politica evolutiva mundo laico pela separação da religião do estado por la separação de la religión del estado evolutionary secular political world ,the separation of religion from state Эволюционный светская политическая мир отделение религии от государства/العالم السياسي العلماني التطوري فصل الدين عن الدولة עולם פוליטי חילוני אבולוציונית הפרדת דת מהמדינה
quinta-feira, 31 de julho de 2014
Hamas critica líderes árabes por silêncio em relação a Gaza
Hamas critica líderes árabes por silêncio em relação a Gaza
Porta-voz do Hamas disse que silêncio de líderes árabes "é como se estivessem contribuindo com a ocupação israelense para o assassinato do povo em Gaza"
Baz Ratner/Reuters
Tanques israelenses: 100 morreram em 24 horas, elevando número de vítimas para 1.184
Gaza/Jerusalém - O Hamas criticou nesta terça-feira os líderes árabes e os acusou de serem "responsáveis" por "seu silêncio" pela morte de mais de mil pessoas na Faixa de Gaza desde o início da ofensiva israelense no território, em 8 de julho.
Leia Mais
- 31/07/2014 | Ban espera impacto mínimo de moratória para argentinos
- 31/07/2014 | Uruguai pede retirada imediata de tropas israelenses de Gaza
- 31/07/2014 | Para EUA, bombardeio a instalação da ONU é inaceitável
- 31/07/2014 | Manifestação pró-Israel reúne milhares em Paris
O porta-voz do movimento islamita na Faixa de Gaza, Sami Abu Zuhir, disse em um comunicado divulgado hoje que os líderes árabes "são responsáveis com seu silêncio, como se estivessem contribuindo com a ocupação israelense para o assassinato do povo em Gaza".
"Os líderes dos estados árabes deveriam se movimentar imediatamente e falar para resgatar as vidas das crianças de Gaza que são assassinadas a sangue frio e privadas de todos seus direitos humanitários", criticou Abu Zuhri.
Na jornada mais sangrenta desde o início da ofensiva israelense contra o Hamas em Gaza, 100 pessoas morreram nas últimas 24 horas, o que elevou o número de vítimas fatais para 1.184, segundo o último boletim de fontes médias. Com isso, a diplomacia internacional continua fracassando em suas tentativas de encerrar o conflito.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, conversou por telefone com o ministro das Relações Exteriores turco e o líder da liga árabe, segundo a agência de notícias oficial "Wafa".
Segundo as fontes, Abbas discutiu com os dois as possibilidades de um cessar-fogo e o fim dos enfrentamentos entre as milícias palestinas e Israel.
O secretário-geral do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Abed Rabbo, afirmou hoje em Ramala que as facções palestinas tinham aceitado a proposta de um cessar-fogo durante 24 horas, que poderia ser prorrogado para mais 48 horas, de acordo com um pedido da ONU.
Segundo Abed Rabbo, a proposta foi apresentada "após se estabelecer contatos e consultas com os irmãos do Hamas e da Jihad Islâmica", os dois grupos armados mais significativos na Faixa de Gaza.
No entanto, em seguida, Sami Abu Zuhri, porta-voz do Hamas em Gaza, desmentiu a informação e assegurou que a declaração de Abed Rabbo "não é certa e não reflete a postura da resistência".
Mohammed Deif, comandante geral das Brigadas de Ezedin al-Qassam, o braço armado do Hamas, reiterou em um comunicado transmitido pela televisão que não haverá nenhum cessar-fogo com Israel até que se "coloque um fim à agressão e ao bloqueio imposto sobre Gaza".
"Nossos milicianos não atacam civis, só soldados, mas os soldados sim têm como alvos civis, principalmente mulheres e crianças", denunciou o líder sob um capuz que cobria seu rosto.
Um oficial do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, negou hoje os comentários feitos pelo secretário de Estado americano, John Kerry, de que Netanyahu pediu para falar com ele sobre a possibilidade de um cessar-fogo.
"Kerry foi quem levou a opção de um cessar-fogo a Netanyahu e não o contrário", afirmou a fonte, segundo o jornal israelense "Haaretz".
"Netanyahu disse a Kerry que agora a continuação da operação do exército israelense é necessária para proteger os cidadãos israelenses e neutralizar os túneis do terror. Netanyahu acrescentou que a neutralização dos túneis seguirá até que a missão tenha terminado", afirmou o jornal. EFE
Já foi no novo site móvel de EXAME.com? Basta digitar exame.com num iPhone, iPad ou Android.
