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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

A SERVIA NEGOCIA A ENTRADA NA UNIÃO EUROPEIA


Aproximação a Bruxelas pressupõe maior diálogo com o Kosovo e eventualmente um reconhecimento por Belgrado da independência da província.
A taxa de desemprego na Sérvia é de 20% e o salário médio de 400 euros mensais Adriano Miranda
Depois de ser, durante vários anos, um pária na cena política internacional, a Sérvia tem pressa de iniciar o processo histórico de negociações de adesão à União Europeia (UE), na esperança de rapidamente tirar proveito desta orientação estratégica para relançar a sua economia em crise.
O primeiro-ministro socialista Ivica Daviv lidera, esta terça-feira, a delegação sérvia em Bruxelas para o começo oficial das negociações. “Chegámos ao fim de um processo muito difícil. A Sérvia quer que as negociações para a adesão sejam rápidas e de boa qualidade”, declarou Dacic.
Segundo Tanja Misceviv, negociadora-chefe, estas conversações começarão pelo dossier mais difícil: aquele que diz respeito à justiça. “Tenho a impressão de estar ao volante de um Ferrari cujo motor arrancou e está em vias de acelerar”, afirmou não conseguindo disfarçar a sua impaciência.
A Sérvia obteve o estatuto oficial de candidato em Março de 2012, mas Bruxelas só anunciou a abertura das negociações um ano depois, quando em Abril de 2013, a Sérvia alcançou um acordo considerado histórico sobre a normalização das suas relações com o Kosovo.
Belgrado continua a recusar reconhecer a independência proclamada em 2008 pela maioria albanesa nesta província, mas sob pressão de Bruxelas, apaziguou as tensões e melhorou as suas relações com Pristina, para começar a ver abrir-se a porta do bloco dos 28.
As negociações de adesão pressupõem mais diálogo com as autoridades do Kosovo que Dacic descreve como um “assunto diário [de debate] e um pesadelo” para Belgrado. Muitas pessoas na Sérvia, e em particular os eurocépticos próximos do antigo primeiro-ministro nacionalista Vojislav Kostunica, pensam que o Kosovo continuará a ser o principal obstáculo na sua aproximação à UE. Temem que o país seja obrigado a reconhecer a independência do Kosovo antes de poder aderir à UE, o que é inconcebível para quase toda a classe política local. 
Desafios económicos
Mas até lá, a Sérvia será confrontada com outros desafios. Terá de reestruturar a sua economia em dificuldade e reformar o seu pesado sector público que sufoca as finanças governamentais. “Chegaremos à conclusão que a nossa administração não está suficientemente preparada, que não dispomos de capacidades institucionais e que serão precisos vários anos e investimentos para os colocar ao nível [dos europeus]”, disse Maja Bobic, analista de um grupo de reflexão local, o Movimento Europeu na Sérvia.
A Sérvia não conseguiu, até agora, reduzir o peso do sector público, que emprega mais de 700 mil pessoas num total de 1,7 milhões de pessoas que trabalham num país de 7,1 milhões de habitantes. Também não conseguiu pôr ordem nas empresas públicas habituadas a contrair dívidas.
Em vésperas do começo das negociações, a agência de notação financeira Fitch baixou a nota da Sérvia de “BB+” para “BB-” penalizando assim o Estado por não avançar com algumas reformas estruturais impopulares. Com um défice público que, pelo quinto ano consecutivo, ultrapassa os 7% do Produto Interno Brito (PIB), e uma dívida pública que superou os 60% do PIB, a Sérvia espera que as negociações de adesão melhorem a sua imagem.
“As negociações de adesão podem representar uma mensagem de incentivo para os investidores estrangeiros”, considera um analista económico Milan Culibrk. A taxa de desemprego atingiu 20,1% no país balcânico onde o salario mensal médio é de cerca de 400 euros. A Sérvia deveria também adaptar a sua agricultura, política ambiental e padrões de energia em função dos regulamentos europeus. “Esses sectores precisam de grandes ajustamentos e de muitos investimentos”, afirmou Maja Bobic.
Ognjen Trifunovic, um produtor de alimentação biológica, espera ver estas medidas implementadas em breve para poder exportar os seus produtos para o mercado europeu. “A nossa produção já está em linha com os níveis europeus”, disse à AFP.

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