participou da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente no Quênia, em março último, quando o guia de ferramentas foi apresentado.
Bryan Michuki concorda que a meta é gerar uma mudança sistemática. “Essa insígnia não está só sensibilizando os jovens sobre a poluição plástica. É muito maior do que isso. Esperamos poder contribuir para a criação de empregos de colarinho verde”, completa o especialista da ONU Meio Ambiente.
Os primeiros países a participar do desafio foram escolhidos porque fazem parte da
Commonwealth — Comunidade Britânica — e possuem fortes tradições de escotismo e bandeirantismo. A ideia é expandir o programa nos próximos meses para as Ilhas Maurício e a Índia, onde o governo prometeu eliminar o uso de plásticos descartáveis até 2022.
Wanjeri diz que jovens quenianos estão cada vez mais cientes dos perigos da poluição plástica e possuem uma noção mais ampla das mudanças climáticas. Essa consciência tem sido motivada pela ocorrência de secas cíclicas em regiões do sul do país, incêndios florestais recentes no icônico Monte Quênia e problemas como desmatamento e enchentes, que foram piores em algumas áreas por causa do acúmulo de lixo plástico em sistemas de drenagem.
“Agora está além da conscientização e, em vez disso, estamos concluindo que isto está realmente acontecendo. Podemos sentir o impacto do que estamos fazendo para degradar o nosso meio ambiente”, afirma Wanjeri.
O programa da Insígnia do Desafio foi anunciado durante visita ao Quênia da primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, em agosto de 2018. O governo britânico também está apoiando um programa de intercâmbio para conectar escoteiros e bandeirantes do Reino Unido com colegas no Quênia e outros países. A insígnia está disponível para jovens no Reino Unido.
Embora nenhum distintivo tenha sido entregue ainda, mudanças já estão acontecendo.
Michuki explica que um dos grupos que treinou em Uganda decidiu dialogar com a Coca-Cola após a sessão. “Poucos dias após o treinamento, ouvimos falar que os jovens já haviam coletado garrafas plásticas para transformar as garrafas recicladas em móveis. Eles então foram à Coca-Cola e estão conversando agora para ver se podem fazer algo juntos.”
“Todo o conceito desta insígnia não é apenas sensibilizar os jovens sobre plásticos descartáveis. É chegar a produtores e fabricantes no nível de campeão. Cabe a você e seus amigos mudarem o sistema”, completa o especialista das Nações Unidas.
Para informações sobre a Insígnia do Desafio, entre em contato pelo e-mail:
unenvironment-yea@un.org.
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