Judeus são presos em Jerusalém por agredir palestinos
Judeus são presos em Jerusalém por agredir palestinos
Os dois jovens foram espancados com barras de ferro e bastões após pedirem cigarros aos agressores
- 25
- comentários
Três jovens judeus, suspeitos de ter espancado violentamente na noite de sexta-feira dois jovens palestinos no bairro de colonização de Neve Yaakov, em Jerusalém Oriental, foram presos, anunciou nesta quarta-feira a polícia israelense.
"Um tribunal de Jerusalém deve decidir a prolongação da prisão para interrogatórios de três judeus suspeitos de ter atacado dois residentes de Jerusalém Oriental no dia 25 de julho", indicou a polícia em um comunicado.
Os dois palestinos caminhavam quando dois jovens judeus que lhes pediram cigarros pegaram barras de ferro e bastões e os espancaram violentamente, declarou uma das vítimas, ouvida pelo jornal Haaretz.
SAIBA MAIS
Após a agressão, os dois palestinos, Amir Shauiki, de 20 anos, e Samer Mahfuz, também de 20 anos, foram internados no hospital Hadasa de Ein Karem, em Jerusalém, segundo seus parentes.
O Haaretz, que publicou fotos dos dois jovens palestinos com o rosto inchado, afirmou que os policiais que chegaram ao local não haviam chamado a ambulância, o que a polícia desmentiu, explicando que os familiares das vítimas rejeitaram sua ajuda.
Em Jerusalém, os incidentes de conotação antiárabe e racista aumentaram desde o assassinato de um adolescente palestino que foi queimado vivo no dia 2 de julho por três judeus extremistas, que disseram querer vingar o sequestro e o assassinato de três jovens israelenses da Cisjordânia.
Por sua vez, todos os dias são registrados confrontos em Jerusalém Oriental anexada entre policiais israelenses e jovens palestinos que protestam contra a intervenção militar de Israel em Gaza.
quarta-feira, 30 de julho de 2014
ANTROPOLOGO JUDEU DENUNCIA GENOCIDIO DE NETANYAHU
Antropólogo judeu denuncia genocídio de Netanyahu
Texto de Marcelo Gruman intitulado “Não em meu nome” viraliza na internet e condena a tentativa de aniquilamento do povo palestino; “A sacralização do genocídio judaico permite ações que vemos atualmente na televisão, o esmagamento da população palestina em Gaza, transformada em campo de concentração, isolada do resto do mundo. Destruição da infraestrutura, de milhares de casas, a morte de centenas de civis, famílias destroçadas, crianças torturadas em interrogatórios ilegais conforme descrito por advogados israelenses”, diz ele; “Não, não são a exceção, não são o efeito colateral de uma guerra suja. São vítimas, sim, de práticas sociais genocidas, que visam, no final do processo, ao aniquilamento físico do grupo”
30 de Julho de 2014 às 09:00
247 – Um texto escrito pelo antropólogo judeu
Marcelo Gruman se tornou viral na internet. Nele, Gruman fala de suas
relações com o judaísmo e de como a sacralização do genocídio judaico
estaria abrindo espaço para que Israel aniquile o povo palestino. No
texto, ele clama aos judeus para que não aceitem mais a matança em seu
nome. Leia abaixo:
Não em meu nome
Marcelo Gruman (*)
Na minha adolescência, tive a oportunidade de visitar Israel por duas vezes, ambas na primeira metade da década de 1990. Era estudante de uma escola judaica da zona sul da cidade do Rio de Janeiro. As viagens foram organizadas por instituições sionistas, e tinham por intuito apresentar à juventude diaspórica a realidade daquele Estado formado após o holocausto judaico da Segunda Guerra Mundial, e para o qual todo e qualquer judeu tem o direito de “retornar” caso assim o deseje. Voltar à terra ancestral. Para as organizações sionistas, ainda que não disposto a deixar a diáspora, todo e qualquer judeu ao redor do mundo deve conhecer a “terra prometida”, prestar-lhe solidariedade material ou simbólica, assim como todo muçulmano deve fazer, pelo menos uma vez na vida, a peregrinação a Meca. Para muitos jovens judeus, a visita a Israel é um rito de passagem, assim como para outros o destino é a Disneylândia.
