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quinta-feira, 3 de julho de 2014

como israel se tornou nação emprendedora

Como Israel se tornou a nação empreendedora?

Israel é fruto de uma concessão inglesa aos judeus após a segunda guerra mundial, em 1948

Marcos Hashimoto,
Thinkstock
Muitos dos que estudam empreendedorismo devem ter ouvido falar da transformação que aconteceu nas últimas duas décadas que transformaram Israel na nova fronteira do empreendedorismo de alto impacto, desbancando, em vários aspectos, os EUA, mais particularmente o Vale do Silício, na Califórnia. A convite da Tel Aviv University, me juntei a um grupo de 15 professores de empreendedorismo e inovação de renomadas instituições do mundo para entender de perto este fenômeno. Relato, nas palavras abaixo, algumas das explicações que encontrei:
Com 22 mil metros quadrados (menor que o Estado de Sergipe), 8 milhões de pessoas (um terço da população paulistana), uma região árida com 210 metros cúbicos de água per capita (o recomendado é 1.000), vizinhos muçulmanos belicosos (7 guerras e 2 intifadas) e um passado de repressão e perseguição aos judeus (impérios bizantino, romano, cruzadas, nazistas, etc), Israel é fruto de uma concessão inglesa aos judeus após a segunda guerra mundial, em 1948. Desde então uma massiva campanha de migração trouxe, desde mão de obra barata entre os judeus etíopes, até profissionais altamente especializados entre os judeus russos. No total, mais de 20 países enviaram judeus para popular Israel.
Este é apenas o começo da história que transformou Israel em um grande exemplo de como se constrói uma nação. Muitas tentativas de implantar um modelo foram tentadas desde esta época, o mais conhecido e que durou por um bom tempo, foram os kibbutzim, ou células comunistas nas quais as pessoas vivem em função da sua comunidade, sem nada ou quase nada individual e auto-sustentável, em um microcosmo de economia agrária. Muito do senso de comunidade e coletividade do espírito empreendedor israelense vem deste modelo social, que, embora importante no processo de construção pioneiro dos primeiros anos, foi perdendo força com o crescimento dos princípios capitalistas de valor e riqueza individuais.
O DNA empreendedor de Israel tem suas sementes incrustadas na história de seu povo, que, desde a diáspora provocada pela invasão romana nos anos 800 a.C., vem lutando, em todos os lugares para onde se espalharam, para manter a cultura viva e os valores do povo judeu. Por isso, a determinação e perseverança, o otimismo exagerado (uma das expressões mais usadas é Yihie Beseder, ou ‘no final tudo vai dar certo’), o instinto de sobrevivência para enfrentar situações de risco, o culto e preservação de um legado, a priorização da educação, a hierarquia informal e flexível, na qual líderes podem ser questionados (‘chutzpah’ é o termo que expressa o comportamento arrogante, pragmático e questionador do judeu) e a postura positiva em relação ao fracasso, são todos fatores que caracterizam os empreendedores israelenses.
Mas tudo isso se juntou e fez sentido a partir de 1992, com o Yozma, uma ampla iniciativa governamental para estimular o surgimento de empresas de alta tecnologia por meio de investimentos de capital de risco. O Yozma foi a perfeita tradução em realidade da conhecida hélice tripla, na qual governo, empresa e universidade se inter-relacionam e mantêm um processo de crescimento contínuo e sustentável. Desde então, mais de 5.000 empresas foram lançadas, das quais 10% faturam hoje mais de US$ 20 milhões, a maioria usando tecnologias desenvolvidas nas universidades e bancadas por fundos de capital de risco apoiados pelo governo. 33% das empresas especializadas em ciências da vida foram fundadas há menos de 5 anos, as demais têm menos de 10 anos de vida, das quais 60% produzem dispositivos médicos.
Não é por acaso que as empresas de tecnologia israelenses se destacam nas áreas de energia limpa, biotecnologia, segurança e militar. Dadas as condições extremas em que Israel se encontra, tanto climáticas como geopolíticas, seus governantes viram que a excelente formação educacional poderia ser usada para desenvolver soluções para atender suas principais necessidades. Por isso, 923 empresas de ciências da vida foram lançadas até hoje, entre 800 e 900 empresas de high tech são criadas todos os anos, quase US$ 7 bilhões já foram resgatados por acionistas nas vendas de suas empresas, mais de 250 multinacionais instalaram centros de pesquisa e desenvolvimento em Israel, quatro universidades estão na lista das 150 melhores do mundo e 6 prêmios Nobel foram conquistados.
Outra coisa que chamou a atenção no modelo israelense são os seus jovens. O serviço militar é obrigatório, três anos para homens e dois anos para mulheres, onde recebem uma formação exemplar em tecnologia, disciplina, situações de combate e sobrevivência. Depois do serviço militar, a maioria dos jovens vai ‘mochilar’ pelo mundo, principalmente para a América Latina, por seis meses a um ano, para só então entrar na universidade. Imagine o resultado da combinação entre ensino de alto nível, jovens alunos maduros e experientes, com ampla visão de mundo e grande diversidade de formação, disciplina e métodos bem estruturados e capacidade de improvisar e lidar com recursos escassos. Parece que foi desenhado para formar empreendedores.
A grande questão que se coloca neste momento, absolutamente natural para qualquer nação que experimenta um ritmo de crescimento como este é: o que o futuro nos reserva? Quais caminhos a nação empreendedora deve tomar para seguir neste ritmo de alto crescimento? Com este debate, o grupo de professores explorou vários caminhos diferentes, provendo insights interessantes para os patrocinadores do encontro. Nenhum dos possíveis caminhos é determinante, mas uma coisa é certa: qualquer empreendedor sabe que o sucesso é apenas um estado; na verdade, o melhor momento para pensar em mudar e adotar novos caminhos para o crescimento. Só a história nos dirá se o povo judeu encontrou o seu caminho rumo à prosperidade, paz e tranquilidade tão almejada, repetindo a fase áurea dos três primeiros séculos da era Cristã.
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