Escócia dá 1º passo rumo a novo plebiscito sobre independência: Entenda o que isso significa
- 13 outubro 2016
A premiê escocesa, Nicola Sturgeon, anunciou a realização, na próxima semana, de uma consulta sobre planos de realizar um segundo plebiscito sobre a independência do país em relação ao Reino Unido.
Sturgeon disse em conferência do Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla em inglês), do qual é líder, que haverá publicação de uma lei de plebiscito, primeiro passo necessário para a nova votação.
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No primeiro plebiscito, em 18 de setembro de 2014, o "não" venceu com 55% dos votos.
Mas o que motiva essa nova iniciativa e qual é seu significado? E qual é a probabilidade de a votação ser refeita tão pouco tempo depois da primeira?
Por que a premiê escocesa quer um novo plebiscito?
Sua origem está diretamente ligada à decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia, conhecida como Brexit.
A Escócia rejeitou a medida por 62% a 38%, enquanto o "sim" venceu no Reino Unido como um todo, com 52% dos votos.
Em 24 de junho, o dia seguinte ao Brexit, Sturgeon disse que uma nova votação sobre a independência escocesa era "muito provável".
Ela defende que a Escócia tem o direito de escolher um caminho diferente se não for permitido ao país proteger seus interesses "dentro do Reino Unido".
"Estou certa de que a Escócia terá a possibilidade de reconsiderar a questão da independência e fazê-lo antes de o Reino Unido sair da União Europeia - se isso for necessário para proteger os interesses de nosso país", afirmou Sturgeon.
"Então, posso confirmar hoje que uma Lei de Plebiscito de Independência será publicada para que seja feita uma consulta na próxima semana."
Sturgeon disse na mesma ocasião que os parlamentares do SNP serão contra o Brexit quando o assunto for votado pela Câmara dos Comuns no próximo ano e que eles trabalharão para convencer os membros de outros partidos a fazer o mesmo. "Não só pela Escócia, mas por todo o Reino Unido."
É uma posição unânime entre os líderes políticos da Escócia?
Sturgeon enfrenta a oposição de David Mundell, secretário de Estado escocês, que atua como representante do país na administração britânica e é o único integrante escocês do Partido Conservador, o mesmo da atual premiê britânica, Theresa May, no Parlamento do Reino Unido.
Mundell pediu que Sturgeon "comprometa seu governo a trabalhar construtivamente com o governo britânico para aproveitar as oportunidades que virão e não fazer a Escócia retroceder aos debates constitucionais divisivos do passado".
"Falar constantemente sobre um novo plebiscito de independência cria incerteza e prejudica a economia escocesa em um momento em que nosso crescimento é menor do que o do Reino Unido como um todo."
Quais são as chances do novo plebiscito ser realizado?
Uma consulta não significa que uma decisão sobre a realização da votação já esteja tomada nem que ela de fato será realizada, esclarece Brian Taylor, editor de política da BBC Escócia. "Não significa quase nada", diz Taylor.
Sturgeon não prometeu nem ameaçou que de fato levará à frente o plebiscito, destaca Sarah Smith, editora para Escócia da BBC News.
Ela ainda enfrenta alguns problemas. Pesquisas de opinião apontam que o apoio à independência quase não aumentou desde o plebiscito britânico que determinou a saída da União Europeia.
E as atuais circunstâncias econômicas, com a queda do preço do petróleo, são menos favoráveis do que há dois anos. "Sturgeon não vai se apressar para realizar uma votação que ela pode perder", afirma Smith.
Sturgeon reconheceu que, se houver uma nova votação, seria preciso trabalhar para convencer os cidadãos de que a independência seria benéfica, mas deixou claro que a opção ainda está sobre a mesa e que se está se preparando para isso caso acredite que o momento seja favorável.
"Não vejo um novo plebiscito ocorrendo em 2017, talvez em 2018", avalia Taylor. "Primeiro, os termos do Brexit precisam estar mais claros para que a independência tenha força como alternativa a isso."
Qual é a mensagem que o anúncio de Sturgeon envia para o governo britânico?
Houve na fala da premiê uma declaração muito mais significativa e que gerou poucos aplausos.
Sturgeon disse que seu governo fará propostas, que já estão sendo elaboradas, para manter o máximo possível de laços da Escócia com a União Europeia após o Brexit.
Isso ocorreria com a Escócia ainda parte do Reino Unido e não exigiria uma lei de plebiscito nem a independência. Mas demandaria conferir novos poderes ao Parlamento escocês - como a possibilidade de fechar acordos transnacionais.
"Em outras palavras, exigiria um Reino Unido mais flexível. Talvez conferindo à Escócia um status especial como o da Irlanda do Norte", diz Taylor.
"Ela está desafiando (a premiê britânica) Theresa May a vislumbrar essa opção e a levá-la a sério, como parte das mudanças que ocorrerão com a saída da União Europeia."
Em resposta ao discurso de Sturgeon, a porta-voz de May disse que a premiê está "totalmente comprometida em se envolver com o povo escocês, entender seus interesses e garantir que, em meio à negociação da saída da União Europeia, sejam tomadas medidas em prol do Reino Unido".
Theresa May já havia feito uma declaração semelhante pouco depois da decisão favorável a deixar a União Europeia, quando prometeu "envolver totalmente" o governo escocês nas discussões de como se dará essa saída.
Nenhuma dessas discussões ocorreu até o momento, e Sturgeon teme não ser ouvida quando elas ocorrerem.
Seu discurso é um alerta sobre a possibilidade de recorrer ao novo plebiscito caso as preocupações da Escócia sejam ignoradas.
Afinal, não há recado mais claro do que dizer: "Se vocês pensam por um segundo que não estou sendo séria ao dizer que farei o que seja necessário para proteger os interesses da Escócia, pensem de novo".
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