A equivalência de Israel e Disneylândia tem um motivo. A grande maioria dos jovens não religiosos e sem interesse por questões políticas realizam a viagem apenas para se divertir. O roteiro é basicamente o mesmo: visita ao Muro das Lamentações, com direito a fotos em posição hipócrita de reza (já viram ateu rezando?), ao Museu da Diáspora, ao Museu do Holocausto, às Colinas do Golan, ao Deserto do Neguev e a experiência de tomar um chá com os beduínos, ir ao Mar Morto e boiar na água sem fazer esforço por conta da altíssima concentração de sal, a “vivência” de alguns dias num dos kibutzim ainda existentes em Israel e uma semana num acampamento militar, onde se tem a oportunidade de atirar com uma arma de verdade. Além, é claro, da interação com jovens de outros países hospedados no mesmo local. Para variar, brasileiros e argentinos, esquecendo sua identidade étnica comum, atualizavam a rivalidade futebolística e travavam uma guerra particular pelas meninas. Neste quesito, os argentinos davam de goleada, e os brasileiros ficavam a ver navios.
Minha memória afetiva das duas viagens não é das mais significativas. Aparte ter conhecido parentes por parte de mãe, a “terra prometida” me frustrou quando o assunto é a construção de minha identidade judaica. Achei os israelenses meio grosseiros (dizem que o “sabra”, o israelense “da gema”, é duro por natureza), a comida é medíocre (o melhor falafel que comi até hoje foi em Paris...), é tudo muito árido, a sociedade é militarizada, o serviço militar é compulsório, não existe “excesso de contingente”. A memória construída apenas sobre o sofrimento começava a me incomodar.
Nossos guias, jovens talvez dez anos mais velhos do que nós, andavam armados, o motorista do ônibus andava armado. Um dos nossos passeios foi em Hebron, cidade da Cisjordânia, em que a estrada era rodeada por telas para contenção das pedras atiradas pelos palestinos. Em momento algum os guias se referiram àquele território como “ocupado”, e hoje me envergonho de ter feito parte, ainda que por poucas horas, deste “finca pé” em território ilegalmente ocupado. Para piorar, na segunda viagem quebrei a perna jogando basquete e tive de engessá-la, o que, por outro lado, me liberou da experiência desagradável de ter de apertar o gatilho de uma arma, exatamente naquela semana íamos acampar com o exército israelense.
Sei lá, não me senti tocado por esta realidade, minha fantasia era outra. Não encontrei minhas raízes no solo desértico do Negev, tampouco na neve das colinas do Golan. Apesar disso, trouxe na bagagem uma bandeira de Israel, que coloquei no meu quarto. Muitas vezes meu pai, judeu ateu, não sionista, me perguntou o porquê daquela bandeira estar ali, e eu não sabia responder. Hoje eu sei por que ela NÃO DEVERIA estar ali, porque minha identidade judaica passa pela Europa, pelos vilarejos judaicos descritos nos contos de Scholem Aleichem, pelo humor judaico característico daquela parte do mundo, pela comida judaica daquela parte do mundo, pela música klezmer que os judeus criaram naquela parte do mundo, pelas estórias que meus avós judeus da Polônia contavam ao redor da mesa da sala nos incontáveis lanches nas tardes de domingo.
Sou um judeu da diáspora, com muito orgulho. Na verdade, questiono mesmo este conceito de “diáspora”. Como bem coloca o antropólogo norte-americano James Clifford, as culturas diaspóricas não necessitam de uma representação exclusiva e permanente de um “lar original”. Privilegia-se a multilocalidade dos laços sociais. Diz ele:
As conexões transnacionais que ligam as diásporas não precisam estar articuladas primariamente através de um lar ancestral real ou simbólico (...). Descentradas, as conexões laterais [transnacionais] podem ser tão importantes quanto aquelas formadas ao redor de uma teleologia da origem/retorno. E a história compartilhada de um deslocamento contínuo, do sofrimento, adaptação e resistência pode ser tão importante quanto a projeção de uma origem específica.
