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sábado, 29 de maio de 2021
Arquiteto, sobrinho de Jaime Lerner diz que tio deixou 'legado mundial' por gestões humanas e transformadoras
Arquiteto, sobrinho de Jaime Lerner diz que tio deixou 'legado mundial' por gestões humanas e transformadoras
Lerner, ex-governador do Paraná, morreu na quinta-feira (27) aos 83 anos; ele foi três vezes prefeito de Curitiba e era um dos urbanistas mais conceituados do país.
Por Natalia Filippin, G1 PR — Curitiba
28/05/2021 05h30 Atualizado há um dia
Jaime Lerner tinha 83 anos e era um dos urbanistas mais conceituados do país — Foto: Arquivo/RPC
Jaime Lerner tinha 83 anos e era um dos urbanistas mais conceituados do país — Foto: Arquivo/RPC
As boas ideias e a ousadia foram combustíveis para que as obras de Jaime Lerner, que morreu na quinta-feira (27), ficassem marcadas para sempre em Curitiba e no Paraná. Mas, quem seguiu a mesma profissão do tio, de arquiteto e urbanista, afirma que as gestões humanas e transformadoras do político serviram de modelo para todo o mundo.
"Ele sempre pensou em fazer para a população, para deixar um legado para o povo no presente e no futuro. Era mobilidade, cultura, meio ambiente, ele cuidava de cada detalhe. Pensando no seu local, na sua cidade, no seu estado, mas com a mente aberta, indo na contramão de ideia batida, ele trabalhou, criou e deixou um legado mundial", diz o sobrinho Milton Naigeboren, de 52 anos.
Foi com a profissão somada à dedicação que Jaime Lerner trilhou os caminhos até a vida pública: foi três vezes prefeito de Curitiba e duas vezes governador do Paraná.
"Recentemente, toda vez que a gente estava fazendo um projeto ele olhava e falava: 'não há uma segunda chance para uma primeira boa impressão'. Ele ensinava demais e acredito que, além da inteligência e criatividade, ele também teve muita coragem em seus projetos", pontua o sobrinho.
Em 2002, Jaime Lerner e o sobrinho Milton Naigeboren, em Berlin — Foto: Arquivo pessoal
Em 2002, Jaime Lerner e o sobrinho Milton Naigeboren, em Berlin — Foto: Arquivo pessoal
Veja FOTOS da trajetória
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Preservação da memória
Lerner é considerado um dos paranaenses mais importantes da história do estado pela carreira ímpar de planejamento urbano, preservando e valorizando as histórias e as culturas locais. O maior feito, que o deixou conhecido internacionalmente, foi a adoção do sistema de transporte de BRT, instalando canaletas exclusivas para ônibus e terminais integrados por Curitiba.
"A cidade cresceu em função do transporte, foi desenhada a partir disso. Ele revolucionou o transporte, mas também deixou legados importantíssimos de preservação da memória porque antes não existia uma lei que preservação os edifícios. Jaime preservou o Paiol de Pólvora e transformou no símbolo da cultura. Ele transformou a cidade com essa questão do patrimônio. A cidade estava em um período de expansão, com ruas abrindo, então, se não fizesse isso naquele momento a gente dificilmente teria algum imóvel preservado", conta Naigeboren.
Durante essa inauguração do Teatro Paiol, na década de 70, o político chegou a compor uma música com Vinícius de Moraes, chamada "Malandro de araque".
Teatro do Paiol, em Curitiba — Foto: Arquivo/IPPUC
Teatro do Paiol, em Curitiba — Foto: Arquivo/IPPUC
Na contramão
Na onda do planejamento urbano da capital paranaense, Lerner teve a oportunidade de concretizar outras ideias consideradas ousadas para a época.
"Ele fez o primeiro calçadão do Brasil. Só o fato de ele fechar a Rua das Flores já foi um ato corajoso. Os comerciantes não queriam. Mas, depois foi um case de sucesso. Na época em que o carro era novidade, Jaime começou a pregar ao contrário, de primazia aos pedestres. Ele falava que tinha que ter uma densidade, um uso misto, senão não havia mobilidade de verdade", lembra Naigeboren.
A Rua das Flores, mais conhecida atualmente como XV de Novembro, virou referência em diversas cidades do mundo. Em Curitiba, ela virou ponto turístico, de encontro, de comércio e também foi palco de momentos importantes da história do país, com grandes protestos.
Calçadão da Rua XV de Novembro — Foto: Letícia Paris/G1
Calçadão da Rua XV de Novembro — Foto: Letícia Paris/G1
Cartões postais
O fechamento de uma rua bem no Centro de uma capital inaugurou uma série de obras que viraram cartões postais no Paraná.
Jaime Lerner projetou diversos parques, como o Barigui, Ópera de Arame, Jardim Botânico, São Lourenço, Tingui e Tanguá. Além da Rua 24 horas, que se tornou um ponto comercial e turístico.
"A questão dos parques que ele criou, não era só um parque de lazer, era um projeto de saneamento. Quer dizer, tinha a bacia do Rio Barigui, era um local de enchente, então ele falou: 'vamos fazer um parque aqui'. Às vezes até aparece matéria dizendo que a ponte está com água, que o parque está alagado. Mas, é para acontecer isso mesmo, para drenar e absorver devagarinho a água da chuva, para o rio ter para onde transbordar. Hoje, são grandes cartões postais, mas que também servem para o funcionamento da cidade".
Fechamento da Rua XV inaugurou série de obras que viraram cartões postais — Foto: Divulgação/Prefeitura de Curitiba
Fechamento da Rua XV inaugurou série de obras que viraram cartões postais — Foto: Divulgação/Prefeitura de Curitiba
Com o olhar para a criação de espaços de encontro, o arquiteto e urbanista também realizou obras importantes no interior do Paraná, como o programa "Velho Cinema Novo" que reativou cinemas antigos abandonados; a Vila Olímpica em Maringá; o calçadão de Londrina; Canal da Piracema, considerada a maior "escada" de peixes do mundo; entre outros projetos.
"As equipes dele sempre foram afinadas, trabalhavam realmente em grupo, eram criativas. Não havia internet, nem informações como tem hoje, mas Jaime trazia seus ensinamentos e conceitos que modificavam os locais e deram nova função", pontua o sobrinho.
Por influência de Jaime Lerner, cidades do interior do Paraná receberam obras inovadoras
Inauguração do Parque Iguaçu, na década de 80; Jaime Lerner de camisa azul e o sobrinho Milton de camiseta preta — Foto: Arquivo pessoal
Inauguração do Parque Iguaçu, na década de 80; Jaime Lerner de camisa azul e o sobrinho Milton de camiseta preta — Foto: Arquivo pessoal
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