Há muita confusão quando se trata de definir o que é judaísmo, ou melhor, o que é a identidade judaica. A partir da criação do Estado de Israel, a identidade judaica em qualquer parte do mundo passou a associar-se, geográfica e simbolicamente, àquele território. A diversidade cultural interna ao judaísmo foi reduzida a um espaço físico que é possível percorrer em algumas horas. A submissão a um lugar físico é a subestimação da capacidade humana de produzir cultura; o mesmo ocorre, analogamente, aos que defendem a relação inexorável de negros fora do continente africano com este continente, como se a cultura passasse literalmente pelo sangue. O que, diga-se de passagem, só serve aos racialistas e, por tabela, racistas de plantão. Prefiro a lateralidade de que nos fala Clifford.
Ser judeu não é o mesmo que ser israelense, e nem todo israelense é judeu, a despeito da cidadania de segunda classe exercida por árabes-israelenses ou por judeus de pele negra discriminados por seus pares originários da Europa Central, de pele e olhos claros. Daí que o exercício da identidade judaica não implica, necessariamente, o exercício de defesa de toda e qualquer posição do Estado de Israel, seja em que campo for.
Muito desta falsa equivalência é culpa dos próprios judeus da “diáspora”, que se alinham imediatamente aos ditames das políticas interna e externa israelense, acríticos, crentes de que tudo que parta do Knesset (o parlamento israelense) é “bom para os judeus”, amém. Muitos judeus diaspóricos se interessam mais pelo que acontece no Oriente Médio do que no seu cotidiano. Veja-se, por exemplo, o número ínfimo de cartas de leitores judeus em jornais de grande circulação, como O Globo, quando o assunto tratado é a corrupção ou violência endêmica em nosso país, em comparação às indefectíveis cartas de leitores judeus em defesa das ações militaristas israelenses nos territórios ocupados. Seria o complexo de gueto falando mais alto?
Não preciso de Israel para ser judeu e não acredito que a existência no presente e no futuro de nós, judeus, dependa da existência de um Estado judeu, argumento utilizado por muitos que defendem a defesa militar israelense por quaisquer meios, que justificam o fim. Não aceito a justificativa de que o holocausto judaico na Segunda Guerra Mundial é o exemplo claro de que apenas um lar nacional única e exclusivamente judaico seja capaz de proteger a etnia da extinção.
A dor vivida pelos judeus, na visão etnocêntrica, reproduzida nas gerações futuras através de narrativas e monumentos, é incomensurável e acima de qualquer dor que outro grupo étnico possa ter sofrido, e justifica qualquer ação que sirva para protegê-los de uma nova tragédia. Certa vez, ouvi de um sobrevivente de campo de concentração que não há comparação entre o genocídio judaico e os genocídios praticados atualmente nos países africanos, por exemplo, em Ruanda, onde tutsis e hutus se digladiaram sob as vistas grossas das ex-potências coloniais. Como este senhor ousa qualificar o sofrimento alheio? Será pelo número mágico? Seis milhões? O genial Woody Allen coloca bem a questão, num diálogo de Desconstruindo Harry (tradução livre):
- Você se importa com o Holocausto ou acha que ele não existiu?
- Não, só eu sei que perdemos seis milhões, mas o mais apavorante é saber que recordes são feitos para serem quebrados.
O holocausto judaico não é inexplicável, e não é explicável pela maldade latente dos alemães. Sem dúvida, o componente antissemita estava presente, mas, conforme demonstrado por diversos pensadores contemporâneos, dentre os quais insuspeitos judeus (seriam judeus antissemitas Hannah Arendt, Raul Hilberg e Zygmunt Bauman?), uma série de características do massacre está relacionada à Modernidade, à burocratização do Estado e à “industrialização da morte”, sofrida também por dirigentes políticos, doentes mentais, ciganos, eslavos, “subversivos” de um modo geral. Práticas sociais genocidas, conforme descritas pelo sociólogo argentino Daniel Feierstein (outro judeu antissemita?), estão presentes tanto na Segunda Guerra Mundial quanto durante o Processo de Reorganização Nacional imposto pela ditadura argentina a partir de 1976. Genocídio é genocídio, e ponto final.
A sacralização do genocídio judaico permite ações que vemos atualmente na televisão, o esmagamento da população palestina em Gaza, transformada em campo de concentração, isolada do resto do mundo. Destruição da infraestrutura, de milhares de casas, a morte de centenas de civis, famílias destroçadas, crianças torturadas em interrogatórios ilegais conforme descrito por advogados israelenses. Não, não são a exceção, não são o efeito colateral de uma guerra suja. São vítimas, sim, de práticas sociais genocidas, que visam, no final do processo, ao aniquilamento físico do grupo.
Recuso-me a acumpliciar-me com esta agressão. O exército israelense não me representa, o governo ultranacionalista não me representa. Os assentados ilegalmente são meus inimigos.
Eu, judeu brasileiro, digo: ACABEM COM A OCUPAÇÃO!!!
(*) Marcelo Gruman é antropólogo.
Referências bibliográficas:
CLIFFORD, James. (1997). Diasporas, in Montserrat Guibernau and John Rex (Eds.) The Ethnicity Reader: Nationalism, Multiculturalism and Migration, Polity Press, Oxford.
Vídeo:
Não em meu nome
Marcelo Gruman (*)
Na minha adolescência, tive a oportunidade de visitar Israel por duas vezes, ambas na primeira metade da década de 1990. Era estudante de uma escola judaica da zona sul da cidade do Rio de Janeiro. As viagens foram organizadas por instituições sionistas, e tinham por intuito apresentar à juventude diaspórica a realidade daquele Estado formado após o holocausto judaico da Segunda Guerra Mundial, e para o qual todo e qualquer judeu tem o direito de “retornar” caso assim o deseje. Voltar à terra ancestral. Para as organizações sionistas, ainda que não disposto a deixar a diáspora, todo e qualquer judeu ao redor do mundo deve conhecer a “terra prometida”, prestar-lhe solidariedade material ou simbólica, assim como todo muçulmano deve fazer, pelo menos uma vez na vida, a peregrinação a Meca. Para muitos jovens judeus, a visita a Israel é um rito de passagem, assim como para outros o destino é a Disneylândia.
A equivalência de Israel e Disneylândia tem um motivo. A grande maioria dos jovens não religiosos e sem interesse por questões políticas realizam a viagem apenas para se divertir. O roteiro é basicamente o mesmo: visita ao Muro das Lamentações, com direito a fotos em posição hipócrita de reza (já viram ateu rezando?), ao Museu da Diáspora, ao Museu do Holocausto, às Colinas do Golan, ao Deserto do Neguev e a experiência de tomar um chá com os beduínos, ir ao Mar Morto e boiar na água sem fazer esforço por conta da altíssima concentração de sal, a “vivência” de alguns dias num dos kibutzim ainda existentes em Israel e uma semana num acampamento militar, onde se tem a oportunidade de atirar com uma arma de verdade. Além, é claro, da interação com jovens de outros países hospedados no mesmo local. Para variar, brasileiros e argentinos, esquecendo sua identidade étnica comum, atualizavam a rivalidade futebolística e travavam uma guerra particular pelas meninas. Neste quesito, os argentinos davam de goleada, e os brasileiros ficavam a ver navios.
Minha memória afetiva das duas viagens não é das mais significativas. Aparte ter conhecido parentes por parte de mãe, a “terra prometida” me frustrou quando o assunto é a construção de minha identidade judaica. Achei os israelenses meio grosseiros (dizem que o “sabra”, o israelense “da gema”, é duro por natureza), a comida é medíocre (o melhor falafel que comi até hoje foi em Paris...), é tudo muito árido, a sociedade é militarizada, o serviço militar é compulsório, não existe “excesso de contingente”. A memória construída apenas sobre o sofrimento começava a me incomodar.
Nossos guias, jovens talvez dez anos mais velhos do que nós, andavam armados, o motorista do ônibus andava armado. Um dos nossos passeios foi em Hebron, cidade da Cisjordânia, em que a estrada era rodeada por telas para contenção das pedras atiradas pelos palestinos. Em momento algum os guias se referiram àquele território como “ocupado”, e hoje me envergonho de ter feito parte, ainda que por poucas horas, deste “finca pé” em território ilegalmente ocupado. Para piorar, na segunda viagem quebrei a perna jogando basquete e tive de engessá-la, o que, por outro lado, me liberou da experiência desagradável de ter de apertar o gatilho de uma arma, exatamente naquela semana íamos acampar com o exército israelense.
Sei lá, não me senti tocado por esta realidade, minha fantasia era outra. Não encontrei minhas raízes no solo desértico do Negev, tampouco na neve das colinas do Golan. Apesar disso, trouxe na bagagem uma bandeira de Israel, que coloquei no meu quarto. Muitas vezes meu pai, judeu ateu, não sionista, me perguntou o porquê daquela bandeira estar ali, e eu não sabia responder. Hoje eu sei por que ela NÃO DEVERIA estar ali, porque minha identidade judaica passa pela Europa, pelos vilarejos judaicos descritos nos contos de Scholem Aleichem, pelo humor judaico característico daquela parte do mundo, pela comida judaica daquela parte do mundo, pela música klezmer que os judeus criaram naquela parte do mundo, pelas estórias que meus avós judeus da Polônia contavam ao redor da mesa da sala nos incontáveis lanches nas tardes de domingo.
Sou um judeu da diáspora, com muito orgulho. Na verdade, questiono mesmo este conceito de “diáspora”. Como bem coloca o antropólogo norte-americano James Clifford, as culturas diaspóricas não necessitam de uma representação exclusiva e permanente de um “lar original”. Privilegia-se a multilocalidade dos laços sociais. Diz ele:
As conexões transnacionais que ligam as diásporas não precisam estar articuladas primariamente através de um lar ancestral real ou simbólico (...). Descentradas, as conexões laterais [transnacionais] podem ser tão importantes quanto aquelas formadas ao redor de uma teleologia da origem/retorno. E a história compartilhada de um deslocamento contínuo, do sofrimento, adaptação e resistência pode ser tão importante quanto a projeção de uma origem específica.
Há muita confusão quando se trata de definir o que é judaísmo, ou melhor, o que é a identidade judaica. A partir da criação do Estado de Israel, a identidade judaica em qualquer parte do mundo passou a associar-se, geográfica e simbolicamente, àquele território. A diversidade cultural interna ao judaísmo foi reduzida a um espaço físico que é possível percorrer em algumas horas. A submissão a um lugar físico é a subestimação da capacidade humana de produzir cultura; o mesmo ocorre, analogamente, aos que defendem a relação inexorável de negros fora do continente africano com este continente, como se a cultura passasse literalmente pelo sangue. O que, diga-se de passagem, só serve aos racialistas e, por tabela, racistas de plantão. Prefiro a lateralidade de que nos fala Clifford.
Ser judeu não é o mesmo que ser israelense, e nem todo israelense é judeu, a despeito da cidadania de segunda classe exercida por árabes-israelenses ou por judeus de pele negra discriminados por seus pares originários da Europa Central, de pele e olhos claros. Daí que o exercício da identidade judaica não implica, necessariamente, o exercício de defesa de toda e qualquer posição do Estado de Israel, seja em que campo for.
Muito desta falsa equivalência é culpa dos próprios judeus da “diáspora”, que se alinham imediatamente aos ditames das políticas interna e externa israelense, acríticos, crentes de que tudo que parta do Knesset (o parlamento israelense) é “bom para os judeus”, amém. Muitos judeus diaspóricos se interessam mais pelo que acontece no Oriente Médio do que no seu cotidiano. Veja-se, por exemplo, o número ínfimo de cartas de leitores judeus em jornais de grande circulação, como O Globo, quando o assunto tratado é a corrupção ou violência endêmica em nosso país, em comparação às indefectíveis cartas de leitores judeus em defesa das ações militaristas israelenses nos territórios ocupados. Seria o complexo de gueto falando mais alto?
Não preciso de Israel para ser judeu e não acredito que a existência no presente e no futuro de nós, judeus, dependa da existência de um Estado judeu, argumento utilizado por muitos que defendem a defesa militar israelense por quaisquer meios, que justificam o fim. Não aceito a justificativa de que o holocausto judaico na Segunda Guerra Mundial é o exemplo claro de que apenas um lar nacional única e exclusivamente judaico seja capaz de proteger a etnia da extinção.
A dor vivida pelos judeus, na visão etnocêntrica, reproduzida nas gerações futuras através de narrativas e monumentos, é incomensurável e acima de qualquer dor que outro grupo étnico possa ter sofrido, e justifica qualquer ação que sirva para protegê-los de uma nova tragédia. Certa vez, ouvi de um sobrevivente de campo de concentração que não há comparação entre o genocídio judaico e os genocídios praticados atualmente nos países africanos, por exemplo, em Ruanda, onde tutsis e hutus se digladiaram sob as vistas grossas das ex-potências coloniais. Como este senhor ousa qualificar o sofrimento alheio? Será pelo número mágico? Seis milhões? O genial Woody Allen coloca bem a questão, num diálogo de Desconstruindo Harry (tradução livre):
- Você se importa com o Holocausto ou acha que ele não existiu?
- Não, só eu sei que perdemos seis milhões, mas o mais apavorante é saber que recordes são feitos para serem quebrados.
O holocausto judaico não é inexplicável, e não é explicável pela maldade latente dos alemães. Sem dúvida, o componente antissemita estava presente, mas, conforme demonstrado por diversos pensadores contemporâneos, dentre os quais insuspeitos judeus (seriam judeus antissemitas Hannah Arendt, Raul Hilberg e Zygmunt Bauman?), uma série de características do massacre está relacionada à Modernidade, à burocratização do Estado e à “industrialização da morte”, sofrida também por dirigentes políticos, doentes mentais, ciganos, eslavos, “subversivos” de um modo geral. Práticas sociais genocidas, conforme descritas pelo sociólogo argentino Daniel Feierstein (outro judeu antissemita?), estão presentes tanto na Segunda Guerra Mundial quanto durante o Processo de Reorganização Nacional imposto pela ditadura argentina a partir de 1976. Genocídio é genocídio, e ponto final.
A sacralização do genocídio judaico permite ações que vemos atualmente na televisão, o esmagamento da população palestina em Gaza, transformada em campo de concentração, isolada do resto do mundo. Destruição da infraestrutura, de milhares de casas, a morte de centenas de civis, famílias destroçadas, crianças torturadas em interrogatórios ilegais conforme descrito por advogados israelenses. Não, não são a exceção, não são o efeito colateral de uma guerra suja. São vítimas, sim, de práticas sociais genocidas, que visam, no final do processo, ao aniquilamento físico do grupo.
Recuso-me a acumpliciar-me com esta agressão. O exército israelense não me representa, o governo ultranacionalista não me representa. Os assentados ilegalmente são meus inimigos.
Eu, judeu brasileiro, digo: ACABEM COM A OCUPAÇÃO!!!
(*) Marcelo Gruman é antropólogo.
Referências bibliográficas:
CLIFFORD, James. (1997). Diasporas, in Montserrat Guibernau and John Rex (Eds.) The Ethnicity Reader: Nationalism, Multiculturalism and Migration, Polity Press, Oxford.
Vídeo:
segunda-feira, 28 de julho de 2014
domingo, 27 de julho de 2014
segunda-feira, 21 de julho de 2014
domingo, 20 de julho de 2014
quinta-feira, 17 de julho de 2014
How it started in Gaza al jazeera
How it started in Gaza | ||||||||
PM Benjamin Netanyahu had to seek a way out of isolation.
Last updated: 12 Jul 2014 10:52
| ||||||||
| ||||||||
| ||||||||
More than 100 people have been killed in Gaza since Israel launched its aerial assault on the Strip [EPA]
| ||||||||
Beginnings matter. Questions about culpability and responsibility, about the narrow cynicism that defines so much of life in the Gaza Strip, sequence and motive - they all go to beginnings. Why are Israeli men and women battering and gnashing lives and livelihoods in that prison camp? How did it start? Why are they killing? What are they after? How will it end? The answers are embedded in our crusty beginnings. How it started In the beginning, Zionists invaded Palestine. They expelled the Palestinians and Gaza, an ancient place that hosted Ramses II, Alexander the Great, and Salahuddin, became a tent city. A wasteland for the dejected and destitute. It didn't take long for Palestinians in Gaza to begin to fight to reclaim their homes from the Ashkenazis that displaced them. The Fedayeen - refugee militiamen - commenced with overnight raids as soon as the shock of their ignominious defeat began to wear. The first Israeli massacre in Gaza occurred in 1956. My father was a small boy at the time, but he remembers how the men were rounded up and shot. Today, his grand-nephews and -nieces, also refugees, also born in camps, cower in terror as the third generation of Ashkenazis in Palestine shows them their place. Life in the shadows, balanced precariously on obsidian with fire on either side - that's their inheritance. The latest round Among Israeli elites, Gaza is everything to everyone. Israeli politicians attack Gaza to enhance their electoral appeal. They use it to muzzle the opposition, to preserve a coalition or to distract from a domestic scandal. Israeli generals like to invade to provide troops with "battle" training or to test new wares, and to debut new formations and tactics; Hamas is not Hezbollah, after all. Jewish-Israeli scientists, meanwhile, coordinate with the army to use the territory as a convenient testing ground for advanced, experimental technologies. Corporate Israel later repackages those technologies for global export. Those are the relationships - the status quo. The recent move towards Palestinian reconciliation undertaken by the Hamas and PLO leaderships, threatened to end the political - if not material - isolation of Gaza. It posed a risk to the current state of things by providing Hamas, a political movement which came to power through elections, with a means for re-entering the realm of international legitimacy. Once the Americans and Europeans agreed to recognise the new caretaker government, Israeli Prime Minister Benjamin Netanyahu began to seek a way out of his new, uncomfortable isolation. He could not attack the Palestinians solely for their political reconciliation - the Americans would admonish him for that. Nor, to his great consternation, could he convince world powers to repeal their endorsement of the new government. Desperately, he sought a way out. Restoring Netanyahu's balance It came in the form of tragedy. When the three Jewish-Israeli settler teenagers disappeared in the West Bank, the Israeli leadership claimed that they were still alive. Through its prerogative as the enforcement vehicle of Israeli apartheid, the army spent three weeks smashing into hundreds of homes and terrorising their occupants in the search for the three youths. More than 500 Palestinian men were rounded up and imprisoned as Netanyahu clamoured for the teenagers' return and inveighed against Hamas, the group he claimed kidnapped the youths. No evidence was offered. Only bluster, bombast, and fatalistic conviction delivered in a sonorous tone of voice. As Max Blumenthal has documented, it was all a shameful and cynical political show. The Israeli leadership knew within the first day of their disappearance that the youths were dead; bullet holes, blood samples and a telephone recording provided evidence of what happened. But the ever-receptive Jewish-Israeli public demanded revenge and by the time the extent of the sham was revealed, the Israelis had killed nine people in the West Bank and three more in the Gaza Strip through missiles they fired in "retaliation" for the West Bank murders. Naturally, the Palestinians availed themselves of theirright to self-defence. They used crude, unguided workshop missiles to reclaim the balance of fear that existed - thereby providing the Israeli leadership with more material for international consumption. It is now claimed that the Israeli bombardment of the Gaza ghetto had nothing to do with the murders of the three Jewish-Israeli youths. Instead, Israel is merely "responding" to Hamas' nihilistic provocations. More than a month after the reconciliation, it appears that Netanyahu has succeeded - his balance has been restored. Israelis are free to indulge in a grand delusion of self-righteousness. "No normal country could tolerate terrorists firing missiles into its urban centres," they say. "No normal country practises the crime of apartheid." "No normal country demolishes the homes of suspects… or punishes millions of people… or seeks vengeance and vengeance and vengeance in a fit of bloody wrath," we might wearily reply. Ahmed Moor is a Palestinian-American who was born in the Gaza Strip. He is a Soros Fellow, co-editor of After Zionism (Saqi Books 2012) and co-founder and CEO of liwwa.com. Follow him on Twitter: @ahmedmoor
The views expressed in this article are the author's own and do not necessarily reflect Al Jazeera's editorial policy.
| ||||||||
Source:
Al Jazeera
| ||||||||
| ||||||||
FEATURED ON AL JAZEERA
Italy struggles to deal with growing flood of migrants willing to risk their lives to reach the nearest European shores.
Israel's Operation Protective Edge is the third major offensive on the Gaza Strip in six years.
Muslims and Arabs in the US say they face discrimination in many areas of life, 13 years after the 9/11 attacks.
At one UN site alone, approximately four children below the age of five are dying each day.
HIDE COMMENTS
Content on this website is for general information purposes only. Your comments are provided by your own free will and you take sole responsibility for any direct or indirect liability. You hereby provide us with an irrevocable, unlimited, and global license for no consideration to use, reuse, delete or publish comments, in accordance with Community Rules & Guidelines and Terms and Conditions.
RELATED
Palestinian families fear Israel's night-time air strikes, as the civilian death toll soars in the Gaza Strip. ( 12-Jul-2014 )
FOCUS ON PALESTINE
WHAT'S HOT OPINIONS
VIEWED
DISCUSSED
OPINION
links de www.aljazeera.com
Russia has vowed to respond to a "dangerous escalation" of violence near its border, after a Russian man was killed and two women injured by shelled fired across the Ukraine border.
652 pontos | 602 comentários
652 pontos | 602 comentários
FEATURED
Interactive: #GazaUnderAttack
Israel's Operation Protective Edge is the third major offensive on the Gaza Strip in six years.
Assinar:
Postagens (Atom)